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Maratona 1/4



Manuela

Só para deixar registrado aqui : eu odeio cemitérios, velórios e qualquer coisa que envolva morte.

Me lembro muito bem de quando perdi meus pais, do velório onde tantas pessoas que eu nunca se quer tinha visto na minha vida vieram me abraçar e dizer que meus pais eram pessoas incríveis e que lamentavam minha perda.

Na realidade tudo o que me falaram foram somente isso: palavras.

Não acredito que alguma daquelas pessoas realmente se importava tanto assim com a minha dor, não acredito que elas sabiam o que eu estava passando e que entendiam o meu luto.

Ouvi minha tia Inês dizer no dia do enterro dos meus pais para uma amiga dela, que eu não sentiria tanta falta da minha mãe como ela sentiria da irmã caçula dela.

Que a minha dor era menor que a dela.

Foi aí que eu me perguntei: quando foi que inventaram uma forma de medir a dor de cada um? Como eu posso dizer que a minha dor é maior ou menor do que a sua? Se eu sequer passei por algo parecido.

Eu senti somente a minha dor, não as dos outros. Assim como os outros nunca sentiram as minhas.

Saio dos meus pensamentos quando escuto o padre dizer as últimas palavras.

Observo o caixão ser colocado com cuidado dentro da cova.

Algumas pessoas jogam flores brancas por cima da caixa de madeira avermelhada.

O dia nublado e sem vida combina com a tristeza dos familiares e amigos que perderam alguém que amavam.

Ouço ao meu lado os soluços da mulher que é mãe da pessoa que agora está morta, e por um momento me lembro dos meus próprios soluços causados pelo meu choro quando vi meus pais sendo enterrados.

MT: Tu não precisava ter vindo.

Se aproxima de mim e sussurra no meu ouvido.

Manu: Eu sei, mas não queria te deixar sozinho aqui.

MT: Obrigado por isso.

Manu: Você está bem mesmo? Parece abatido.

Matheus está com hematomas pelo rosto braços e pernas.

No acidente ele não se machucou tanto. Mesmo tendo atravessado o parabrisa a única coisa maior foi a pancada na cabeça e os cortes na barriga.

MT: Não vi o sinal vermelho por estar no celular e causei um acidente, onde um moleque de 15 anos morreu por minha culpa. Pela minha irresponsabilidade. Estou acostumado a matar pessoas por motivos sérios e outros nem tanto. Mas nunca vou me acostumar a ver uma criança morrendo. Ainda mais por culpa minha.

Manu: Tu não teve culpa, não foi porque quis.

MT: A culpa foi minha sim Manu, eu deveria ter largado aquela porcaria de celular e prestado atenção na estrada. Nada disso era pra ter acontecido. Essa mãe não deveria estar enterrando o filho dela dessa forma.

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