𝑲𝒆𝒊𝒋𝒊

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Durante todo o caminho, uma sensação incômoda me acompanhava, como se eu estivesse sendo observado

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Durante todo o caminho, uma sensação incômoda me acompanhava, como se eu estivesse sendo observado. Era como o olhar de um lobo, escondido entre as sombras, aguardando o momento certo para atacar. Resolvi parar a carroça, tentando escutar algo além do som das rodas e do vento. Ao longe, uma silhueta alta com cabelos longos chamou minha atenção, próxima ao Lago Negro. Os ventos sopravam mais fortes, agitando as folhas das árvores, enquanto um som gutural de uma matilha ecoava. Meu cavalo começou a se agitar.

"Calma, garoto. É só o vento." Minha voz saiu mais como uma tentativa de me acalmar do que a ele. Relutante, voltei a conduzir a carroça, ansioso para chegar em casa antes do anoitecer. A noite tinha cheiro de tormenta.

Quando finalmente cheguei, lavei o rosto e aqueci as sobras de carne de cabra do dia anterior. A fome não era muita, mas era melhor comer algo do que ficar com o estômago vazio. Não estava com sono, então sentei na cadeira de balanço para pensar. Lembrei das histórias que minha mãe costumava contar. As palavras dela pareciam me acompanhar mesmo depois de tanto tempo. Com o corpo embalado pelo ritmo da cadeira, acabei adormecendo sem perceber.

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Um sussurro cortou o silêncio.

"Está no lago..."

Minha mente girava em confusão. "O que está no lago? Onde você está?" Olhei ao redor e me deparei com o Lago Negro. Mas algo estava errado. A água, geralmente espelhada e calma, estava tingida de vermelho como sangue. Um arrepio percorreu minha espinha. Por que estou aqui?

"Está no fundo do lago!" A voz feminina repetia, grave e aguda, como um eco que aumentava a cada repetição. "Está no lago, no fundo do lago! ESTÁ NO LAGO!"

O grito reverberou, fazendo meus ouvidos zumbirem. Tentando localizá-la, dei alguns passos em direção à margem, mas perdi o equilíbrio e caí na água gélida.

Lutei para subir à superfície, mas algo me puxava para baixo. Meus olhos, involuntariamente, se fixaram no fundo. Entre as algas, vi algo que parecia uma madeira velha, mas com um formato estranhamente humano. Um corpo? Não podia ser...

Acordei num sobressalto, o coração batendo como um tambor. Estava encharcado, meu peito arfando por ar, e minha mão esquerda sangrava por um corte recente. Aquilo não foi apenas um sonho. Era o evento mais real que já vivenciei. Um espírito. Nunca o tinha visto antes, mas sabia que não iria descansar até que eu descobrisse o que o prendia naquele lugar.

Ainda ofegante, ouvi uma batida na porta. Troquei a roupa molhada por algo seco antes de atender.

"Olá?"

"Encomenda para o senhor Keiji Hiroshi."

Aceitei o envelope, agradeci ao entregador e o abri imediatamente.

"Querida Garça,
Não se esqueça de me encontrar. Ontem não disse o local porque estava indecisa, mas me encontre no Bosque das Árvores Gêmeas. Vá o mais bonito possível, por favor.
Ass.: Akiko"

Suspirei, incrédulo. Ela realmente estava falando sério sobre o encontro. Achei que fosse apenas da boca pra fora. Como poderei ir a um encontro com uma jovem prometida, filha de um político, ainda por cima? As coisas só pioram neste mês.

Guardei a carta, tentando ignorar o peso do pedido, e fui até o depósito. Percebi que o estoque de lenha estava baixo. Peguei o machado e uma espingarda, caso cruzasse com algum animal no caminho, e fui para a floresta.

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O machado descia com força, mas meu corpo parecia mais lento. Por mais que eu mantivesse hábitos saudáveis, ultimamente me sentia cansado demais. Como se algo estivesse drenando minha energia. Desde o encontro com a mulher no lago, minha vitalidade parecia escapar por entre os dedos. Era espiritual? Ou apenas psicológico?

Enquanto cortava uma árvore, um cheiro nauseante atingiu meu nariz. Tapei-o com os dedos, procurando a origem do fedor. "Algum animal morto, provavelmente." Resmunguei, afastando-me para não vomitar.

De volta em casa, o relógio parecia correr contra mim. O encontro. Tentei me convencer de que não deveria ir, mas sabia que, se não aparecesse, Akiko não me deixaria em paz. Imaginei-a enviando outra carta ou, pior, batendo à minha porta. Baguncei os cabelos em frustração e fui tomar banho.

Enquanto a água fria escorria pelo meu corpo, meus pensamentos se dividiam entre o peso do encontro com Akiko e o mistério no lago. O que ela quer comigo? E o que aquele espírito está tentando me mostrar?

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The dead rosesOnde histórias criam vida. Descubra agora