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Maraisa

A semana passou voando, eu mal vi, não tive noticias das entrevistas que fiz a alguns dias mas fiz mais duas e estou tentando ter esperança, o Síndico que também é dono do apartamento onde eu moro me manda mensagens todos os dias me lembrando de que meu prazo está acabando.

Fernando tem vindo todos os dias, então posso dizer que nós tornamos amigos, nos abrimos muito um com o outro, e no fim ele sempre me dá uma carona pra casa, fora que ele foi muito gentil em estar tentando achar meu pai, mesmo que não tenha tido nenhum sucesso ainda.

Limpo o balcão do bar, onde eu tinha deixado cair um pouco de Vodka, depois me sento no banquinho, pontualmente às 22:30 como todos os dias o Fe chega e se senta no banquinho.

-boa noite Fe, vai querer algo ? - pergunto

-Boa noite Mara, hoje não, mas queria conversar sobre algo com você

-ah claro, pode falar, hoje tá bem tranquilo aqui - sorrio

-na verdade queria fazer algumas perguntas, se importa ? - nego

-quantos anos você tem ?

-19, acho que nunca perguntei também a sua idade - digo tentando buscar na memória

- tenho 30 Mara - ele sorri - tem alguma doença crônica, vícios, faz uso de medicamento controlado?

Encaro ele confusa tentando entender onde isso vai dar

- pra todas as perguntas é não, sou bem saudável na real

-qual seu tipo sanguíneo ? Tem namorado? Algum parceiro?

-O negativo, sem namorados peguete e afins -digo-depois dessa entrevista espero ser contratada em - brinco antes de me afastar para atender um pessoal

-sabe a ideia que você me deu sobre barriga de aluguel? - pergunta e eu confirmo -eu pesquisei muito essas semana, visitei algumas clínicas e percebi que é muito viável pra mim

-nossa Fe, que ótimo, isso é realmente muito bom, mas o que isso tem haver com a sua pequena entrevista?

Ele respira fundo como se precisasse de coragem pra dizer o que vai dizer

- eu quero que você seja minha barriga de aluguel

-eu? Por que?

-eu não confio em ninguém, não quero inseminar e dar dinheiro a uma desconhecida - encaro ele com a sobrancelha erguida já que sou praticamente uma desconhecida -eu confio parcialmente em você, você é uma menina bacana, não é interesseira, é linda.

-Fernando isso é loucura, nós conhecemos a uma semana, e acredite eu não vou transar com você

-não precisa ter nada íntimo comigo, eu não te pediria algo assim, podemos fazer inseminação eu pesquisei, só precisamos fazer alguns exames e seguir alguns passos

-olha a minha situação, eu não consigo arrumar um emprego nem sem estar grávida imagina grávida, eu não tenho condição de manter essa criança dentro de mim - suspiro - tem dias que nem eu me alimento o necessário, imagina comendo por duas

-ei eu quitaria suas dívidas, pagaria todas as despesas com médicos, o procedimento, maternidade, te daria um suporte financeiro esses nove meses, não precisa se preocupar com isso

Suspiro me afastando pra atender mais um pessoal, essa conversa tá!muito doida.

-olha eu não sou esse tipo de mulher, eu não quero nada que é seu, fora que eu vou me sentir como se estivesse vendendo uma criança é isso não é certo - respiro fundo me sentando eu nem sei se tenho psicológico pra gerar um filho, eu só não to pronta pra isso

Ele sorri triste e segura minha mão

- tudo bem, também eu tô pedindo coisa demais né, mas esquece isso, eu vou arrumar um jeito.

-desculpa, eu só não posso, entende?

-eu entendo, tá tudo bem - ele sorri fraco mas vamos falar sobre você, teve alguma sorte com entrevistas?

-infelizmente não, é difícil arrumar emprego sem graduação e sem experiência suficiente, ainda mais tendo pouca idade assim

-eu entendo, o mercado hoje em dia tá muito concorrido, eu até vi com alguns conhecidos mas ninguém tava contratando pra secretaria ou copeira

-obrigada por tentar, meus dias estão acabando, o que eu ganho aqui não dá pra pagar a dívida assombrosa que meu pai deixou e pagar os aluguéis e outras contas - suspiro me afastando pra atender.

- e o que você vai fazer? - ele pergunta quando eu volto

-esperar por um milagre, eu já entreguei pra Deus, se de tudo não conseguir eu viro uma fugitiva sem teto, mas eu não vou pra um prostibulo nem arrastada

-como assim?

Respiro fundo me dando conta de que talvez não tenha contado tudo sobre essa dívida que eu tenho

- meu pai sumiu por que estava devendo muito dinheiro ao agiota, essa parte você sabe, mas a dívida passou pra mim e se eu não quitar ela o cara lá vai me levar para o prostibulo dele pra trabalhar e pagar a dívida - seco rápido uma lágrima que cai

-quem é esse cara ? - ele pergunta parecendo bravo

-não sei o nome ou o rosto, eu sempre trato as coisas com um intermediário, acho que nem meu pai sabe de fato quem esse cara é, essas pessoas agem através de intermediários, nas sombras, ninguém nunca viu a cara dele

-Mara eu posso te ajudar, me deixa pegar os aluguéis atrasados, até que você consiga achar outro emprego.

-não precisa Fe, obrigada, eu não me sentiria bem com isso, mas fico feliz em saber que posso contar com você, e também eu não posso dever mais ninguém

- você não ia me dever nada, eu quero te ajudar como um amigo, é muita coisa pra você sozinha e você é muito nova

-não se preocupa, eu vou dar um jeito, eu sempre dou - sorrio

🫀

Conversamos mais um pouco, claro assuntos mais leves, eu senti que Fe ficou um pouco incomodado com essa história.

-Hora de ir, vamos? - pergunto

-Vamos - ele sorri de lado

Passamos pra ele pagar a comanda como toda noite mesmo que hoje ele só tenha bebido um suco, depois fomos pro carro, eu observei Fernando enquanto dirigia, ele é muito bonito, muito doce, e educado, com certeza em outra situação eu aceitaria namorar com ele, e claro não faria o que a cachorra da ex noiva dele fez, eu sei que conheço ele a uma semana mais sei que ele é uma pessoa incrível, e só uma doida perderia um cara como ele.

Percebi também que ele ficou bem triste, essa semana conversando com ele me fez perceber o tamanho da vontade dele de ser pai, e imagino que ele seria um paizão.

Fico imersa nos meus pensamentos, quando vejo, já estamos na porta de casa.

-Você poderia me passar seu numero? - ele pede e eu confirmo, ele entrega o celular e eu digito.

-Desculpa ter te decepcionado, é só muita responsabilidade

-Não me decepcionou Mara, foi uma ideia maluca - ele sorri fraco - se tiver que acontecer vai acontecer

-Boa noite - digo beijando sua bochecha

-Boa noite

Saio do carro, fazendo minha rotina de sempre, banho, comer algo e me jogar na cama, olho o celular e vejo uma mensagem do Fernando.

"obrigada por nossas conversar, você é uma ótima amiga"

Sorrio "você é incrível Fe"

Depois de responder a mensagem, fecho meus olhos e me entrego ao sono.

BARRIGA DE ALUGUEL -adaptação Onde histórias criam vida. Descubra agora