Capítulo 1: Ele voltou.

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Valencia


Desço do carro e me deparo com uma enorme construção antiga. A casa em minha frente, parece mais uma igreja abandonada do que uma instituição para crianças. Papai falou que iríamos visitar o lugar para ver se estava em boas condições, já que a minha mãe teve a ideia de iniciar um projeto para ajudar crianças e adolescentes, que precisam de acolhimento e proteção.

Meu pai se aproxima, segurando um envelope branco, dobrado, e logo em seguida, o guarda dentro do bolso de seu terno. Ao olhar para o objeto, a curiosidade quase me fez perguntar o que havia dentro, mas sei que seria uma péssima ideia se eu o fizesse.

- Vamos terminar logo com isso.
Ele segura minha mão e me guia até a escada, que leva para a entrada daquele lugar tenebroso. Os seguranças começam a nos seguir, mas meu pai faz um sinal com a mão para que eles esperem do lado de fora.

Ao passarmos pela porta, encontro um lugar ainda mais sombrio por dentro. Uma mulher vestida de freira, surge, ao fim do corredor, caminhando em nossa direção com passos tranquilos. É bastante longo e precisamos andar um pouco para alcançá-la. O lugar está tão silencioso, que é possível ouvir cada passo que dou com as minhas sapatilhas rosa sobre o piso polido. Aqui deveria estar cheio de crianças correndo e brincando, mas está completamente vazio.

- Onde estão as crianças, papai?

- Elas devem estar estudando.

Seus olhos cruzam com os meus e, por um momento,penso que está mentindo. Mas excluo essa ideia da minha cabeça. Porque ele mentiria?

- Como vai, Senhor Ferrante?

Ele estende a mão para cumprimentá-la e, no mesmo instante, lhe ofereço um sorriso educado. Mas sua atenção está completamente em meu pai no momento que retira o envelope do bolso e entrega em suas mãos. Começo a observá-la, e pelas rugas imensas que cobrem os seus olhos, por trás do óculos estilo fundo de garrafa, é bem provável, que já tenha idade suficiente. Não consigo ver a cor de seu cabelo, por causa do véu azul marinho,que esconde metade de sua cabeça, porém, um crusifixo de cor prata, pendurado em seu pescoço, prende minha atenção.

Ela percebe que a estou encarando, e me olha de cima a baixo de forma não muito educada. Fico um pouco sem graça, então desvio o olhar e me concentro em qualquer coisa ao meu redor.

- Não se preocupe, senhor. Irei cuidar muito bem desse assunto.

Meu pai agradece e se despede. Faço o mesmo e começo a segui-lo. A mulher se oferece gentilmente para nos acompanhar até a saída, mas quando estamos a poucos passos da porta, um ruído de frustração sai da boca dele.

- Mas que merda.

- Não usamos esse tipo de palavreado aqui, senhor. - Ela o repreende.

- Perdoe-me, mas lembrei de algo que esqueci no carro, mas eu não vou demorar. Você pode ficar uns minutos com a senhorita... -Meu pai olha para a freira, que obviamente não nos apresentou o seu primeiro nome.

-Milligan. - Ela responde com um sorriso discreto no rosto.

- Certo, eu não demoro.

Ele caminha para fora, e me deixa a sós com ela.Eu não me importaria de ficar esperando no carro. Confesso, que seria muito melhor do que ficar aqui nesse lugar triste e solitário. Vejo as paredes brancas e limpas,que nos cercam e, não tem nenhum quadro pendurado, muito menos desenhos, ou qualquer sinal de que crianças habitam esse lugar.

- Por que a senhorita não espera o seu pai em minha sala? - Ela oferece com toda gentileza em sua voz.

A senhorita Milligan deve ter percebido a minha impaciência, então não me resta outra opção a não ser aceitar. A acompanho de volta para o centro da casa, que para o meu incômodo não tem uma entrada de ar natural. As janelas estão fechadas, pelo menos todas as quatros que consigo avistar.

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