Atração - Narusasu.

Capítulo 1

Lá estava ele, imerso naquele caderno como se tivesse uma mulher nua estampada no meio das palavras, sempre ignorando todo mundo como se fosse incrível e inteligente. Garoto babaca.

— Professor Iruka, o Naruto está parado — disse Sasuke, me encarando.
— Naruto! Continue esfregando! Só vai para casa depois de tirar toda essa tinta das paredes.
— EU SÓ ESTAVA RESPIRANDO UM POUCO.
"Desgraçado, boca larga, dedo-duro, pilantra, maldito, língua afiada, cabeça... cabeça de... de borracha", pensei ao ver um pequeno sorriso se formar nos lábios do Uchiha. Aposto que ele está se divertindo com isso.

Como vim parar nessa situação? Bom, hoje de manhã fiz uma pintura divertida na parede, antes de todos chegarem na sala. Mas acho que não estava sozinho, porque a primeira coisa que Sasuke fez quando o professor chegou foi me dedurar. Agora estou esfregando a parede como um condenado. Na saída ele vai ver o que é bom. Falando em saída, lá estava o sinal tocando, todas as crianças guardando suas coisas na mochila e saindo.

— Uchiha! Se você é homem suficiente, me espere atrás da escola!
— Tchau, Naruto.
— Naruto, você não vai brigar atrás de lugar nenhum, limpe isso e vá direto pra sua casa! Estou de olho.

Naquela época, tínhamos o quê? Treze anos? Eu era novo demais para ser um homem de verdade. Talvez a falta de uma figura paterna tenha sido a maior responsável pela minha falta de perspectiva. Naquele tempo, eu odiava o Sasuke com todas as minhas forças. Ele era mais alto, mais popular, mais bonito, e olha que eu sou loiro de olhos azuis!

Costumava criar competições na minha cabeça e sempre queria ser melhor do que ele. Isso até eu perceber que Sasuke parou de crescer, começou a se isolar, ficou mais recatado, sei lá. Já éramos grandinhos demais para ficar brigando, ou talvez eu só tenha conseguido o que queria. Virei amigo de todo mundo, fiquei popular com as garotas e, cá entre nós, um metro e noventa é uma altura boa pra caralho.

Sasuke parou no um metro e setenta, virou um emo chato e não conversava com ninguém. Era como se o universo tivesse nos transformado em versões completamente opostas de nós mesmos. E, como o universo gosta de brincar, meu ódio se transformou em uma espécie de atração. Gosto de como ele passa o cabelo para trás da orelha quando está lendo, gosto de como ele revira os olhos quando me vê chegando perto. Acho lindo o formato dos seus olhos e aquela palidez que me fazia questionar sua saúde...

Não sei como aconteceu, talvez depois da puberdade eu tenha descoberto que gosto mais de meninos do que de meninas, ou até que gosto apenas de meninos. A atração que sinto pelo Uchiha conseguiu ser mais forte do que a que sentia pela Sakura aos treze anos.

— Naruto! Hoje à noite, né? — Kiba disse, dando um tapa nas minhas costas.
— Claro, já até comprei um fardo de cerveja.
— Não se faz vinte anos todo dia, né?

Era meu aniversário de vinte anos. Chamei o pessoal da antiga escola e os amigos da universidade. Só faltava chamar ele, mas todos sabíamos que ele ia recusar, então precisava fazer isso com jeitinho. Por isso até penteei o cabelo.

— Você passou perfume? — Kiba disse, torcendo o nariz. — O que você tá planejando?
— Vou chamar ele pra festa.
— Ele vai dizer "não".
— Você é encorajador demais, né? — falei, me olhando no reflexo da janela enquanto ajeitava o cabelo.
— Não é por maldade, mas você sabe que ele te odeia, né? Capaz dele cuspir na sua cara.
— Isso é apenas sua teoria. Ele vai aceitar.
— Melhor correr, antes que ele fuja — ele apontou pela janela, e então reparei que Sasuke estava indo embora.

Corri pelos corredores, desesperado para alcançá-lo antes que ele sumisse.

— SASUKE! — gritei em sua direção. Ele se virou para me ver e reparei que iria virar e continuar andando, mas eu o alcancei a tempo.
— Que foi, Naruto?! — ele perguntou, me olhando de cima a baixo. Adoro quando ele faz isso.
— Hoje é meu aniversário — fiz uma pausa para respirar.
— Meus parabéns — ele tentou se virar, mas eu me coloquei de volta à sua frente.
— Obrigado. Bom... vai ter uma festa lá em casa — passei a mão no cabelo para arrumar, já que a correria tinha me despenteado.
— Parabéns — ele revirou os olhos, e então eu sorri.
— Seria legal se você fosse — ele franziu as sobrancelhas e seu rosto ruborizou.
— Não seria, não.
— Ah, dá uma chance. Vai ser só um grupinho de pessoas, vai ser legal — acrescentei, e ele negou com a cabeça.
— Sasuke, você me faria tão feliz se fosse — tentei jogar um charme, e ele bufou.
— Vou pensar no seu caso. Agora sai da minha frente.