00: Prólogo

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No meu aniversário de dezessete anos, decidi namorar a minha melhor amiga.

Não foi a decisão mais romântica do mundo — certamente nós dois éramos um tanto quanto desajeitados durante a adolescência —, mas foi logo após o nosso primeiro beijo. Na ocasião, não existiram palpitações no coração, muito menos um frio na barriga. Eu me sentia estranho, e nós ficamos olhando um para o outro por alguns segundos antes de confessarmos a curiosidade que tínhamos de estar com outra pessoa.

— Ji, você já beijou alguém?

A voz de Inah era tão curiosa, o que me fez engolir em seco, usando de toda a minha força de vontade para não virar o rosto e fugir da pergunta. A timidez sempre me tomava ao pensar na minha falta de experiência, e isso me fazia mudar de assunto ao escutar perguntas indiscretas, mesmo quando essas partiam da minha melhor amiga. Só que nesse dia algo parecia diferente.

Estávamos matando aula para comemorar o meu aniversário e, após nos divertirmos em uma sorveteria, Inah havia sugerido que fôssemos para a casa dos pais dela, já que ambos estavam trabalhando naquele horário. Assim, sabendo que não seríamos interrompidos, deitamos um de frente para o outro na cama de solteiro do quarto dela, até que apenas uma pequena distância existisse entre nós. Meus olhos percorreram o pedaço de pele exposto abaixo da saia da garota; a peça do uniforme escolar dela havia subido um pouco quando sentamos e era difícil não reparar.

— Você sabe que não, Inah — respondi, ficando imóvel quando reparei em sua atenção desviando-se para a minha boca. — Só falo com você. Em que momento eu ficaria com alguém?

— Não sei, só fiquei curiosa. Às vezes fico imaginando como é a sensação, sabe? De beijar alguém. Boa parte da nossa sala já fez de tudo! Enquanto isso, cá estamos nós dois: mais virgens impossível! — retrucou, a entonação da voz denunciando a frustração que sentia.

— Ultimamente também penso sobre isso.

Inah pareceu satisfeita, sabendo que havia fisgado a minha atenção.

— Ji, eu tive uma ideia...

Ela estava tão perto que eu podia sentir sua respiração bater no meu rosto.

— E se a gente se beijasse? — sugeriu, o que me deixou admirado com a forma como ela parecia tão corajosa ao propor algo assim tão diretamente.

— Você e eu?

— Sim. Não quero ficar com qualquer garoto só pra descobrir como é. E se eu beijar horrivelmente? O idiota pode espalhar pra todo mundo que eu beijo mal! — Arregalou os olhos ao explicar sua linha de pensamento. — Tudo isso me leva a pensar que você é a melhor opção. É o meu melhor amigo, então não me magoaria, certo?

— Pensando bem, faz sentido. E como a gente faz isso, então?

— Não é óbvio? Encosta a boca na minha, ué!

— Isso eu sei, só queria saber como começar. Devo colocar a língua de primeira ou não? Isso me deixa confuso.

Revirando os olhos com a minha lerdeza, Inah segurou meu rosto, roçando nossos lábios. Apesar do susto, tentei não me afastar, decidido a experimentar mais antes de formar alguma opinião sobre o que estávamos fazendo. No fim, acabou sendo uma sensação esquisita. O beijo foi meio apressado e babado, e nós ficamos com vontade de rir assim que nos separamos.

— Achei que seria melhor. — Decidi quebrar o silêncio. Inah pareceu aliviada por eu ter dito algo.

— É, também não achei nada surpreendente. Beijar é realmente superestimado — concluiu ela.

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