01: O vídeo

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A família da minha namorada tinha um jeito de pensar um tanto quanto... tradicional.

Católicos fervorosos, eles iam à igreja todos os domingos. Isso porque, como dizia Haewon, mãe de Inah, participar da Santa Missa era um dever de todo bom cristão. O que, usando palavras não tão bonitas, significava que ela acreditava que todo mundo que não cumprisse essa obrigação iria para o inferno. Assim, por causa de Haewon, todos os membros da família Min precisaram aprenderam desde cedo a importância de receber o sacramento da eucaristia, confessar-se ao menos uma vez ao ano, assim como outros mandamentos da Santa Igreja Católica, os quais eu nunca decorei completamente por sempre cochilar durante o catecismo.

Deus me perdoe, mas tudo sempre me pareceu tão entediante!

Nunca fui muito de ter fé, mas religião era uma grande coisa para meus sogros. Haewon era tão séria sobre o que julgava correto que quando soube que sua filha e eu iríamos morar juntos antes do casamento passou três meses sem falar conosco.

Ela considerava um absurdo que não quiséssemos oficializar nosso relacionamento através do matrimônio, mas quando percebeu que não poderia fazer nada para mudar a decisão que tomamos, precisou aceitar. Inah já era uma adulta e fazia as próprias escolhas afinal. Além disso, na tentativa de apaziguar os ânimos, minha namorada e eu prometemos que iríamos acompanhá-la ao menos uma vez ao mês até a igreja. Por mais que não fosse religioso, eu realmente não me importava com esses encontros ocasionais desde que melhorassem nossa convivência.

Assim, o último domingo do mês sempre era o dia de reunir a família. Geralmente eu dormia durante a missa — novamente, que Deus me perdoe —, então Inah batia com o cotovelo no meu braço nas vezes em que seus pais olhavam torto na nossa direção. Nesses momentos, eu ficava com os olhos esbugalhados para me forçar a ficar acordado até o fim da manhã, quando íamos todos almoçar na casa dos meus sogros.

Ir até a residência dos Min depois de sair da igreja era bizarro, porque eu lembrava de todas as vezes que Inah e eu matamos aula ali, na época da adolescência. De certa forma, a casa era opressora, com uma estátua enorme de Nossa Senhora de frente para o sofá. Eu sentia como se ela olhasse para nós dois e nos julgasse sempre que nos beijávamos naquele sofá quando seus pais não estavam em casa. Era como um lembrete do olhar duro de ambos desde que descobriram que eu estava namorando a filha "inocente" do casal.

Inah apenas ria de mim quando eu expressava meu nervosismo por estar ali. Felizmente, depois de quase dez anos juntos, eu consegui me acostumar com aquela família, embora ainda não relaxasse completamente na presença deles.

— Jimin — Haewon me chamou, e eu corri até a cozinha. — Você pode arrumar a mesa?

Todo domingo que nos reuníamos, ela me perguntava a mesma coisa, ainda que soubesse que eu sempre dizia sim. Era como se mesmo após tanto tempo me conhecendo a mulher ainda me testasse e esperasse qualquer oportunidade para dizer que eu não era um bom namorado para a filha.

Quase ao mesmo tempo, Inah surgiu, dando de ombros assim que me viu abrindo um dos armários com uma careta no rosto. Ela seguiu até a travessa de salada colocada sobre o balcão e a pegou antes de ir para a sala, olhando-me por cima do ombro com ar de riso. Revirei os olhos antes de segui-la com uma pilha de pratos em mãos.

Sem nem dirigir um olhar para a nossa movimentação, meu sogro estava sentado no sofá, com a atenção fixa em algum programa de variedades que passava na televisão, pelo que observei sem muito interesse.

— Esse homem não aguenta um minuto longe dessa droga. — Ao olhar para o marido, assim que saiu da cozinha, Haewon conteve um xingamento. — Quantas vezes eu já disse que nada de televisão no domingo, Youngnam? — reclamou. — Sua filha e o seu genro devem estar com fome! Desligue isso e venha.

SWITCH • yoonminOnde histórias criam vida. Descubra agora