[ATO I] EP. 2 - O Lobo e o Dobermann

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A mão de Lessa alcançou o despertador que insistia em tocar. Deu uma pancada forte, o derrubando de cima do criado mudo. Rolou pela cama e abriu os olhos de uma só vez ao sentir que só ela estava deitada no colchão. Prendeu a respiração para poder ouvir melhor, mas o silêncio que ecoava pelo apartamento era ensurdecedor. Às vezes o som da cidade lá fora a faziam lembrar que não estava sozinha no mundo. "Ah, então ela já foi...", pensava enquanto se sentava na cama, esfregando o rosto. Foi quando viu, ao seus pés, a camiseta do Amon Amarth que a garota tinha usado na noite passada, dobrada e acompanhada de um bilhete.

"Obrigada por ontem. Não quis te acordar, nem sei que horas você acordaria hoje. Pedi um almoço pra você como agradecimento. É pouco, mas de coração.

Cheque sua porta da frente!

Lia."

A mulher virou o bilhete várias e várias vezes, na esperança de encontrar algum endereço ou número de telefone, uma arroba de rede social, qualquer coisa. Mas nada... Suspirou pesado e largou o corpo na cama, deixando flashes da noite passada invadirem sua mente. Ela podia ouvir a respiração da outra, vividamente, em seus ouvidos. Ela lembrava de seu ritmo, gosto, cheiro. Mas era isso. A vida dela era sobre lembranças, no fim de tudo. Se levantou, checou a porta da frente e encontrou a caixinha de delivery descansando na frente.

O celular estava em cima da bancada da cozinha, no mesmo canto onde deixou a noite passada. E quando ativou a tela, viu várias mensagens do baterista, uma de Eli e uma de Asper. Discou um número e colocou no viva voz, enquanto almoçava.

[ . . . . ]

[ Click! ]

- hey!

- hey...

- não li nada.

- tô ligado. Já comeu?

- comendo. Acho que é coreano. Tem pimenta, mas é gostoso. Frango.

- encontra a gente no "Barão"?

- já tão aí?

- pode crer.

- me dá uns trinta minutinhos que já chego.

- fechou!

- fechou, te vejo já. Beijo!

Desligou.


A voz de Asper, do outro lado da linha, estava muito calma. Calma até demais e a mulher sabia que isso era sinal de algo ruim. Um sinal de perigo. Lessa aprendeu isso e era quase do mesmo jeito do gigante. Terminou de comer o frango frito, se trocou e logo estava cortando vento com sua Shadow. Não demorou até chegar na lanchonete de decoração vintage onde sempre usavam para se reunir.

Deixou o capacete com a atendente e se direcionou à mesa número 13, ao fundo, perto do piano em cima de um pequeno palco de cimento. Eli estava com os óculos de leitura na ponta do nariz enquanto folheava papéis e comprovantes. Asper estava de pé, ao lado do senhor, com os braços cruzados e o ex baterista sentado de frente para Eli.

Quando os olhos do gigante e da "nanica", como ele a chamava, se cruzaram, ele respirou fundo e abriu os braços, ela, apressou um pouco o passo e o abraçou pelo pescoço. Ela quase sumia ali.

- então, acho que as contas não estão muito a seu favor não, viu? - falou Eli, torcendo o nariz. - em oito meses, você gastou mais do que arrecadou dentro da banda.

- o quê?! Mas tudo o que eu consumo eu pago!

- Thomas... foram mais de 20 pares de baquetas quebradas, 8 peles de caixa, dois pedais, um prato de chimbal, um de ataque, vários ensaios não pagos, conduções... é, carinha, tá complicado pra ti.

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⏰ Última atualização: Jun 06 ⏰

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