Capítulo I

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Luger Jack

Yunho se sentia perdido em meio a todas aquelas malas e papelada. Odiava se hospedar em hoteis, havia toda aquela sensação de não familiaridade que o deixava desconfortável e desconcentrado.

Embora seu emprego exigisse que sempre estivesse pulando de lugar em lugar, a transição entre um disfarce e outro, mais especificamente entre uma casa e outra, o deixava atordoado. Entrar no personagem demandava tempo, dedicação e prática, mas era o ambiente que determinava como deveria se comportar. Era por isso que costumava começar indo direto ao ponto.

Infelizmente, dessa vez seu chefe tinha outros planos. Estava jogado no sofá macio perto da janela, encarando a própria documentação, tentando agir como um bom detetive: procurando por erros, por qualquer furo na história que pudesse chamar a atenção.

Como detetive da inteligência de Chicago, já havia estado dos dois lados, tanto entre os piores tipos de delinquentes quanto do lado que os prendia e buscava por qualquer lacuna ou hesitação que pudesse entregar os detalhes dos quais precisava. Era por isso que se prendia tanto às mínimas coisas quando construía seu disfarce.

Bocejou demoradamente, pensando que seria uma boa deixar aquilo de lado para que não acabasse sobrecarregado com informações demais, afinal, não queria parecer um robô com tudo mecanicamente programado quando fosse se encontrar com o informante que o conduziria até o alvo da investigação.

Levantou-se do sofá e começou a organizar os papeis, encarando o relógio ao lado da cama, percebendo que pouco se passava das dez da noite. Para uma criatura noturna como Yunho, a noite estava apenas começando e odiava a ideia de ceder ao cansaço e perder tempo precioso dormindo. 

Como se lesse seus pensamentos, o celular imediatamente tocou e o detetive deixou tudo de lado, tornando a sentar-se no estofado para atender à chamada de vídeo.

— Sargento Kim.

— Detetive Jeong. — Ambos acenaram quase formalmente, com Yunho logo cruzando as pernas sobre o sofá, acomodando-se melhor. — Então, Jeong, tudo pronto com o disfarce?

— E alguma vez eu decepcionei, chefe? — o detetive ergueu os ombros em um gesto convencido.

— Ah… claro que não. Você realmente entra no personagem.

— Obrigado, chefe! — O sorriso orgulhoso apenas aumentava em seus lábios.

— Eu não acho que isso seja um elogio.

— Servimos bem, para servirmos sempre. 

— Não foi exatamente isso que eu quis dizer. Da última vez em que você esteve disfarçado, a S.W.A.T teve que atirar em você. — Hongjoong fechou os olhos, negando com a cabeça como se imaginasse algo traumático. — Você estava lá, pelado em cima daquele trator em chamas com uma placa dizendo “salve a terra!”.

— Cara, meu ombro ainda dói quando vai chover. Bons tempos… — Abaixando uma das mangas do suéter que vestia, exibiu a cicatriz da cirurgia no ombro. — Bons tempos… — sussurrou nostalgicamente.

— É aí que está o problema, você literalmente preferiu levar um tiro do que sair do disfarce quando a polícia chegou.

— Não quis decepcionar a galera do movimento… Além do mais, o sniper que me deu o tiro, me chamou pra beber uma cerveja depois, só pra compensar. Era um cara legal, Choi San o nome dele.

— Você faz amigos fácil demais.

— Ou você que faz inimigos fácil demais, chefe?

— Acho que se você quiser manter o emprego, é melhor calar a boca.

Red moon [yunsang]Onde histórias criam vida. Descubra agora