Tínhamos acabado de chegar, e eu já estava procurando a desculpa perfeita para ir embora sem que Lara ficasse chateada. Eu amo a praia, mas a música eletrônica, os copos e as garrafas de bebida espalhados pela areia e toda aquela selvageria disfarçada de dança, com mais de quinhentos jovens se esbarrando, estava me fazendo querer sair correndo.
Na escuridão das duas da manhã, a iluminação vinha das três fogueiras e algumas tochas bem posicionadas. Há uns trezentos metros, eu podia ver os postes de luz, na calçada da avenida Beira Mar, e os faróis dos carros que passavam em frente a orla. Eu não conseguia distinguir o meu carro dos outros, no estacionamento.
Lara achou que seria uma boa ideia estacionar longe, já que quando fôssemos embora, o sol já estaria raiando, porque segundo ela, eu me divertiria tanto que não iria querer ir embora.
Ela é uma das poucas amigas que me sobrou depois de tudo. Mas aquilo estava começando a me irritar.
─ Lucia, ah te achei! Onde tu tava? Eu te disse pra ficar perto de mim! ─ Pelo arrastar da fala, ela já estava um pouco bêbada. ─ Vem, o rapaz que eu queria te apresentar está ali perto do bar, vocês têm tudo a ver, ele é um fofo, você vai amá-lo.
Mais um.
Essa é uma das coisas que começavam a me irritar na minha amiga alto astral. Desde o meu acidente, ela vinha fazendo de tudo para me botar para cima, mas eu não era mais a mesma. As festas, as bebedeiras, as drogas, isso tudo ficara para trás. Lara tentava me deixar feliz, programando coisas que seriam maravilhosas três anos e oito meses antes. Festas todos os finais de semana, sociais e coquetéis durante a semana, me apresentar ao que ela sempre dizia que seria o homem da minha vida, o rapaz mais fofo que eu conheceria ou o carinha perfeito da vez. O da semana passada era o mesmo de três semanas antes, mas ela nem lembrava que já tinha me apresentado a ele.
Não teria como encontrar o amor da minha vida, porque já havia encontrado e perdido.
Eu não ligava, eu sabia que o máximo que iria acontecer seria uma bebida e cinco minutos de uma conversa forçada. Então apenas deixava fluir.
Fui arrastada pela areia na direção de um trailer há alguns metros da fogueira do meio. Sentados em uma mesinha de madeira, com bancos aparentemente feitos de troncos, estavam alguns conhecidos, já com seus pares formados, e outros dois rapazes. Lara logo sentou no colo de um deles.
─ Lu, esse é o Marcelo, e esse é o amigo dele que eu te falei, Augusto. ─ Disse ela e após os beijinhos no rosto e apertos de mãos serem trocados, eu me sentei em outro banco, de frente para Augusto, enquanto minha amiga continuava falando, dessa vez contando ao rapaz sobre a sua melhor amiga, que tinha tudo a ver com ele.
─ Vocês são muito parecidos, a Lu também gosta de gastronomia e culinária... Essas coisas, né amiga?
Continuou ela, enquanto meu desconforto aumentava, mas nenhum de nós dois deu atenção.
─ Então, o que tu vai beber? ─ Ele perguntou, observando minhas mãos vazias.
─ Ah, pode ser uma água ou um suco. Eu não bebo... Pelo menos nada alcoólico. ─ Eu já estava um pouco mais arrependida de ter saído de casa.
"Eu não bebo nada com álcool". O rapaz devia estar pensando que eu era lesada, alcoólatra em recuperação ou que tomava remédios controlados. Bom, a última estava certa, mas ele não tinha que saber. E se ele soubesse, o que ele ia pensar a meu respeito não podia me importar menos. Logo, logo ele seria apenas o carinha do último final de semana.
Ele ergueu uma sobrancelha desenhada, e se levantou para pegar alguma coisa no bar para mim. Eu observava a fisionomia dele, obviamente montada em uma academia, quando ele pegou uma garrafa de água, e mesmo após pagar, ainda demorou um pouco de costas para mim. Voltou com um sorriso simpático e me entregou a água. Abri a garrafa com um pouco de dificuldade, mas percebi que o lacre havia sido rompido.
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O Caos que Você me Deixou
RomanceO que acontece quando o amor se torna um pesadelo? Será que as pequenas coisas fazem diferença no amor? O que acontece quando você fecha os olhos para pequenas atitudes tóxicas? Quando o cuidado e o ciúmes passam dos limites? Lucia conheceu Migue...