𝑷𝒓𝒐́𝒍𝒐𝒈𝒐

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"A Praga da Culpa"

"A culpa é um espinho cravado na alma, que fere e dilacera a carne do espírito, devorando a paz."

Bactérias são jogadas de uma direção à outra através de espirros e tosses vindas de todos os cantos, gotículas de sangue, saliva e secreções não são novidade. Os gritos, os sons de leprosos, sirenes e buzinas; tudo isso faz com que os tímpanos de Lahayla sangrem.
O olhar de Bárbara cai sobre sua filha, e enquanto a mulher mais velha limpa o líquido com o polegar, a aspereza de sua pele faz Lahayla recuar um pouquinho. Suas mãos se apertam uma à outra enquanto a pequenina se esforça para segurar firme seu irmãozinho no colo.

— Aqui! — A garotinha ouve sua mãe gritar num tom exasperado, a voz abafada pelos gritos, choros e súplicas das outras pessoas ali presentes. — Depressa!

Ambas apertam o passo, Lahayla se segurando o mais forte que pode em sua mãe para não se perder na multidão afobada. As pessoas se empurrando e atacando para fugir dos que mais foram contaminados e para não serem pegos pelas chamas que a cada vez mais se tornam mais vívidas.

Um homem desgovernado junto da multidão tropeça para cima de Lahayla, que se desequilibra e aperta mais a mão de sua mãe, mas desta vez, com ambas as mãos. A criança que antes estava no colo da garotinha indo ao chão.

— Mãe!

Lahayla exclamou, parando imediatamente de andar e olhando para trás enquanto Bárbara fazia o mesmo. A menina busca seu irmão com os olhos de forma desesperada, mas as pessoas se sobrepõem umas sobre as outras, dificultando qualquer visão que elas pudessem ter

Em meio a todo o caos e confusão sonora, entre os gritos, tosses e choros — algo se sobrepõe, uma súplica chorosa de composição alta e dolorosa. À uma distância considerável Lahayla e Bárbara finalmente enxergaram o bebê.

A manta azul que antes cobria seu corpo pequeno manchada com sangue fresco, seu rosto repleto de machucados e feridas que claramente mostravam que ele estava constantemente pisoteado e, mesmo assim, as pessoas não pararam.

O choro foi se tornando cada vez mais baixo de forma gradativa até não ser mais audível, a certeza de que vida era algo que não se havia mais ali se tornando maior.

Bárbara tentou voltar. Lahayla tentou voltar. A multidão não parou ou se importou, eles seguiram se empurrando como animais, arrastando o corpo delas e, em consequência, levando-as para longe do cadáver fresco do bebê.

Neste dia algo mudou. Bárbara, que antes possuía duas crianças, teve seu filho esmagado frente a seus olhos e desenvolveu ojeriza pela coisa que antes era sua filha.

𝘼𝙯𝙪𝙡 𝙂𝙖𝙣𝙜𝙧𝙚𝙣𝙖𝙙𝙤Onde histórias criam vida. Descubra agora