Por Taylor Jenkins Reid

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"Eu te amo”, falei. “Nunca me abandone.”

“Eu também te amo. E nunca vou te abandonar.” Mas, quando ela disse isso, nós duas sabíamos que era uma promessa impossível de cumprir.

A ideia de perdê-la de novo era insuportável, e seria uma perda ainda maior e mais profunda que as anteriores. Eu não conseguia nem pensar na hipótese de viver sem Celia para sempre, sem nenhum laço me ligando a ela.

“Quer casar comigo?”, falei.

Ela começou a rir, mas eu a interrompi.

“Não estou brincando! Quero casar com você. De uma vez por todas. Eu não mereço isso? Depois de sete casamentos, finalmente não posso casar com o amor da minha vida?”

“Acho que não é assim que as coisas funcionam, querida”, ela disse. “E, nunca é demais lembrar, eu estaria roubando a mulher do meu irmão.”

“Estou falando sério, Celia.”

“Eu também, Evelyn. A gente não tem como casar.”

“Um casamento nada mais é que uma promessa.”

“Se você está dizendo”, ela respondeu. “A especialista no assunto é você.”

“Vamos casar aqui mesmo, agora. Eu e você. Nessa cama. Não precisa nem pôr uma camisola branca.”

“Do que você está falando?”

“Estou falando de um compromisso espiritual, uma promessa entre nós duas, valendo pelo resto da vida.”

Celia ficou em silêncio, e percebi que ela estava pensando a respeito. Estava tentando entender se aquilo significaria alguma coisa, o que nós duas faríamos naquela cama.

“Vamos fazer o seguinte”, falei, tentando convencê-la. “Vamos olhar bem nos olhos uma da outra, vamos dar as mãos e dizer o que o nosso coração sente, e prometer que vamos ficar juntas. Não precisamos de documento oficial, nem testemunhas, nem permissão religiosa. Não importa que eu já seja casada no papel, porque nós duas sabemos que, quando casei com Robert, foi por você. Não precisamos seguir as regras de ninguém. Só precisamos uma da outra.”

Ela continuou calada por um instante. E suspirou. E por fim respondeu: “Certo, eu topo”.

“Sério?” Fiquei surpresa com a importância que aquele momento estava ganhando.

“Sim”, ela disse. “Eu quero casar com você. Sempre quis. É que… nunca me passou pela cabeça que isso era possível. Que a gente não precisava da aprovação de ninguém.”

“E não precisa mesmo”, garanti.

“Então vamos lá.”

Eu dei risada, sentei na cama e acendi o abajur do criado-mudo. Celia sentou também. Ficamos uma de frente para a outra e demos as mãos.

“Acho que você deveria conduzir a cerimônia”, ela falou.

“Pois é, eu já participei de mais casamentos mesmo”, falei em tom de brincadeira.

Ela riu, e eu também. Tínhamos quase sessenta anos e estávamos empolgadas com a ideia de fazer uma coisa em que deveríamos ter pensado muitos anos antes.

“Certo”, falei. “Já chega de brincadeira. Vamos lá.”

“O.k.”, ela disse, com um sorriso. “Estou pronta.”

Eu respirei fundo. E olhei para ela. Celia tinha pés de galinha ao redor dos olhos. E rugas em torno da boca. Os cabelos estavam bagunçados pelo travesseiro. Ela estava usando uma camiseta velha dos New York Giants, com um furo no ombro. Que se danem as tradições — ela estava mais linda do que nunca.

“Queridos presentes”, comecei. “Nesse caso, só nós duas mesmo.”

“Pois é”, Celia falou. “Eu percebi.”

“Estamos aqui reunidas para celebrar a união de… nós duas.”

“Legal.”

“Duas pessoas que estão se comprometendo a passar o resto da vida juntas.”

“Positivo.”

“Celia, você aceita Evelyn — no caso, eu — como sua legítima esposa? Na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, até que a morte nos separe, enquanto formos vivas?”

Ela sorriu para mim. “Sim.”

“E eu, Evelyn, aceito você, Celia, como minha legítima esposa? Na saúde e na doença e tudo mais? Sim.” Foi quando percebi uma pequena falha. “Espera aí, a gente não tem alianças.”

Celia olhou ao redor em busca de algo que pudesse fazer esse papel. Sem soltar as mãos dela, dei uma olhada no criado-mudo.

“Aqui”, Celia disse, tirando o elástico do cabelo.

Eu dei risada e soltei meu rabo de cavalo também.

“Certo”, falei. “Celia, repita comigo. Evelyn, aceite esta aliança como um símbolo do meu amor eterno.”

“Evelyn, aceite esta aliança como um símbolo do meu amor eterno.”

Celia pegou o elástico e deu três voltas em torno do meu dedo.

“Agora diga: Com esta aliança, eu te desposo.”

“Com esta aliança, eu te desposo.”

“Certo. Agora é minha vez. Celia, aceite esta aliança como um símbolo do meu amor eterno. Com esta aliança, eu te desposo.” Coloquei meu elástico no dedo dela. “Ah, esqueci dos votos. Vamos fazer votos?”

“Nós podemos”, ela disse. “Se você quiser.”

“Certo”, falei. “Pensa no que quer dizer. Eu vou pensar também.”

“Não preciso pensar”, ela respondeu. “Eu estou pronta. Já sei.”

“Tá bom”, eu disse, surpresa ao sentir meu coração disparar, e ansiosa para ouvir as palavras dela. “Vá em frente.”

“Evelyn, sou apaixonada por você desde 1958. Posso nem sempre ter mostrado, posso ter deixado outras coisas atrapalharem nosso amor, mas sei que te amei por todo esse tempo. E que nunca deixei de te amar. E que nunca vou deixar.”

Fechei os olhos por um instante, absorvendo aquelas palavras.

Em seguida foi a minha vez: “Eu casei sete vezes, e nenhuma delas foi nem de longe tão emocionante como esta. Acho que meu amor por você é a coisa mais verdadeira que existe em mim”.

Celia abriu um sorriso tão grande que pensei que fosse cair no choro. Mas ela aguentou firme.

Eu continuei: “Pelo poder a mim concedido por… por nós, eu nos declaro casadas”.

Celia riu.

“Agora eu posso beijar a noiva”, falei. Soltei suas mãos, segurei seu rosto e a beijei. A minha mulher.

Seis anos depois, após mais de uma década com Celia nas praias da Espanha, quando Connor já estava formada e trabalhando em Wall Street, depois que o mundo já tinha esquecido Mulherzinhas, Boute-en-Train e os três Oscars de Celia, Cecelia Jamison morreu de falência respiratória.

Ela estava nos meus braços. Na nossa cama.

Era verão. As janelas estavam abertas para deixar a brisa entrar. O quarto cheirava a doença, mas fazendo um pouco de força ainda era possível sentir o cheiro da água salgada. Os olhos de Celia estavam imóveis. Chamei a enfermeira, que estava no andar de baixo, na cozinha. Acho que foi naqueles momentos em que Celia estava sendo tirada de mim que parei de registrar lembranças de novo.

Só lembro de me agarrar a ela, abraçando-a da melhor maneira possível. Só lembro de ter dito: “Não tivemos tempo o bastante”.

Célia St. James - Um posfácio por Amélie BeatrizOnde histórias criam vida. Descubra agora