Posfácio "Os sete maridos de Evelyn Hugo" - Por Amélie Beatriz

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Depois que Monique vai embora, eu me sento na cozinha e fico alguns minutos encarando a porta. Penso que por um segundo ela vai voltar e me impedir, o olhar que ela me dirigiu é como se soubesse. No final das contas eu iria acabar morrendo com alguém me conhecendo de verdade.

 Os minutos se passam e ela não volta. Eu confiei em Monique e ela confiou em mim.

Peço minha última refeição em um restaurante ali perto, e é quase uma celebração porque eu estou celebrando. Hambúrguer, batatas fritas e um milkshake de morango, meu favorito. Eu saberia contar nos dedos quantas vezes eu havia colocado tanta gordura na boca, sempre estive em dieta para manter o corpo perfeito em frente às telas.

 É ao mesmo tempo uma celebração e um protesto.

Depois que termino de comer, limpo a cozinha a deixando quase intocável como se alguém nunca tivesse feito alguma refeição ali.

Tomo um banho bem quente, lavando meus cabelos quase grisalhos pelo tempo. Quando termino, me olho no espelho. As rugas visíveis, os seios ainda fartos mas doentes. O que sempre foi uma das minhas marcas registradas também me levou ao fim da linha, é irônico de forma trágica.

 Coloco meu pijama de linho azul, e me deito em minha enorme cama. Sozinha.

 A casa está em completo silêncio e a luz do sol se pondo entra pela minha janela de forma tímida.

 Abro a gaveta do criado mudo e tiro dali dois frascos de comprimidos.

''Celia, meu amor eu estou chegando.''

 Sem pressa, eu abro a tampa dos dois frascos e um á um eu começo a engoli-los com a ajuda de um copo d'água. Depois que esvazio os dois frascos, eu me cubro até a cintura com meu edredom e fecho os olhos. Mentalizo o rosto de Celia, Harry, Connor, minha mãe, e até mesmo o rosto de Monique.

Agradeço de forma silenciosa a todos que passaram pela minha vida, as pessoas boas e ruins. Agradeço pelo o que tive e agradeço que finalmente tenha acabado.

Eu respiro fundo.

Não me arrependo de nada.

Estou em paz.

***

Quando eu abro os olhos, dou de cara com Celia. Ela está jovem. Eu poderia reconhecer aquele rosto em qualquer lugar, em qualquer vida. Os olhos tão azuis que eu sempre senti que podia enxergar minha alma.

''Eu estava esperando por você.''

''Desculpa demorar tanto.''

Estou com uma camisola branca, e quando toco o rosto de Celia minhas mãos não estão enrugadas. 

''Estou no céu?'' Falo.

 Celia ri, como eu senti falta daquele sorriso.

''Você pode descansar agora, não tem nada com o que se preocupar.''

Escuto vozes do lado de fora, como se tivessem crianças brincando.

''Estávamos te esperando, querida.'' Celia fala. ''Eu, Harry, Connor...''

''Minha mãe.''

Celia assente.

''Podemos ficar aqui mais um pouco?'' Pergunto.

 Celia toca meus ombros e se aproxima.

''Temos a vida inteira, Evelyn.''

''Obrigada por me esperar.''

''Eu te amo mais que tudo.'' Celia diz, beijando uma de minhas bochechas,

''Eu te amo.''

Creio que se felicidade tivesse um nome, era um pouco parecido com aquilo. 

Célia St. James - Um posfácio por Amélie BeatrizOnde histórias criam vida. Descubra agora