dois

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Mal dormi durante a noite. 

A imagem de meu pai vindo atrás de mim insistia em aparecer na minha mente, mesmo eu sabendo que aquilo não era verdade.

Acordei mais cedo que todo mundo e tomei a liberdade de ir até a cozinha preparar meu café da manhã, não só o meu, mas o dos meus hospedeiros também.

Abri os armários buscando café, leite, açúcar, ovos, farinha, bacon e os demais ingredientes que precisava para cozinhar. Tudo continuava guardado nos mesmos lugares que eu lembrava e eu não sei o que é mais estranho, a arrumação continuar a mesma ou eu lembrar onde as coisas estavam.

Eu costumava passar muito tempo aqui, esse foi o fato decisivo para a minha memória funcionar perfeitamente bem.

Coloquei o café na máquina, fiz as panquecas e deixei os ovos com bacon por último. Achei um suco de laranja na geladeira ao lado de uma garrafa de café gelado já pronto, isso é coisa de Joalin, sorri lembrando. 

Arrumei a comida, os pratos, talheres e copos na bancada da ilha e não demorou muito para Josh aparecer.

— Bom dia! — disse meio sem graça. — Não vou demorar muito para ir embora, quis deixar o café de vocês pronto para não incomodá-los mais ainda.

— Any... — ele respirou fundo. — Come, depois a gente conversa. — disse frio, se sentando na banqueta da ponta esquerda.

Apenas concordei com a cabeça e me sentei duas banquetas antes da dele. Não queria sentar tão perto para não deixar as coisas mais esquisitas ainda.

Tia Ursula apareceu não muito tempo depois e nos deu um bom dia caloroso, com direito a um beijo na minha testa e um leve afago, como ela costumava fazer toda vez que eu dormi aqui.

— Já sei a solução para os seus problemas! — ela disse com um sorriso animado.

— Sabe? — Josh perguntou desconfiado.

— Hoje você está voltando para San Diego, pode hospedar Any até ela arranjar uma solução definitiva! — Ursula disse como se fosse a ideia mais genial do mundo.

Me engasguei com o café quando ela acabou de falar.

É uma péssima ideia eu dividir o mesmo ambiente com Josh, ainda mais por tempo indeterminado e pior, depois de não falar com ele por uns dez anos. Isso me preocupa, e muito!

— Mãe! — ele a repreendeu.

— O que foi? — Ursula devolveu. — Não sei porque está agindo tão estranho! Ela era praticamente da família até ter que se mudar! — ela se direcionou para mim.

Mas eu não me mudei.
Ai meu Deus.
Ele não contou para ela.
Ela ainda tem uma visão boa de mim.

Um bolo se formou na minha gargante e eu não consegui reagir, nem se eu quisesse falar alguma coisa eu conseguiria. Ele pode não ter tido coragem de contar ou ele pode ter tentado preservar minha imagem ou sei lá o que ele tentou fazer, mas qualquer coisa negativa que fizesse, eu não tiraria a razão dele. Nunca.

Josh chamou a mãe para conversarem num canto. É óbvio que essa ideia é inconcebível para ele. E ela faz eu ter que encarar os fantasmas do meu passado, honestamente, é a última coisa que eu queria no momento, mas a partir do momento que eu coloquei meus dedos naquela campainha, eu assumi esse risco.

Retirei a louça suja, as coloquei dentro da pia e logo em seguida liguei a torneira, esfregando a esponja amarela vibrante contra os pratos brancos, copos transparentes e talheres prateados brilhantes. Com um pouco mais de força que eu deveria, provavelmente, estou muito nervosa.

seven | beauanyOnde histórias criam vida. Descubra agora