Gwen respirou fundo e amaldiçoou todas as gerações passadas, presentes e futuras da pessoa que havia aberto as cortinas grossas de pano. Empurrou o cobertor com a estampa de Star Wars e sentou-se na cama, olhando em volta. Novamente, passaria um semestre sem botar os pés neste quarto. Em menos de uma hora e meia, estaria a caminho do seu segundo semestre no curso de Direito. Expulsando os devaneios, levantou-se de um pulo, tomou um banho e fez sua higiene, vestiu uma calça jeans clara e um suéter de lã cinza. Ao sair do quarto, dirigiu-se imediatamente para a minúscula cozinha, assim que fez menção de entrar no cômodo a mãe desviou a atenção do estava fazendo e a voltou para a garota.
— Entre - disse a senhora e a garota o fez. Assim que ela deu o primeiro passo, a mãe olhou para os pés de Gweny. - Quando nós estamos entrando em um local, sempre entramos com o pé direito, esqueceu? – A sra.Sheperd era uma mulher bem supersticiosa e que sempre tentava adotar esses costumes na filha, mesmo que falhasse. A senhora fez um sinal para que a garota voltasse e entrasse com o pé correto, o que a mesma fez, bufando. – Ansiosa para o seu primeiro dia de aula? – Mudou o assunto ao ver a filha sentar-se à mesa e a entregou um prato de panquecas com melado.
— Meu primeiro dia de aula foi a um semestre atrás, mãe.
— Todo dia é um primeiro dia para fazer algo diferente na sua vida - falou a senhora enquanto prendia os cabelos da filha em um rabo de cavalo.
Basicamente, Gwen Sheperd estava vivendo uma vida muito boa, obrigada. Estudava com uma bolsa quase integral em uma faculdade muito reconhecida, tinha boas notas, uma melhor amiga, mas não estava feliz, algo a incomodava naquele dia e ela não conseguia explicar o que era, talvez fosse o fato de que não estava pronta para voltar, ou o fato de que hoje fazia nove anos que seu pai havia abandonando-a. Graças aos remédios e a caros anos de tratamento, a mãe não lembrava mais, ou pelo menos não falava, do pai. O ensino fundamental de Gweny havia sido um inferno, literalmente. Engoliu em seco ao lembrar daqueles anos e quando voltou para a realidade, começou a comer enquanto aguardava Alicia chegar para irem juntas para a instituição de ensino.
— Filha, o que há com você? Sua áurea está tão escura, isso me preocupa.
— Nada, mãe. Só estou nervosa - mentiu.
— Não fique. Agora suba e vá terminar de arrumar suas coisas, a Ally deve estar passando aqui - após a ordem da mãe, a garota deixou o prato na pia e voltou para seu quarto, onde botou os materiais restantes na mala e colocou o violão dentro da capa. Deu uma última olhada no quarto e fechou a porta. Assim que o fez, ouviu a buzina do carro de Alicia Ory. Despediu-se da mãe com um abraço apertado e bateu a porta da pequena casa, colocou as coisas no bagageiro e sentou-se no banco de passageiro.
— Bom Dia! - Falou Ally animada, enquanto prendia um dos cabelos negros em um rabo de cavalo.
— Bom Dia. Vamos? - Gweny tentou demonstrar a mesma animação.
— Vamos. Você está bem? Aconteceu alguma coisa com a sua mãe? - A amiga começou a perguntar quando já estavam saindo do bairro de Gwen.
— Ela está ótima. Eu só estou meio estranha, sei lá.
— Estranha como?
— Hoje faz 9 anos que ele foi embora, Ally.
— Oh, Gweny. Desculpa, eu não lembrava.
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Stay the Night
RomansaO que está predestinado a acontecer quando uma garota fechada finalmente acha alguém que pode compartilhar tudo? E o que acontece quando um garoto “exemplo” acha alguém que o faz duvidar de tudo que acreditou a vida inteira? Uma garota que o conquis...