Entre Sonhos e os Primeiros Raios do Sol

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"Oi"

"Meio que estive sonhando contigo"

"Você aceitaria se encontrar comigo?"

"Desculpa estar sendo tão direto"

Eram quatro da manhã. Por que raios Yuta estava mandando mensagem para si? Sicheng pegou o celular da mesa de cabeceira e olhou diretamente para a luminosidade exagerada de seu celular. Na aba de notificações, leu por alto tais mensagens de seu amigo e ficara nervoso automaticamente.

Há um tempo, Sicheng vinha tendo sonhos com um amigo próximo, mas não tão próximo assim, Nakamoto Yuta. Apenas saíam juntos quando estavam com amigos, em grupo, mas nunca a sós. Se conheceram há dois anos, quando Jaehyun, melhor amigo de Sicheng, começou a namorar Doyoung, amigo próximo de Yuta e colega de banda. O casal achou apropriado apresentar ambos, sem pretensão de nada.

E, de fato, nada aconteceu a princípio. Sicheng achou Yuta bonito, claro que achou; como não acharia? O japonês tinha o sorriso mais bonito que já vira em toda sua vida; uma voz única; tocava guitarra como ninguém. No entanto, algo aconteceu que o chinês não se encantou de primeira. Em sua visão, alguém como Yuta nunca se interessaria por alguém como ele, e tudo bem, poderia conviver com isso.

Por parte de Yuta, não era muito diferente. Achava Sicheng fofo da mesma forma que se encantava com sua beleza e estilo. Se perguntava constantemente se ele não era um modelo por trás daquela realidade de estudante de computação. Isso foi há anos, e os sonhos começaram há meses, mais especificamente, quando Yuta comentou com seus amigos que teria que voltar para o Japão dali a um ano.
Essa informação destruiu o Dong por dentro.

Saber que Yuta também sonhava com ele fazia Sicheng um tanto nervoso. Já ouviu falar sobre almas gêmeas, e esperava que não fosse o caso. Nunca pensou que teria uma, ainda mais sendo o japonês uma das possibilidades. Não fazia sentido.

 
Contudo, o desejo sempre esteve lá, mesmo que ambos não percebessem. Foi Yuta que encontrou Sicheng chorando no banheiro de uma balada após o mais novo terminar seu relacionamento com Qian Kun e o confortou. Foi Sicheng que abraçou Yuta e disse que ele foi incrível depois de um show em que o guitarrista acreditou que não tocou nada bem. Foi Yuta quem começou a escrever músicas sobre o "amigo" sem se dar conta disso. Foi Sicheng que se pegou pensando no "amigo" quando houve uma pequena celebração ao Dia dos Namorados na empresa a qual era estagiário. Foi Yuta que teve ciúmes quando algum outro homem deu em cima de Sicheng. Foi Sicheng que se sentiu estranho após ver Yuta falando da beleza de Mark Lee.

Foram Yuta e Sicheng que nunca perceberam o desejo latente de um pelo outro, mesmo estando claro.
Foi esse desejo que fez Sicheng sair de casa no meio da madrugada para se encontrar com Yuta.

"Eu também tenho sonhado com você, sabia?"

"Onde nos encontramos?"

Sicheng colocou sua roupa de frio, o seu casaco e tentou acalmar seu coração. Houve uma necessidade de vê-lo, de senti-lo, muito apesar de nunca ter chegado perto de algo mais íntimo com Yuta.

Marcaram de se encontrar na casa do mais velho. Foi Sicheng que sugeriu, não ia demorar muito para chegar na residência, além de finalmente ter um momento a sós com aquela pessoa a qual sempre teve um desejo oculto.

Praticamente correu pelas ruas de Seul, as quais estavam lotadas, apesar do horário. As cores da cidade guiaram Sicheng até o pequeno prédio onde Yuta morava. O japonês morava no segundo andar, último apartamento. Parou em frente a porta, tocou a campainha.

Segundos depois, Yuta estava à sua frente, totalmente diferente de como normalmente se apresentava. Nakamoto sempre pareceu forte e imponente com suas vestimentas roqueiras e maquiagem carregada; porém, agora, recebendo Dong Sicheng, Yuta estava apenas com um suéter azul claro e uma calça moletom cinza; descalço, sem nenhum tipo de maquiagem e cabelos longos presos em um rabo de cavalo.

O rosto vermelho de Yuta mostrava a Sicheng que havia chorado um tanto. Isso fez com que o Dong se aproximasse dele e o abraçasse antes mesmo de desejar "bom dia".

— Eu sonhei que te perdia — sussurrou Yuta no pé do ouvido de Sicheng. — Fiquei assustado.
Sicheng não tinha muito o que falar, apenas apertar o abraço.

— Eu estou aqui — Sicheng sussurrou de volta. — Desculpe por ter demorado.

— Você não demorou nem dez minutos...

— Não. Por ter demorado para perceber o que sinto por você.

O coração de Yuta disparou, e Sicheng pôde sentir bem rente ao seu peito. O sorriso pequeno do mais velho o aqueceu por dentro, após se afastar minimamente para olhar em seus olhos.

Yuta fechou a porta de seu apartamento e permitiu que Sicheng o veja da forma mais vulnerável que já permitiu alguém o ver. Em contrapartida, o chinês parecia mais seguro do que o normal. Nakamoto sempre o viu como alguém que necessitava ser protegido e, sinceramente, não era um problema para ele. Contudo, agora, ele vê algo diferente em Sicheng, pois ele parecia decidido; pela primeira vez, realmente decidido a fazer algo.

— Você disse que tinha sonhado comigo também — Yuta falava enquanto o guiava para a sua varanda. — Como são esses sonhos?
Sicheng encheu o pulmão de ar para conseguir arrumar as palavras certas para falar.

— São vários. Às vezes, estamos apenas conversando. Outras vezes, estamos fazendo coisas a mais, mas sempre... sempre é você.

O menor ergueu as sobrancelhas.
— Você acredita em destino? Sabe, essas histórias meio bregas sobre almas gêmeas e ligações de vidas passadas.

Sicheng fez que não.

— Nunca fui de acreditar.

— Nem eu — Yuta soltou uma gargalhada. O sorriso mais bonito que Sicheng já vira, de fato. — Até me deparar com a realidade de que vou ficar destruído quando eu for embora e te deixar. Te deixar sem ter a oportunidade de entender meus sentimentos por você. — ele olhou para frente, observando a rua iluminada. Dali a pouco, iria amanhecer. — Meu subconsciente me atormentou até tomar coragem de te chamar para conversarmos sobre isso — ele ri de novo, nervoso.

— Desculpe-me por ser nesse horário.

Sicheng suspirou, corado.

— Acho que o destino quis que nos encontrássemos quando não há ninguém nos vendo — Sicheng viu os olhos brilhantes de Yuta o observando; os ouvidos, ouvindo atentamente. — Nós dois precisávamos encontrar um ao outro, mesmo que isso necessitasse de noites inteiras. — Sicheng passou a mão pelos cabelos de Yuta, e depois, pelo rosto alheio. — Você foi o melhor dos meus sonhos, mas não posso deixar que outras noites sejam perdidas no lúdico quando podemos fazer disso uma realidade.

O sorriso de Yuta se alargou antes de puxar o corpo de Sicheng para si, o envolvendo em um outro abraço e encostando o rosto no ombro largo do mais alto.

— Não sei se te amo, ainda, mas pode ser que algum dia seja... nesse momento, eu te desejo, Sicheng. Desejo muito.

— Então... — Sicheng o afastou minimamente para que ambos se encararam novamente — faça disso realidade.

E foi o que Yuta fez. Encheu suas mãos com a cintura alheia e encostou seus lábios no dele. Os lábios de Sicheng tinham gosto de morango, bem melhor do que imaginava em seus sonhos; os dedos fortes faziam um carinho irresistível em seus cabelos, os afagando com gentileza.
As línguas se encontraram, as mãos de Sicheng passaram a apertar os ombros tão reais do seu maior desejo de suas noites de sono. Yuta era irresistível, e iria se culpar todos os dias por não ter percebido isso antes.

Se separaram quando a falta de ar se fez presente. O sorriso de Yuta continuava lá, os primeiros raios solares da manhã de sábado apareceu mais bonito naquela manhã. Todavia, eles não queriam dormir, não naquele momento. Já dormiram o suficiente. 

— Quer ir lá pro quarto? — Yuta perguntou, cansado de ter aquilo apenas em sonhos. — De verdade, dessa vez. 

E Sicheng sorriu, pois sabia que aquilo era apenas o início de seus novos dias.

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