Junho, 2020
GREENWICH VILLAGE, NYC
Sexta - 09:36am
Camila andava apressada pelas ruas da cidade de Nova Iorque, corria contra o tempo naquela manhã nublada de sexta-feira, mas apesar de tudo, carregava uma expressão tranquila no rosto. Aquele dia em especial era o último de provas no ano, se passasse, já podia se considerar uma artista mestra na teoria, crítica e história da arte pela New York University, uma das melhores faculdades do país, e isso, para ela, era algo absurdamente gratificante de se pensar. Se sentia orgulhosa de si por tudo o que já havia conquistado até ali, sempre almejou fazer pintura, por sua arte e ideais em quadros a ainda ser reconhecida por isso sem dúvidas era seu maior sonho, mas não imaginava nunca que um dia iria chegar onde estava naquele momento, literalmente prestes a concluir um sonho do seu Eu criança. Com certeza a Kaki (como seus pais costumavam a chamar) estava tão orgulhosa quanto seu Eu do presente, principalmente pelo fato de que, com apenas 25 anos, já se tornava um nome conhecido entre outros artistas em ascensão.
Construía sua carreira aos poucos, com os pés firmes na realidade que tinha, afinal morava em um apartamento minúsculo que dividia com sua melhor amiga, num país que não era seu de origem, numa cidade gigante e, por mais que não passasse necessidades, não vivia com luxos, apenas com o retorno que suas pinturas lhe trazia e com o que o emprego de meio período lhe permitia ter, mas isso até um quadro seu ser vendido por quase o quádruplo do preço em uma exposição. Uma admiradora, colecionadora e crítica de artes que vivia em Miami havia o comprado, e o mais impressionante disso era que ele não estava à venda. A exposição na verdade era um projeto final da faculdade de inserção dos alunos no mundo dos artistas, já que estavam prestes a se formarem e tentarem seguir aquela carreira. A intenção era apenas mostrar a eles a sensação de ter seus quadros expostos ao público, não vendê-los, mas Caterina Molina insistiu e ofereceu mais que o suficiente para levar especificamente aquele quadro feito e assinado por Karla Cotrim. Era realmente a pintura mais bonita e mais elogiada daquele projeto, tanto pelas cores e toques quanto pelo sentimento cristalino e puro traduzido ali, mas ainda assim acharam impressionante a obra ter cativado tanto a primeira dama da Molin's Digital Co., a ponto de ter a feito gastar tanto numa peça produzida por uma aluna desconhecida de outro estado.
Sua vida melhorou significativamente após o ocorrido, o valor e a procura por suas obras aumentou de forma que a surpreendeu, mas não mudou muito sua realidade, apenas a garantiu mais tempo livre em seus dias com a saída daquela lanchonete em que era escravizada em meio período. As pessoas queriam saber quem era a, até então, desconhecida Karla Cotrim e isso foi seu gás para se formar e estar onde estava agora. Sem dúvidas era grata pelo o que Caterina fez consigo.
Chegou no prédio que sediava as aulas de diversas artes um tanto ofegante pelo trajeto que percorreu. Morava em SoHo, bairro próximo ao campus, mas não para ir a pé. Odiava se atrasar, mas parecia que tudo ao seu redor queria estragar seu dia. Havia acordado cedo como já era de seu costume, e só naquela manhã, para a sua infelicidade, as bananas e a geleia que costumavam compor seu café da manhã haviam acabado, sua torrada queimou ao ponto de carbonizar porque a esqueceu enquanto tomava seu banho, não achou a blusa que planejou usar aquele dia, bateu o dedinho no rodapé da porta de seu quarto; até o creme dental caiu de sua escova quando a colocou embaixo d'água. Realmente não estava sendo um dia bom para a mulher até o momento, o que lhe aliviou foi o fato de ter conseguido chegar a tempo do início da prova, mesmo que tenha precisado correr — literalmente — para isso.
Ao entrar na sala, encontrou os outros alunos já espalhados pelas cadeiras, tão apreensivos quanto ela. Se juntou a eles e esperou apenas a distribuição dos papeis, coisa que não demorou a acontecer por já ter entrado em cima da hora.
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The Sender: Art of Conquest
FanfictionSabemos que ninguém escapa da morte, e muitos se assustam com isso, já outros se consolam, mas o que não podemos negar é que temos a certeza de que ela vai chegar, só nos resta aceitá-la. Karla Camila Cotrim aceitou a morte de seu pai, conviveu com...