UM

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I laughed in your face and saidYou're not Dylan Thomas, I'm not Patti Smith This ain't the Chelsea Hotel, we'rе modern idiots


A sala de recreação do departamento artístico da NYU estava quase sempre vazia. Não era de se esperar diferente: uma sala mal decorada e com poucas janelas não era capaz de despertar muita criatividade nos alunos que deveriam frequentá-la. Parecia parada no tempo, com as suas máquinas de escrever, instrumentos de música antiquados e cavaletes de pintura desgastados, mas talvez fosse por isso que Clary gostava dali.

Era silencioso e calmo, exceto nas vezes que dividia o espaço com um garoto de cabelos dourados que tocava piano lindamente. E mesmo quando isso acontecia, Clary se sentia segura para criar ali, fosse uma pintura em tela, um desenho simples ou uma redação para algum trabalho que vinha procrastinando a dias.

– Então é aqui que você se esconde, tipo, quase todo dia? – Simon falou, seguindo ela enquanto entravam na sala. Clary apenas deu de ombros, caminhando até a mesa no canto esquerdo da sala onde geralmente se sentava. Puxou as cadeiras, de estofado arranhado, uma para si e outra para Simon.

O garoto do piano estava do outro lado da sala, pareceu notar a presença deles somente quando terminou a música. Como sempre, Clary levantou a mão em um aceno rápido. Num dia comum, o garoto responderia o aceno e voltaria a tocar.

Naquele dia, ele repousou o olhar em Simon ao lado de Clary, e sem resposta nenhuma ao cumprimento da garota, se levantou para ir embora. Ela nem teve tempo de tentar entender aquela hostilidade, Simon já tinha voltado a tagarelar sobre sua campanha de D&D antes disso.



Foi daquela mesma forma nos dias seguintes também. Quando ela aparecia sozinha, o garoto parecia completamente indiferente à presença dela. Um dia, até lançou um breve sorriso enquanto respondia ao aceno dela do outro lado da sala. Entretanto, sempre que estava acompanhada, ele parava de tocar imediatamente.

– Sabe, esta sala é pra ser um espaço compartilhado. Você não precisa ir embora sempre quando alguém chega. – Clary falou, um pouco aborrecida com a situação, quando ele levantou do banco do piano assim que Simon passou pela porta.

– Eu já terminei. Vocês podem ficar namorando a vontade... – foi tudo que ele respondeu, com um quê de ironia.

Clary piscou algumas vezes, confusa com a resposta, o tom de voz dele e a ironia. Respirou fundo, tentando não soar irritada, mas quando abriu os lábios para responder o garoto já havia saído para o corredor.

Queria ir atrás dele, gritar que Simon não era seu namorado (tinham tentado uma vez, mas aquilo não era da sua conta), mas sequer sabia o nome dele. Não deveria se importar tanto assim com aquela situação.



Por mais improvável que parecesse, Jace gostava de trabalhar como barman. Além de ter um pretexto para passar as madrugadas em claro, podia ouvir histórias de amores universitários fracassados o suficiente para escrever boas poesias mais tarde. Se tivesse sorte, durante o dia tinha tempo suficiente para compor as melodias que transformariam aqueles versos da madrugada em músicas.

Era bom naquilo, em ser barman e em compor. Pra ser sincero, se achava perfeitamente capaz de qualquer coisa.

Só não era bom com pessoas, não de verdade.

– Marquei com um garoto do Tinder hoje. Por favor, se ele tentar me sequestrar, chame a polícia. – Isabelle falou, por cima do balcão.

– Talvez eu devesse deixar ele te levar. – Respondeu Jace para a meia-irmã. – Se bem que ele provavelmente a devolveria em questão de minutos, o que não me ajuda muito.

The Tortured Artists Department - Clace Short FicOnde histórias criam vida. Descubra agora