En el nombre del Padre, del Hijo y del Espíritu Santo, amén.♱
O mundo à minha volta era um abismo de silêncio, um vazio gelado que engolia um som, um suspiro, uma batida do meu coração. Eu corria por corredores escuros, paredes frias e eternamente sem fim, enquanto as sombras se estendiam, deformadas, como mãos prontas para me agarrar. O ar pesava sobre mim como uma sentença, e cada passo dado parecia um eco distante de algo que eu não podia evitar. A noite era densa e o vento sussurrava antigos lamentos, palavras que pareciam brotar de alguma passagem esquecida da Bíblia:
"Fuja da aparência do mal..."
Minhas pernas se moviam por reflexo, instigadas pelo medo que rastejava pela minha pele como uma serpente. Eu não sabia para onde estava indo, só sabia que precisava fugir. Fugir de algo que eu mal conseguia nomear, uma presença invisível que se aproximava, sempre à espreita, sempre a um passo atrás de mim.
O caminho se contorcia à frente, transformando-se em uma espiral sem saída, onde eu me perdia mais a cada curva, mais a cada respiração ofegante. Eu corria há séculos, fugindo de uma escuridão que, ironicamente, estava impregnada dentro de mim. Meus pés descalços tocavam o chão frio, enquanto as memórias, tão afiadas quanto lâminas, rasgavam minha mente. Eu corria para escapar de algo, mas no fundo eu sabia... talvez o que eu temia estivesse correndo ao meu lado, tão perto que eu podia sentir seu hálito.
"Porque é do coração que procedem os maus pensamentos, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias..."
Essas palavras giravam na minha cabeça como um refrão maldito, ecoando no compasso frenético das minhas fugas, nas noites insones onde os demônios vinham dançar ao redor da minha cama.
Tudo era um ciclo sem fim: a culpa, o medo, e a estranha sensação de que, não importa para onde eu corresse, o terror que eu tentava deixar para trás estava preso a mim como uma sombra inseparável.
Eu virei outra esquina, sentindo a carne arder sob o esforço. O suor escorria pelo meu rosto e o coração martelava no peito como um tambor de guerra. Lá fora, o vento zunia como um sussurro pecaminoso, levando consigo as orações que nunca fiz. Mas eu sabia que nenhum pedido de misericórdia iria me salvar; eu estava destinado a andar por aquele labirinto, tropeçando nas minhas próprias escolhas.
Cada porta que eu abria era mais um confronto com o passado. Vislumbres de noites abafadas, as risadas disfarçadas entre goles de bebida amarga, as mãos apressadas e os olhares furtivos que me lembravam de que eu já tinha me perdido muito antes daquela corrida desesperada. Eu tinha fugido tantas vezes que já não sabia o que era estar livre.
"Aquele que encobre as suas transgressões nunca prosperará; mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia..."
Mas como confessar algo que nem mesmo eu conseguia entender? Como pedir perdão por pecados que se entrelaçavam com o próprio tecido do meu ser? O rosto do Homem surgia nos meus pensamentos, rígido e julgador, como uma estátua de mármore esculpida pelo rancor e pela disciplina. A figura dele me perseguia mais do que qualquer outra coisa — não como um monstro, mas como uma promessa do que eu nunca poderia ser: redimido, perdoado, purificado.
O corredor que eu atravessava parecia levar a lugar algum, uma cadeia infinita de possibilidades que não eram realmente minhas. Meus pulmões queimavam, e eu me perguntava se aquele ar pesado e denso era o sopro dos meus próprios erros, se em cada parede estreita era um reflexo das mentiras que eu havia contado para mim mesmo.
"E quem é o homem que teme ao Senhor? Ele lhe ensinará o caminho que deve escolher."
Mas havia escolha para mim? Porque quanto mais eu corria, mais claro se tornava que eu não estava fugindo de um inimigo externo, de um castigo imposto ou de uma força implacável. O mal que eu tanto temia estava dentro de mim, costurado em minha carne e marcado nas minhas veias. O maior temor não era ele, nem o lugar, nem as noites frias e os portões sempre vigiados. Era a verdade muda que me atravessava em fatias: eu era a minha própria sentença.
Parei subitamente no meio do caminho, sentindo o peso de tudo o que eu havia tentado deixar para trás. O silêncio à minha volta não era apenas vazio; era o julgamento eterno do qual eu não poderia escapar. Meus olhos se fecharam, e por um instante, eu enxerguei a mim mesmo, despido de todas as máscaras e disfarces. O anjo caído, a promessa quebrada, o garoto que havia se perdido em sua própria escuridão.
E ali, naquele instante de clareza brutal, percebi que a verdadeiro crueldade que eu tanto temia não estava lá fora, mas aqui dentro, pulsando com a força de uma vida inteira de fugas. E não importa o quanto eu corresse, o labirinto não terminaria enquanto eu não aceitasse que, no fim, o maior algoz de todos era eu mesmo.
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En nombre del padre, amén.
FanfictionO internato católico de Saint Michael, isolado entre colinas austeras, era um lugar de regras inflexíveis e expectativas severas. Lá, os jovens eram enviados por pais conservadores, desesperados para os filhos serem "curados" de suas inclinações div...