07:30 da manhã e Johanne já está na porta do meu apartamento me apressando para as nossas aulas. Não sei qual a necessidade dela de se deslocar da casa dela até a minha todos os dias só para podermos ir juntos, ela morava praticamente do lado da universidade enquanto eu ainda levava uns 15 minutos para chegar até o campus.
Eu sempre gostava de me vestir de maneira confortável. Desde quando estava no ensino médio, até hoje em dia, sou muito fã de camisas de botão. Apesar da maioria das pessoas do Rio de Janeiro estranharem o jeito que eu me vestia – todo de roupa social naquele sol dos infernos – eu gostava de me arrumar para ir para minhas aulas e aqui não seria diferente, ainda mais agora que eu estava naquele clima gostoso de início de inverno.
— Até quando precisamos ir para o campus mesmo? – Joh pergunta encostada na bancada da cozinha com seu sobretudo amarelo mostarda, seu all star branco e sua crossbody antiga que ela usa desde a época da escola.
— Só mais essa semana e estamos livres. — Respondo enquanto me olho no espelho que tenho pendurado no final do corredor do apartamento. Hoje eu tinha optado por algo mais básico como uma blusa social branca, calça de alfaiataria preta e meu all star preto, a única peça a mais era um suéter preto e cinza para combinar com a minha mochila. Eu estava bem bonito hoje. — Como estou?
— Um gato. – Ela diz me olhando de cima a baixo. — Como sempre.
Volto para meu quarto e retiro o celular e o notebook da tomada e guardo o carregador do meu celular dentro da mochila. O bom de se morar sozinho e passar grande parte do tempo na rua era que eu gastava pouquíssimo com contas de luz, água e internet, por exemplo. Custos que graças a Deus eu conseguia pagar com meu salário da livraria que, por falar nisso, eu precisaria pegar um turno hoje pela parte da tarde. Coloco o essencial dentro da bolsa: meus fones, o carregador, um caderno sem pauta onde anoto meus pensamentos, um caderno sem pauta onde anoto minhas aulas, um estojo e meus óculos para leitura. Ah, meu protetor labial, não
posso viver sem isso.— Pronta?
— Eu estou sempre pronta, mi amor.
Descemos os quatro andares do meu prédio e andamos em meio a conversas sobre assuntos aleatórios até a estação de metrô mais próxima. Passamos as catracas e quando estamos esperando o metrô chegar, percebo um dos garotos da confusão no Mc Donald's de uns dias atrás. Não era o que me encarou durante o que pareceu horas. Era o garoto mais baixo. Day? Jay? Não lembro mais qual o nome que direcionaram a ele naquele dia, foi muita informação para um curto espaço de tempo. Ele estava de fones de ouvido e com um moletom preto grosso e a mochila nas costas. Parecia muito perdido em meio a qualquer outro pensamento e alheio ao que acontecia do lado de fora dos fones.
— O que está olhando? — Joh pergunta após perceber que eu estava ignorando seu monólogo sobre a festa de inverno dos veteranos de História.
— É um dos garotos da Mc Donald's.
Ela curva o corpo para frente e enxerga o garoto a alguns metros de distância de nós.
— O que apanhou ou o que deu um fecho no outro?
— O que deu um fecho.
— Ah sim, entendo. – Ela olha mais um pouco e depois se vira para mim de novo. — E por quê você está encarando ele? Achou ele gatinho? Pensei que não gostasse de homens baixos.
— O que você tem contra homens baixos? Eu não meço mais que 1,76. — Finjo estar ofendido com a fala dela.
— Não estou falando que você é baixo, estou falando que não sabia que agora você gostava de homens mais baixos que você.
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Meu lado físico do amor
RomansNoah está vivendo o sonho de qualquer adolescente que sonha em estudar literatura: está intercambiando Literatura Inglesa pela NYU. Carioca com um nome americanizado, Noah já está há 6 meses em Nova York com sua melhor amiga Johanne (Joana para os í...