Ethan

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Eu salvei ele mas não pude salvar você Sol. Eu queria ter salvo.

Sinto meu rosto molhar pelas lágrimas de arrependimento que escorrem pelo meu rosto mas são interrompidas por uma figura masculina que aparece segurando meu braço e me arrastando até o cubiculo do zelador enquanto reclamo.

Minhas costas batem na parede enquanto a porta se fecha e eu não consigo enxergar quem está na minha frente claramente, aqui é escuro e tem um cheiro forte de mofo com produtos de limpeza mas eu não consigo prestar atenção no odor pois o estranho pega a minha mão e coloca algo líquido que pra ser sincera é como se queimasse até a minha quinta geração e doeu mais que o próprio corte.

—Aí!

Solto como um grunhido alto tirando minha mão da dele e vejo brevemente em um feixe de luz os olhos castanhos escuros, pequenos e puxados em meio a escuridão me olharem de cima me jugando e puxando minha mão de volta pra si. Não acho que deveria estar aqui e não tenho uma sensação boa.

—Não gosto que Finn saia por ai agredindo garotas...

A voz baixa e grave dele é levemente rouca mas ao mesmo tempo suave como uma brisa, eu poderia ouvir essa voz o tempo todo sem me cansar so pelo prazer que é ouvi-la sem ao menos saber de quem é.

Ele passa uma pomada tirada de uma sacola pequena que tem em mãos.

Então ele viu o que aconteceu e ao invés de me ajudar me arrastou com a mão sangrando pra um lugar cheio de fungos, que menino sagaz quase um exemplo de bom feitor, deixo um sorriso escapar pela situação cômica e estranha em que me encontro talvez ele também tenha um motivo pra odiar a família Laverne ou talvez saiba das mesmas coisas que eu.

—Mesmo que seja uma insignificante como você.

A voz forte dele interrompe meus pensamentos enquando ele passa uma faixa sob minha mão ou algo como um lenço e descubro que não, ele é apenas mais um como eles.

—Idiota.

Murmurro sem pensar no momento em que concluo que na verdade todos nessa escola devem ser da mesma forma, ele solta minha mão e chega mais perto, esse lugar é tão apertado que quase não percebo, noto apenas que sinto sua respiração mais quente olho para cima procurando seus olhos e por mais um feixe de luz passando percebo oque fiz.

— Não conta pra ninguém, não quero que saibam disso, entendeu? Por favor para de ficar se rastejando pela atenção do meu irmão, eu vi você observando ele entre as aulas, você não é a Cinderela latina e não há de quê, bolsista.

Diz estendendo a sacola pra mim e não esperando eu pegar, a sacola bate no chão espalhando algumas coisas enquanto ele abre a porta e quando a luz bate em seu rosto vejo seus cabelos escuros caindo sob seus olhos puxados, eu engulo seco e posso confessar que ele é sutilmente atraente, na verdade em primeira instância parecia como se meus olhos não obesecessem meu cérebro e não consegui parar de olha-lo.

Ele coloca o cabelo pra trás me olhando mais uma vez com um olhar indescritível saindo irreverente como se nada tivesse acontecido.

—Isso foi ligeiramente xenofobico.

Falo comigo mesma mas alto caindo na realidade e me abaixando para pegar as coisas e escuto algo como alguém soltando o ar, não sei se para rir ou de raiva do outro lado da porta.

Pegando os itens do chão tem uma pomada, curativos e Antibactericida. a sacola é de uma farmácia que tem ao lado da escola, ele comprou isso pra mim? Ele pode só ser precavido e ter essas coisas no armário ou realmente poderia estar descontente pelas atitudes do irmão e ter se sentido mal por não ajudar.

Sento no chão encarando aquela sacola estúpida debruço-me sob meus joelhos sentindo cada vez mais o cheiro de mofo entrando pelas minhas narinas direto para meus pulmões cansados.

Não vou conseguir fazer isso, porquê eu fui chamar logo ele de idiota se eu poderia só controlar meus pensamentos como minha irmã Gaia disse que sempre fizera.

Gaia é a mais velha de nós quatro, ela se envolveu e casou com três homens antes de se libertar desse inferno, e claro, levou todo o dinheiro e a reputação deles junto com ela nesse processo, sairam dois acusados de agressão e acreditem em mim, eles eram culpados e depois de se apaixonar pelo terceiro e acabar de pagar as dívidas com a mãe se afastou de tudo para treinar as mais novas.

Stela, eu e sol.

Stela está em processo do segundo divórcio ou extorsão com um diretor de arte em algum lugar em Paris, segundo ela esse homem era um safado e traiu a última mulher e a deixou sem dinheiro e com dois filhos, Stela planeja dar uma parte do que receber para essa mulher de forma anônima.

E Sol... bem, Sol se foi antes de ter a chance da sua primeira aventura e antes mesmo de poder se defender e foi descartada por essa família literalmente como lixo tóxico em um lago frio. É como se ela nunca tivesse existido na minha "família", como se ela fosse fruto da minha imaginação deturpada depois de longos períodos acordada tentando focar nos ensinamentos de minha mãe, mas aconteceu, eu não tenho idéia de como a Finn Laverne a conquistou e nem consigo pensar no porquê de ele ter feito isso mas ele fez.

Finalmente recolho todas as coisas espalhadas e dentre elas vejo uma bala de caramelo, eu não vejo uma dessas a muito tempo e pensei que nem existissem mais.

Acho que ele esqueceu isso aqui mas oque não mata, engorda, logo me levanto abrindo o pequeno pacotinho que faz um barulho reconhecível colocando aquela na boca, isso tem um gosto característico de nostalgia, sorrio comigo mesma me deliciando naquele pequenininho pedaço de infância doce.

É como se eu estivesse naqueles dias novamente a 9 anos atrás, eu costumava comprar um minte dessas balas com a minha irmã pois era o único doce que dava pra esconder facilmente nos bolsos e quando o dia acabava nos encontrávamos no mesmo morro florido á cima do lago fundo e azul para comer todas as balinhas juntas.

Saio e percebo que agora já está tarde e as aulas acabaram, parece que eu fiquei parada divagando por horas, o corredor está vazio e não tem nem sinal de alguma alma viva nesse local sigo em direção da sala dos professores e vou em direção ao computador do professor de biologia, a aula é em duplas e lembro de ele ter dito que faria as listas hoje, tiro minha jaqueta da escola e jogo sob a câmera enorme que fica apontada para os computadores a cobrindo por inteiro, em uma escola tão cara ter apenas uma câmera velha em uma sala tecnicamente importante é uma lavagem de dinheiro bem da indiscreta... ou apenas falta de inteligência.

Uma senha de quatro digitos é disso que eu preciso pra acessar o computador dele, Joel é um professor pouco interessante mas tem muito orgulho da profissão (talvez pelo tanto de dinheiro que ele ganha nessa escola) e da família que é composta por uma mulher que ele diz ser o amor da vida dele e uma garotinha segundo o próprio "espetacular".

Folheio o calendário do lado afim de encontrar datas marcadas como aniversário de casamento ou da filha e curiosamente encontro as duas, 09/03 e 13/08.

Tento mas erro as duas, não consigo pensar em algo a mais, mas agora só tenho mais uma tentativa em um curto período de tempo até alguém perceber que a câmera está tampada.

Pensa, Luna.

"A sequência de Fibonacci é perfeita, é uma das coisas que me deixam mais empolgado em ensinar"

Oque todo professor de biologia colocaria como senha se pudesse?

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Bingo!

Assim que entro já tenho a lista aberta com os nomes mas tem um problema, não posso fazer dupla com Finn por que aparentemente ele odeia mulheres pobres e teoricamente eu sou uma e não posso colocar o Ethan pois nossa breve interação não me pareceu nada agradável pra ele. Escuto um barulho alto de porta abrindo e me apresso para sair daqui o mais rápido possível.

A vingança do séculoOnde histórias criam vida. Descubra agora