•Capítulo 1: Sombras da Biblioteca.•

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Ana Clara acordou com um sobressalto, o coração acelerado e a respiração pesada. Mais uma vez, os sonhos sombrios a haviam perseguido durante a noite, deixando-a inquieta e exausta. Ela se levantou lentamente, os primeiros raios de sol iluminando seu pequeno apartamento. As paredes estavam cobertas de livros, cada um oferecendo uma fuga, mas nenhum capaz de afastar completamente as lembranças do passado.

Depois de se preparar para o dia, Ana Clara se dirigiu à biblioteca onde trabalhava. Era um lugar tranquilo e silencioso, um refúgio para sua mente conturbada. Ela amava a sensação das páginas antigas sob seus dedos, o cheiro dos livros que a faziam esquecer, mesmo que por um breve momento, a escuridão que havia experimentado.

Naquela manhã, a biblioteca estava quase deserta. Ana Clara aproveitou a calma para organizar alguns dos livros mais antigos, aqueles que poucos se aventuravam a ler. Enquanto descia uma das escadas para alcançar um volume empoeirado na prateleira mais alta, ouviu o som da porta se abrindo e passos ecoando no chão de madeira.

Ela virou-se para ver quem havia entrado. No meio da luz suave da manhã, um homem alto e de aparência imponente se destacava. Seu rosto estava parcialmente coberto por uma barba bem cuidada, e seus olhos, profundos e escuros, pareciam penetrar em sua alma. Havia algo perturbadoramente familiar naquele olhar.

"Bom dia," ele disse, com uma voz tão suave quanto ameaçadora. "Eu sou Alexandre. Precisamos conversar."

Ana Clara sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Alexandre, o homem que havia destruído sua vida e desaparecido nas chamas da mansão, estava ali, parado diante dela, como um fantasma que voltara para assombrá-la. Ela recuou instintivamente, seu corpo tremendo de medo e raiva.

"O que você quer, Alexandre?" ela perguntou, tentando manter a voz firme.

"Vim esclarecer algumas coisas," ele respondeu, aproximando-se lentamente. "O passado não foi o que parece, Ana Clara. Há mais segredos, mais mentiras que você precisa conhecer."

Ana Clara queria gritar, expulsá-lo da biblioteca e de sua vida, mas algo na intensidade de seus olhos a impediu. Ela sabia que, apesar de tudo, ainda havia um fio invisível que os conectava, um laço de dor e paixão que não podia ser facilmente quebrado.

"Eu não tenho nada a dizer a você," ela murmurou, virando-se para voltar ao seu trabalho.

"Mas eu tenho muito a dizer a você," Alexandre insistiu, segurando seu braço suavemente. "Por favor, me dê uma chance de explicar."

Ana Clara olhou para ele, seus olhos cheios de lágrimas e raiva contida. Ela sabia que permitir que Alexandre entrasse novamente em sua vida poderia destruir tudo o que ela havia tentado reconstruir. Mas também sabia que precisava de respostas, precisava entender o que realmente havia acontecido para finalmente encontrar a paz.

"Uma hora," ela disse finalmente, com a voz trêmula. "Você tem uma hora para me contar tudo. Depois disso, você sai da minha vida para sempre."

Alexandre assentiu, a sombra de um sorriso triste cruzando seu rosto. "Obrigado, Ana Clara. Prometo que farei valer a pena."

Enquanto os dois se dirigiam a uma sala mais privada da biblioteca, Ana Clara não podia deixar de se perguntar o que mais poderia estar escondido nas sombras do passado. Ela estava prestes a mergulhar novamente em um mundo de segredos e perigos, e não havia garantia de que sairia ilesa desta vez.

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