- Capítulo Cinco -

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— Ela é a garota citada na profecia do Duallität.  É indubitável - começou uma voz que Eloá não conseguia decifrar quem era. Um longo e agudo zumbido em seu ouvido a impedia de discernir se conhecia realmente a dona da voz.

— Ela também é filha da Tecelã, isso não vai acabar bem - ponderou outra voz. Então a jovem sentiu as presenças, como se de alguma forma seu poder pudesse sentir a energia deles. Ela implorava a seus olhos, para que se abrissem, mas eles não queriam obedecer. Ela clamava a sua boca para que fizesse as perguntas sobre sua mãe, a profecia, o que era Duallität, o que tinha acontecido com ela e as outras que rodeavam a sua perturbada e dolorosa mente.

— Nós ainda não temos certeza dessa informação - comentou uma terceira voz, que fazia Eloá ficar confusa. Suas tentativas falhas de abrir os olhos ou até mesmo falar a irritavam. Não poder controlar seu corpo era diferente de não ter controle do seu poder. Era impotência. E ela não gostava dessa sensação.

— Ou até mesmo se herdou algum dos poderes de sua mãe - comentou a primeira voz, com um tom que a mestiça julgaria como preocupação - você achou mesmo que poderia escutar nossa conversa e eu não saberia que você já está acordada?  Precisamos fugir da Academia agora, antes disso, apague a memória dela, deixe um gatilho, se ela por acaso se lembrar, faça com que a volta das memórias seja acompanhada do mais puro pânico - falou direcionando-se aos dois que estavam junto dela.

A última coisa que Eloá ouviu, foram passos. Ela sentiu as perguntas, os pensamentos serem pescados um por um. Ela tentava lutar, mas as poucas forças que ainda tinha, estavam se esgotando. Ela sentia algo ser arrancado dela, mãos invisíveis agarrando as paredes de sua mente.

— Você é um labirinto completo, memórias protegidas pelos mais fortes feitiços. Você tem mais conhecimento do que pode imaginar, quebrada. É uma pena que seja tão fraca e inútil. Quer dizer, não para nós, não é mesmo? - comentou com um tom risonho. Assistindo a respiração de Eloá se tornar acelerada, enquanto as memórias daquele momento, eram arrancadas de sua mente.

A luz da enfermaria da Academia machucava os olhos da jovem, quando ela os abriu pesarosamente. Sua garganta estava seca, e as palavras formadas em sua mente arranhavam-a tentando sair.

— Ela acordou - ouviu alguem dizer. Sentiu uma mão ser pressionada em sua testa, fazendo-a recuar, mas nenhum visão do passado ofuscou sua mente - Não há mais energia sobrando em seu corpo - terminou, retirando rapidamente a mão da cabeça da jovem.

— Onde eu estou? - perguntou, acostumando-se com as luzes fortes, que aumentavam sua dor de cabeça - O que aconteceu? - finalizou, tentando sentar-se na cama que a haviam colocado

— Por favor, tome cuidado - a voz voltou a ser ouvida, agora mais alta e presente - Você ainda não me parece muito bem, não prefere permanecer deitada? - perguntou por fim, recebendo um aceno negativo como resposta, sendo obrigado a ajuda-la.

— Pode me trazer um copo de agua? - perguntou gentilmente, tentado falar o mais alto que conseguia, sem machucar ainda mais a garganta que implorava por um gole.

— Claro - respondeu de forma ligeira. Pegando uma jarra na cômoda ao lado da cama, servindo um copo, entregando-o para a jovem, que tomou o maior cuidado para que sua pele exposta, sem as luvas, não tocasse na dele. Ela até perguntaria sobre elas, mas o pensamento do que aconteceu a preocupava mais do que seu poder. Eloá prestou mais atenção no homem que a ajudava, reconhecendo-o.

— Você havia me defendido mais cedo, logo quando eu havia chego em Allous - falou, ganhando um sorriso de confirmação - Você é o médico da Academia? O que aconteceu comigo? - perguntou após tomar toda a água do copo, sentindo o alívio escorregar não só pela sua garganta, mas por todo o seu corpo.

Laços de Sangue - Legado & RuínaOnde histórias criam vida. Descubra agora