- Olha, filhinha, eu posso estar errado, mas ir sozinha a um lugar onde uma pessoa foi encontrada morta não parece uma decisão muito inteligente.
Chico caminhava ao lado de Luara enquanto ela seguia a trilha e as placas que indicavam o caminho até a cachoeira.
Com o cabelo preto amarrado em um rabo de cavalo e o conjuntinho cinza de legging, ela estava se sentindo atlética. Luara costumava gostar de se exercitar na academia perto de casa. Deixava o fone de ouvido no máximo e corria na esteira como se a sua vida dependesse disso.
Talvez ela começasse a fazer caminhadas na estrada que conectava Artemísia e a casa da vovó Luci. Só era uma pena não ter certeza de que seria atacada e morta durante o exercício.
- Não vou descobrir nada se continuar em casa, Chico - ela disse, afastando um galho baixo de uma árvore enquanto passava. - Preciso começar por algum lugar.
O senhorzinho a olhou de relance.
- Eu só me preocupo com você. Não quero que se junte ao meu plano.
Luara sorriu de lado.
- Se eu morresse, você faria a passagem comigo?
- Você sabe que sim. Porque então eu teria alguém com quem dividir a eternidade. Mas não quero que você morra, filha. De jeito nenhum.
Ela suspirou.
- Chico, você sabe que tem pessoas te esperando do outro lado, não sabe?
- Não tem ninguém.
- E a sua mãe? A sua irmãzinha?
- Minha mãe me desprezou desde o momento em que eu sobrevivi à febre e a minha irmã, não - ele disse sem encará-la - E a minha irmã... Ela só tinha três anos quando aconteceu. Eu não tenho ninguém do outro lado. Aqui, pelo menos, posso ver as coisas. E tenho a sua companhia.
Eles já tinham tido aquela discussão um milhão de vezes, desde quando Luara tinha nove anos e o senhorzinho se aproximou enquanto ela brincava de boneca.
Mais tarde, ela foi descobrir que Chico era o senhor mau-humorado que morava no terceiro andar do seu prédio e morreu de parada cardíaca sozinho em sua cama. Ele levou uma semana para ser encontrado.
Chico foi aposentado por invalidez aos 45, quando quebrou a perna em um acidente na construtora em que trabalhava. O osso não curou direito, por isso ele sofria de dores fortes e passou a se locomover com muletas pelo resto da vida. Não se casou, não teve filhos, os parentes distantes se esqueceram dele e Chico também nunca tentou se aproximar.
Luara costumava pensar que ele tinha mais companhia em morte do que em vida.
E ela gostava da presença dele. Era com Chico com quem conversava mais. Ele a divertia e a consolava desde que era uma garotinha, a tratando como a neta que nunca teve.
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SOS bruxas à solta
FantasyHá duas coisas muito importantes a serem ditas sobre as primas Luara e Ivy: 1) Elas são bruxas 2) Elas se odeiam É a combinação dos dois fatores que as fazem ser exiladas para o interior de Minas Gerais após uma briga durante um almoço de família. P...