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Luara esfregou os pulsos onde as plantas de Ivy a tinham agarrado

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Luara esfregou os pulsos onde as plantas de Ivy a tinham agarrado. As marcas vermelhas contrastavam com a pele branca e seriam difícil de explicar se seu círculo social não fosse limitado à mãe.

Ela ergueu os olhos dos pulsos e analisou o estado caótico da sala da avó. A rajada de vento tinha derrubado os porta-retratos que ficavam na mesinha da TV e feito toda a salada do almoço sair voando. O pedaço de alface pendurado na lâmpada era particularmente provocante. Era como se estivesse rindo dela e do seu descontrole.

- Como você fez aquilo? - uma voz baixa perguntou. Ivo tinha se aproximado do lugar no sofá onde Luara estava estirada, ainda com um copo d'água pela metade na mão. A mãe tinha insistido que ela bebesse um pouco e tentasse se recuperar. A quantidade de magia desperdiçada a deixou tão trêmula e enjoada que quase vomitou no tapete da avó. Era como se o mundo estivesse fora do eixo.

Ivo parecia não querer se aproximar muito dela. Ivy ainda estava perto das plantas que tinha destruído, tentando salvá-las mesmo com tia Carolina insistindo que não devia usar mais magia por um bom tempo. Por mais que Luara se desse bem com o primo mais novo nas poucas vezes que se viam, ela pensou que o menino não queria que a irmã o visse confraternizando com o inimigo.

- Você tá falando do vento? - Luara perguntou. O primo assentiu.

- Só aconteceu. Sua irmã me deixa com muita raiva. Às vezes escapa de mim.

Na maioria das vezes escapa de mim, pensou. Era por isso que ela não saia muito. Vivia com medo de si mesma. Do constante desequilíbrio que era.

- O nosso dom é parecido. Mas eu não consigo fazer nada do que você faz - Ivo disse, os olhos fixos no chão. - É um saco. Eu queria poder fazer coisas mais legais.

A magia deles não era parecida. Ivo não sabia das tempestades. Dos raios que às vezes tiravam quase tudo dela, só porque não podia guardar o que tinha dentro de si.

Era melhor que não soubesse.

- Você é um bruxo, Ivo - Luara disse. - Não um Avatar. A magia não funciona como nos filmes.

- Então como você chamou todo aquele vento? A minha irmã quase bateu a cabeça no teto!

Luara abriu um meio sorriso. Pelo menos aquilo tinha sido legal.

- Eu sou uma exceção - ela disse, só para não usar a palavra anomalia. Seria melodramático demais, até para ela.

Alguém pigarrou alto e de um jeito irritante.

- A gente tem que ir ver a vovó - Ivy chamou, os braços cruzados na frente do corpo.

O rosto dela estava molhado. As plantas continuavam destruídas, os galhos alongados espalhados pelo chão de uma forma bizarra.

Se Luara fosse podre como a prima, talvez jogasse aquilo na cara dela. Mas, por mais que Ivy quisesse pintá-la como um monstro, Luara não era tão ruim assim. Toda vez que a magia escapava e ela era responsável por algum tipo de desequilíbrio na ordem natural das coisas, a dor e a culpa também tomavam conta dela.

SOS bruxas à soltaOnde histórias criam vida. Descubra agora