six

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Wheezie lesley

—levanta.

Escutei vagamente a voz de ashtray e abri os olhos vagarosamente, levantando meu olhar até a janela, tentando distinguir que horas são.

A janela era bem pequena, e eu pude ver que ainda estava meio escuro, como se estivesse cedo demais.

—que horas são? —me sentei na cama, coçando os olhos.

—hora de treinar. —respondeu, e eu pude sentir o cheiro de menta misturado com maconha vindo de sua boca.

—treinar? —perguntei confusa.

Ash me encarou por alguns segundos como se fosse óbvio e eu me lembrei, porra!

—e porque tão cedo? —enfiei a cara no travesseiro.

—anda. —respondeu seco.

Revirei os olhos e me sentei na cama, o encarando, logo me levantei com o corpo meio mole.

—come isso. —ele me entregou algo embrulhado em papel alumínio, e eu o peguei, meio receosa e o encarando com a sombrancelha esquerda levantada. —porra! Não quer treinar de estômago vazio, né? Se voce morrer, não vou te socorrer.

Revirei os olhos e abri o papel, vendo um sanduíche com patê de frango, que parecia bem saboroso. O levei a boca e o mordi, sentindo aquele gosto maravilhoso do frango e da maionese explodirem em meu paladar, fazia tempo que eu não comia algo tão gostoso.

—onde você arruma essas coisas? —perguntei saboreando o sanduíche. —isso é bom 'pra caramba!

—tenho meus métodos. Agora come logo, não tenho o dia todo. — se sentou na cama e ficou me encarando comer, oque era meio estranho, mas eu não me importei.

Terminei o sanduiche e joguei o papel alumínio no lixo que havia no quarto. Fui ate a minha bolsa e peguei uma pasta de dente e minha escova, que eu havia ganhado aqui no reformatorio. Escovei os dentes rapidamente e prendi o cabelo em rabo de cavalo alto, no meio da cabeça. Guardei minhas coisas e voltei minha atenção a ash, que ja havia terminado de fumar seu cigarro de maconha.

O encarei por alguns segundos e ele arqueou uma sombrancelha.

—o cheiro incomoda você? —perguntou, referindo ao baseado e eu neguei.

O garoto deu de ombros e se levantou, ficando de frente pra mim.

—vamos logo com isso. Quanto antes, mas rápido me livro de você. —cruzou as mãos na frente do rosto, as esticando e se espreguiçando, o encarei perplexa.

—você é um idiota! —rebati, cruzando os braços.

—estou sendo sincero, azedinha. —deu um sorriso.

—azedinha? —fiz uma careta. —cara, vá se foder.

—ta, chega de enrolação, azedinha. —sorriu, e eu bufei com raiva.

—anda logo com isso, ashtray! Conviver com você também não é uma maravilha, sabia? —falei em tom debochado.

Ash não respondeu, apenas bufou e me encarou por alguns segundos.

—quero 50 flexões. —ele disse simples, se sentando na cama e eu o encarei, gargalhando como se aquilo fosse a melhor piada do mundo.

O tatuado me olhou como se fosse óbvio e eu arregalei os olhos, pera, ele tava falando sério!?

—não é possível! Eu não vou fazer isso! —cruzei os braços.

—faz parte do treino, caralho. —disse, estressado. —eu não tenho o dia todo 'pra você, wheezie.

Respirei fundo e agachei no chão gelada da cela, sentindo o contato do piso com a minha pele, me fazendo arrepiar por estar muito gelado. Fiquei na posição do exercício e comecei a fazer as flexões, e isso é tão difícil.

Ia pra cima e para baixo vagarosamente, sentindo a falta de ar me consumir. Apos a Decima flexão, eu ja sentia o suor se formando em meu corpo, levantei a cabeça para olhar o garoto e ele estava me encarando como se estivesse amando aquilo.

Na vigésima flexão o suor ja pingava pela minha testa e estava molhando minha camiseta de alçinha. Eu ja estava exausta, estressada e só queria que isso terminasse logo. No quadragésimo agachamento meu corpo não aguentou e foi direto ao chão, meus braços e pernas estavam tremendo e eu tentava recuperar o ar. Apoiei minha testa em meu braço e recuperei o ar aos poucos, enquanto ash permanecia calado.

Depois de alguns minutos jogada no chão que nem bosta me levantei, virada de frente para ele que me encarava como se eu fosse algum tipo de piada.

—fraca. —zombou e eu quis pular em seu pescoço.

—eu acabei de fazer QUARENTA agachamentos, não me estressa!

—eram cinquenta. —complementou.

—mas eu fiz quarenta, ja é demais, eu sou sedentária, porra! —cruzei os braços, me sentando na cama.

—qual é..não aguenta um agachamentozinhos? —debochou. —por isso que mckenzie vai te estourar, fraca desse jeito.

Eu odiava ser chamada de fraca. A vida todas as pessoas viviam dizendo que eu era forte e que me admiravam. Desde que minha mãe foi embora, esses comentários so aumentaram e desde então, eu não aceito ser fraca.

Quando vi, ja havia acertado um soco na bochecha de ashtray, que cobriu o lugar com a mão rapidamente. Coloquei as mãos na boca chocada e me afastei rapidamente com os olhos arregalados.

—ai meu deus! Me desculpa, eu não quis-

—foi boa até. —sorriu e virou o rosto para mim, dando para ver que o local onde eu o machuquei estava vermelho.

Franzi o cenho e levantei as sombrancelhas em seguida, ele gostou do soco? Que porra é essa?

—oque? Gostou do soco? Você é algum tipo de psicopata?

—fazia parte do treinamento.

—oque? —disse sem entender.

—o soco. Te irritei de propósito. Por sinal, foi muito bom até 'pra um fracote. —debochou e olhei o guarda vir abrir a cela.

E so ali notei que o céu ja estava bem mais claro.

Ashtray saiu da li, me deixando sozinha e meio chocada com esse "método" dele, eu literalmente o soquei e nem sabia que tinha coragem 'pra isso.



Reféns Do Destino | AshtrayOnde histórias criam vida. Descubra agora