ELOARA VALENTE
Arrumava minhas roupas com a sensação sufocante de despedida pairando no ar. A mala aberta em cima da cama, meu ex-namorado e atual marido da minha mãe, Rafael, movimentava-se pelo apartamento, carregando caixas com uma satisfação mal disfarçada.
Ele está vestindo apenas uma bermuda, exibindo um corpo musculoso com seus cabelos negros e curtos realçando a intensidade de seu olhar. Sua pele é de um tom bronzeado, destacando as tatuagens que adornam seu corpo.
— Não precisa ficar assim — Rafael começou a dizer quando entrou outra vez no quarto. — Sendo sincero, você nem deveria ter saído da sua casa, Elô.
— Você queria que eu ficasse embaixo do mesmo teto que meu ex comia a minha mãe? — Encarei-o fazendo uma careta de desgosto.
Rafael pendeu a cabeça para o lado e abriu os braços.
— Pô, pretinha! Eu não queria que você tivesse visto aquilo.
— Não? — Ergui a minha sobrancelha. — Eu lembro bem de você perguntando se eu queria participar de um sexo a três.
— Em minha defesa, você tinha acabado de ficar com o meu irmão e eu tinha bebido pra afogar as mágoas, mas não era motivo pra você sair da sua própria casa.
— Não vou discutir contigo, Rafael. Eu não sou mais nada para você.
— Porra, eu sou louco para me resolver contigo. — Sua voz carregada de esperança ecoava no cômodo. — Eu fiquei com a sua mãe por raiva e imaturidade quando você me dispensou, mas eu me arrependo todo dia.
— Se arrepende tanto que deu dois filhos para ela em menos de um ano. — Forcei um sorriso.
Rafael coçou a nuca para disfarçar a vergonha.
— O Guilherme nasceu tem duas semanas e você ainda não foi visitar o seu irmãozinho.
— Não tinha dinheiro nem pra comprar pão, imagina se ia ter dinheiro pra visitar alguém.
— Era só ter pedido ajuda.
— Seria mais fácil pedir ajuda se os últimos meses convivendo com você não tivessem sido apenas brigas. — Dobro uma calça jeans, a última peça de roupa, e coloco com raiva na mala.
— É, você realmente tinha muito ciúmes de mim com a sua mãe. — Ele se gabou e eu revirei os olhos.
— É melhor continuarmos essa mudança ou vamos acabar demorando demais.
— Certo, patroa. Ainda podemos falar sobre a gente depois.
— Não existe mais a gente, Rafael.
— Se você diz…
Rafael retomou a tarefa de carregar as caixas, sua silhueta se movendo de um lado para o outro, enquanto eu permanecia imersa na organização das minhas coisas.
Num instante de distração enquanto eu carregava o espelho do quarto para a sala de estar, ele escorregou das minhas mãos, estilhaçando-se no chão. O eco do impacto foi acompanhado por um grito involuntário que escapou de meus lábios, preenchendo o espaço com a sonoridade aguda da quebra.
— Droga! — praguejei, sentindo o latejar da dor do corte na palma da minha mão.
O barulho alertou Rafael, que subiu as escadas correndo, alcançando-me com uma expressão preocupada.
— O que aconteceu? Você está bem? — Suas mãos apalpam o meu corpo em busca de lesões.
— Estou ótima, só me cortei. Nada demais. — Tentei minimizar o incidente, mas o olhar dele denunciava que sabia que eu não estava bem.