Capítulo dois

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Ela costumava achar que os olhos de todos os vampiros eram iguais. Talvez ela estivesse errada em relação a isso.

Época atual

— Uma escolha tão infeliz e sombria. Que pai amoroso escolheria chamar a própria filha de Soraya?

Não me considero uma pessoa sensível. Como regra, deixo que as pessoas insinuem que sou uma decepção para minha família e minha espécie. A única coisa que eu peço é que mantenham essa merda longe de mim.

E, no entanto, aqui estou. Com o governador Davenport. Os cotovelos apoiados na sacada que dá para o pátio onde acabei de me casar. Reprimindo um suspiro antes de explicar:

— O conselho.

— Como?

Medir os níveis de embriaguez em humanos é sempre uma luta, mas tenho quase certeza de que o governador não está tão bêbado.

— O senhor perguntou quem me deu meu nome. Foi o conselho dos vampiros.

— Não foram seus pais?

Faço que não com a cabeça.

— Não é assim que funciona.

— Ah. Existem... rituais mágicos envolvidos? Altares de sacrifício?
Videntes?

É tão egocentricamente humana a suposição de que tudo que é diferente deve estar envolto no sobrenatural e no misterioso! Eles alimentam seus mitos e lendas, em que vampiros e licanos são criaturas da magia e do folclore, que lançam maldições e realizam atos místicos.

Acham que somos capazes de ver o futuro, de voar, de nos tornar invisíveis. Só porque somos diferentes, nossa existência deve ser governada por forças sobrenaturais, e não simplesmente pela biologia, como a deles.

E talvez por algumas leis da termodinâmica.

Serena também era assim quando a conheci.

— Então crucifixos queimam você? - perguntou ela algumas semanas depois de estarmos morando juntas, quando não consegui convencê-la de que o líquido vermelho viscoso que guardava na geladeira era suco de tomate.

— Só se estiverem muito quentes.

— Mas vocês odeiam alho?

Dei de ombros.

— Na verdade, não costumamos comer, portanto... sim?

— E quantas pessoas você já matou?

— Nenhuma - respondi, horrorizada. — E quantas você matou?

— Ei, eu sou humana.

— Os humanos matam o tempo todo.

— É, mas indiretamente. Quando deixam o seguro de saúde muito caro ou insistem em se opor ao controle de armas. Vocês sugam as pessoas para sobreviver?

Soltei uma bufada.

— Beber diretamente de uma pessoa é meio nojento e ninguém nunca faz isso.

Era uma meia verdade, mas na época eu não tinha certeza do porquê.

Tudo que eu sabia era que, alguns anos antes, Rafael e eu entramos na biblioteca e encontramos papai agarrado ao pescoço da conselheira. Rafael, que era mais precoce e menos pária social, cobriu meus olhos com a mão e insistiu que o trauma prejudicaria nosso crescimento.

No entanto, ele nunca explicou o motivo.

— Além disso, os bancos de sangue estão aí para isso. Para que a gente não precise machucar os humanos.

Noiva - Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora