Capítulo um

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Chove forte há três dias quando ela finalmente retorna de uma reunião com o líder do grupo do Big Bend.
Dois de seus ajudantes já estão dentro de sua casa, esperando por ela com expressão cautelosa.
— A mulher vampira... ela recuou.
Ela grunhe enquanto enxuga o rosto. Foi esperta, ela pensa.
— Mas eles encontraram uma substituta - acrescenta Cal, deslizando uma pasta parda pelo balcão. - Está tudo aqui. Eles querem saber se você a aprova.
— Vamos proceder conforme o planejado.
Cal solta uma risada. Flor franze a testa.
— Você não quer olhar a...?
— Não. Isso não muda nada.
Elas são todas iguais, de qualquer forma.

Seis semanas antes da cerimônia

No início da noite de quinta-feira, ela aparece na startup onde trabalho, quando o sol já se pôs e o escritório inteiro está cogitando lesões corporais graves. Contra mim.

Duvido que eu mereça esse nível de ódio, mas entendo. E é por isso que não faço um escândalo quando volto para minha mesa após uma reunião rápida com o gerente e percebo o estado do meu grampeador.

Sinceramente, está tudo bem.

Trabalho de casa noventa por cento do tempo e raramente imprimo qualquer coisa. Quem se importa se alguém espalhou cocô de passarinho no grampeador?

— Não leve para o lado pessoal, Sara.

Pierce se encosta na divisória entre nossas baias. Seu sorriso é menos de amigo preocupado e mais de vendedor de carros usados bajulador - até o sangue dele tem um cheiro oleoso.

— Não vou levar.

A aprovação das pessoas é uma droga poderosa. Sortuda que sou, nunca tive a chance de desenvolver esse vício. Se há algo em que sou boa, é em racionalizar o desprezo de colegas dirigido a mim. Treino como prodígios do piano: incansavelmente e desde a mais tenra infância.

— Não precisa suar de preocupação por causa disso.

— Não estou suando. Nem poderia - mal tenho as glândulas necessárias.

— E não dê ouvidos ao Walker. Ele não disse o que você acha que ele disse.

Quase certeza que foi "puta nojenta" e não "muita polenta" que ele gritou da sala de conferências, mas vai saber!

— Faz parte do trabalho. Você também ficaria furiosa se alguém fizesse um teste de invasão em um firewall no qual você está trabalhando há semanas e conseguisse invadir em quê... uma hora?

Talvez um terço disso, mesmo contando a pausa que fiz no meio, depois de perceber a rapidez com que estava penetrando o sistema.
Gastei essa pausa on-line comprando um novo cesto, já que o maldito gato de Serena parece estar dormindo no meu antigo sempre que preciso lavar a roupa. Mandei uma mensagem para ela com uma foto do recibo da compra, seguida por Você e seu gato me devem 16 dólares. Então me sentei e esperei uma resposta, como sempre faço.

Não veio. Não tinha expectativa de que viesse mesmo.

— As pessoas vão superar isso - continua Pierce. - E, ei, você nunca traz comida mesmo, então não precisa se preocupar se alguém vai cuspir na sua marmita.

Ele cai na gargalhada. Eu me viro para a tela do meu computador, na esperança de que ele vá embora. Mas, gente, como me enganei.

— Para ser sincero, é meio que culpa sua - continua ele. - Se você tentasse se entrosar mais... Pessoalmente, entendo sua vibe solitária, misteriosa, silenciosa. Mas algumas pessoas acham você distante, como se pensasse que é melhor do que nós. Se você fizesse um esforço para...

Noiva - Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora