Capítulo cinco

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Ela é resiliente. A outra tenta imaginar como se sentiria se estivesse na posição dela - sozinha, excluída, usada e descartada. Sente um respeito relutante por ela, e isso a exaspera.

Diferentemente do aperto de Max, o de Simone não machuca. No entanto, é firme. E a maneira que ela me pressiona contra a parede, como se estivesse tentando colocar seu corpo entre mim e o restante do mundo, faz com que seja difícil respirar sem colar todo o meu corpo no dela.

— Srta. Thronicke - diz ela com a voz rouca, quase um rosnado.

Engulo em seco por conta da súbita falta de lubrificação na garganta, o que me faz perceber onde a mão dela está: envolvendo meu pescoço.
Quase por completo. Seus dedos são tão longos que tocam o vale atrás das minhas orelhas.

— O que você pensa que está fazendo? - pergunta ela, a voz baixa e grave.

Aqueles olhos incomuns cravados nos meus. Meus batimentos cardíacos, que por um milagre permaneceram estáveis durante a luta com Max, de repente ficam mais fortes e em seguida se transformam em um lento alvoroço quando Simone abaixa a cabeça para murmurar junto à minha têmpora:

— Não tem nem 24 horas que nos casamos. Os louva-a-deus têm uma lua de mel mais longa.

Eu pude dominar Max com facilidade. Simone, de jeito nenhum. É a diferença entre um cachorrinho e uma loba violenta.

— Só, sabe... - minhas palavras soam vacilantes, não me orgulho disso - ... tentando evitar ser morta.

Simone se retesa por um milésimo de segundo e depois se afasta. Mas continua muito perto, as palmas apoiadas na parede de ambos os lados da minha cabeça - uma delas ainda enfaixada pelo ferimento de ontem.

Parece uma gaiola. Uma prisão improvisada que ela está construindo, feita com o seu corpo e o seu olhar, para me manter imobilizada enquanto ela se vira e pergunta a Max:

— Você está bem?

Max olha para ela e assente, os lábios tremendo. A esta altura já há vários licanos reunidos ao seu redor. Como Alex, que olha de Simone para mim com uma expressão de culpa tamanha que provavelmente admitiria fraude hipotecária sob a mais leve pressão. E também Julia, inspecionando Max com cuidado em busca de quaisquer ferimentos mortais que eu possa lhe ter infligido, assim como o homem mais velho e o ruivo da cerimônia, que me encaram como se eu tivesse acabado de dizer às crianças de um orfanato que Papai Noel não existe.

Todos neste corredor parecem prontos a estilhaçar meus joelhos, talvez comer o tutano depois. Isso, não.

— Com licença.

Tento me abaixar e sair da jaula de Simone para ir embora. Ela desce um braço, me prendendo com mais firmeza.

— O que aconteceu? - pergunta ela.

Julia é mais rápida do que eu na resposta.

— Ela estava prestes a sugar todo o sangue dele. Todos nós vimos.

Ela passa a mão pela testa úmida de Max.

Ele parece perdido por um tempo e então gagueja:

— E-ela estava em cima de mim. Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa. E... Ele inclina a cabeça, como se estivesse sem palavras.

Todos os olhos ali se voltam para mim.

— Ah, é sério isso? - digo, exasperada.

— As presas dela estavam tão próximas - sussurra ele, fraco, e agora estou ficando irritada.

Noiva - Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora