Dois dias depois da festa, eu ainda não tinha conseguido olhar na cara do Mateus, e o Rafa ainda não tinha voltado para a casa dele. Acho que, por causa do carnaval, os pais dele tinham viajado.
-Gente, vamos fazer alguma coisa! - a Lê disse.
Olhei pra ela e o Calango continuou:
-É! Faz dois dias que a gente só fica nessa casa! Vamos sair!
Antes que eu pudesse questionar, a Lê me puxou pro quarto e me forçou a tomar banho.
Quando voltei, ela já tinha separado uma roupa pra mim. Ainda bem que era calça jeans e camiseta, eu não estava nada afim de ir pra uma festa.Não me entenda mal, e nem ache que eu estou deprimida por causa do que aconteceu na festa, mas é que, sei lá.
Desci as escadas e já estavam todos prontos me esperando. O Rafa estava todo animadinho.
-Posso saber, pelo menos, pra onde nós vamos? -perguntei.
-Não! -eles responderam, em uníssono.
-Entra no carro logo! - a Lê disse.
-Ok, ok, não pergunto mais nada. -eu disse, levantando as mãos, me rendendo.
+++
-Já chegamos?
-Não, Letícia! É a milionésima vez que você me pergunta isso! -O Rafa disse.
-Ai, é que eu tô muito ansiosa!
-Você? Imagina eu! Eu nem sei pra onde nós vamos, e vocês estão fazendo tanto mistério! -eu disse.
-Já chegamos? -a Lê disse novamente.
-Não.
-Já chegamos?
-Não.
-Já chegamos?
-Não!
-E agora?
-A gente vai chegar quando a gente chegar!!
-E nós já chegamos?
-Não!!!
-E falta muito?
-Não sei!
-Como não sabe? Você é que está dirigindo!
-Raquel, faz ela parar!
-Mas nós já chegamos?
-Raquel, por favor!
-Chegamos?
-Chegamos!
-Então onde está?
-Não sei!
-Não chegamos nada, mentiroso!
-Ah, jura? -eu disse, me intrometendo.
-É sim!
Ela parou de falar por uns cinco minutos pra falar:
-E agora?
-NÃOOOOO!
-Credo, não precisa gritar!
-Ei, que malas são essas aqui atrás? -eu disse.
Eles fizeram uma cara estranha, e eu descobri.
-Não. Não. Não. EU NÃO VOU ANDAR DE AVIÃO.
Bom, acho que nunca contei isso pra vocês, mas eu sou órfã.
E adivinhe:
Meus pais morreram num acidente de avião.