Eva Moore
Não sentia nada quando olhava para o enorme crucifixo – com o corpo de Jesus Cristo, eternamente sofrendo e ensanguentado – pendurado na parede atrás do altar. Acho que nunca cheguei a sentir a fé, o fogo de ser preenchido pelo espírito santo, que minha família alegava sentir. Talvez tivesse algo de errado comigo. Talvez eu estivesse rezando errado, sem tanto fervor.
Talvez, ele só não quisesse me responder.
Talvez fosse por isso que eu estava com minha bunda pregada no banco duro de madeira da igreja, todo domingo de manhã – faça chuva ou faça sol – desde que me entendo por gente. Era lá onde eu ficava por uma, duas, três horas, ouvindo o padre ler o evangelho, seguido da homilia para então nos levantarmos em fila para comermos uma hóstia seca e sem gosto. Tinha que admitir que invejava o padre algumas vezes, por poder mergulhar sua hóstia em vinho.
—O corpo de Cristo – padre Anthony falou, talvez pela quinquagésima vez hoje, julgando pela monotonia em sua voz, ao colocar a hóstia na palma da minha mão.
—Amém – murmurei, enfiando aquela massa seca na boca, engolindo o mais rápido possível enquanto voltava para o meu lugar. Não queria que o gosto horrível de farinha de trigo ficasse grudado na minha língua.
Fiquei em silêncio o restante da missa. Já tinha ido em tantas que sabia fingir – e de forma muito convincente, por sinal – que estava imersa em orações, quando, na verdade, estava com minha cabeça em outro lugar. E, apesar dos meus joelhos doerem pelo tempo que passava ajoelhada, totalmente dedicada à minha atuação, eu gostava desse tempo que podia passar em silêncio, sem ser incomodada. Papai era religioso de mais para me repreender e mamãe nunca se atreveria a contrariá-lo.
Quando os ritos finais terminaram, eu fiz o sinal da cruz, encerrando a minha "oração" antes de me levantar para sair. Domingo, normalmente, era um dia calmo. Papai evitava discussões após comungar, o que geralmente significava que ele me deixaria quieta no meu canto, para fazer o que eu quisesse.
O caminho de volta para a casa foi rápido e silencioso. Não morávamos muito longe da igreja – apenas cinco minutos de carro, ou de dez a quinze minutos andando dependendo do dia. Quando chegamos, mamãe foi para a cozinha, preparar o almoço enquanto meus irmãos – John e Luke – e papai foram para a sala, assistir um jogo de futebol.
Ponderando entre ir para o meu quarto e me isolar ou ir ajudar mamãe com o almoço para não levar um esporro depois, decidi fazer aquilo que não me daria dor de cabeça mais tarde. Pelo menos, conversar com a mãe era mais fácil.
—Precisa de ajuda? – Perguntei, sorrindo sem mostrar os dentes. Aquele sorriso que se dá quando não se sente exatamente feliz, mas não quer demonstrar que está desconfortável.
Ela assentiu, abrindo um sorriso simples – mas bem mais sincero do que o meu – antes de me pedir para cortar as cebolas para colocar no assado. Cozinhamos em silêncio pela maior parte do tempo, trocando apenas algumas perguntas e instruções durante a tarefa.
Era fácil ficar perto dela. Mamãe sempre tinha sido mais amistosa comigo do que papai. Não que eu me lembre de um dia que ele realmente demonstrou afeto comigo.
Não importava, de qualquer forma.
—Amanhã vou chegar tarde em casa – avisei, começando a colocar a mesa – Preciso começar com algum extracurricular, se quiser entrar numa boa faculdade.
—Que horas acha que chega? – Mamãe perguntou, parecendo preocupada. Notei que ela tinha parado no meio do caminho para a mesa enquanto carregava a travessa com o assado.

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Devious Temptation
RomanceEva nunca se sentiu verdadeiramente conectada com o Divino; ela se sentia quebrada, vazia. Apenas uma casca do que deveria ser. Até a noite em que adentrou as ruínas de uma igreja e, ingenuinamente, se colocou no caminho da tentação. A partir desse...