Pontos de vista

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“Nada é tão fácil quanto parece.”
– Lei de Murphy –

𖢰

Há quatro anos estava sendo abandonada por alguém que deveria ser confiável. Mas até hoje, ouço nitidamente o som da confiança se partindo e estraçalhando vez após vez, num looping infinito que se repete até que meus pensamentos se tornem incoerentes. Onde a tristeza e mágoa dão espaço à aversão e, de certa forma, acho que nunca me livrarei desse maldito karma que tem me atormentado. Quero dizer, um dos muitos, mas ainda sim é o maior de todos eles.

Acho que algumas atitudes com a volta repentina de um dos meus maiores problemas, causou estranheza por parte de algumas amigas que não sabem do que aconteceu. E convenhamos, seria bom que realmente não soubessem mais que o necessário. Mesmo que Christine, que presenciou todo o ocorrido da época saiba de tudo e mais um pouco, confio que é somente ela com quem tenho que me preocupar.  

Ele prometeu que ficaria, e não ficou. Sondou o meu território e se mostrou alguém pacífico, com cara de quem não me traria muitos problemas. Me conquistou aos poucos, mas no fim tudo pareceu acontecer num piscar de olhos. Confiei tanto que entreguei meu corpo em uma noite que poderia jurar ser a melhor da minha vida, e de repente tudo acaba. 

Definitivamente, Ele é a causa da minha dor..

Ele se foi sem muitas explicações como se tudo tivesse sido absolutamente nada. Me colocando na posição mais substituível e insignificante possível, reduzindo meus sentimentos a meros segundos de prazer. E olhando agora, após tanto tempo percebo que o tempo inteiro aquela era sua única intenção. E quando finalmente conseguiu o que queria, ele se foi. Não haviam mais motivos que o fizessem ficar. 

Vê-lo novamente me causou uma tremenda estranheza e vários questionamentos do tipo: “Porquê ele voltou?”, “Por qual motivo ele veio justamente até mim, como se nada tivesse acontecido?”, “Por quanto tempo ele irá ficar?” e “O que eu devo fazer?” 

São questionamentos válidos, mas não tenho respostas para nenhum deles e isso é frustrante. Fora os traumas infindáveis que todo esse circo me trouxe. Onde sequer consigo me relacionar normalmente com mais ninguém desde então e, sinceramente, tenho vontade de sumir no mundo.

Mas como que some do planeta com míseros três reais no bolso? 

Já dizia o burro do Shreek:
“Quando tudo isso terminar vou precisar de terapia. Olha só meu olho piscando.”

Penso, penso e penso, mas no fim decido sair de casa para correr um pouco. A intenção é correr como uma louca na rua, mas me visto a caráter para não parecer tão desesperada e fingir que estou fazendo uma meia maratona. Talvez seria bom voltar a praticar atividades físicas além da musculação. Preciso espairecer um pouco dos problemas e enxotar o sedentarismo para fora de mim. 

Saio de casa já tropeçando nos cadarços que jurei ter reforçado e rogo para que eu ao menos volte viva. 






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– Qual é Jungkook! Tá com medo de falar com uma garota? É sério?– Ele faz uma careta e juro que nunca vi Dylan tão desacreditado como agora. Mas sabia das chacotas que iria sofrer nas suas mãos e isso era o suficiente para fazer minhas mãos suarem. 

– Primeiro que não é qualquer garota. – Tento parecer convincente – Segundo, você viu o jeito que ela me ignorou naquela festa? – Repuxo o colarinho da camisa mais uma vez enquanto me remexo sobre a poltrona. 

Ironicamente, após aquele assunto vir à tona, não conseguia achar nenhuma posição confortável.  

– Eu vi sim, e pelo visto ela tinha bons motivos. Que merda tu fez? – Claramente desconfiado ele franze as sobrancelhas grossas, cruzando os braços por cima do peito. 

Num suspiro ruidoso, evito o contato visual lembrando dos meus motivos.

– Ah, é difícil de explicar cara.. 

– Talvez ela esteja namorando alguém. Geralmente as garotas ficam mais ariscas do que o normal quando estão com outro cara. – RM diz, opinando pela primeira vez depois de um tempo calado. 

Ele bebe um Monster em goles generosos até demais e fico com sede, mas tenho preguiça de levantar. 

– Ela não parecia estar com alguém naquela festa. – Digo, meio incomodado e meio afetado por imaginá-la com outra pessoa. É inevitável, mas sequer consigo me repreender por me sentir assim. 

– Aquilo parecia mais um encontro de amigas. Não significa que ela não tenha um namorado só porque não está com ele nos mesmos lugares. – Dylan fala novamente e empurro a língua contra a bochecha. Se ele continuasse insistindo naquilo, que eu ao menos sabia se era verdade ou não, cometeria uma atrocidade. 

– Tá, mas uma coisa não dá pra negar. Ela é muito bonita. Não me admira que o Jk esteja com medo de chagar nela. – Mostro o dedo do meio, por um fio de esbarrar minha mão fechada naquela cara sínica. – Será que eu tenho chances? 

O mal do ser humano é não saber a hora de parar. Tento e me esforço muito pra não arremessar o controle mais próximo que tenho da sua cara, mas é inevitável. Dois segundos depois temos um grito e uma testa avermelhada. 

RM, que eu sequer vi que saiu, já estava retornando para a sala do pequeno apartamento. Com o telefone em mãos ele para com cara de paisagem, entendendo toda a cena familiar. 

Brigas assim eram comuns entre nós, infelizmente. E ele sabia muito bem disso. 

– Vocês parecem duas crianças encapetadas, fala sério! – Ele revira os olhos em tédio – O Hoseok me ligou, estranhamente triste e motivado ao mesmo. Disse que quer conquistar a Christine e precisa da nossa ajuda. 

Contorço o nariz em desaprovação. 

Era meio vergonhoso o fato de ele pedir a nossa ajuda como se fôssemos experts no assunto. Bem cara de adolescentes do segundo ano do colegial. Não que tenhamos nos provado muito maduros nesses últimos minutos, mas, ainda sim era estranho. 

– Vamos passar na casa dele pra ver qual é a desse papo furado – Ele suspira, como se estivesse fazendo um grande esforço para um amigo – E fora que a Boony também vai estar lá..

Ele joga no ar e como um peixe, cego por comida, caio na armadilha mordendo a isca com gosto. Me interessando de imediato ao ouvir aquele nome tão familiar.

Talvez ajudar Hoseok não fosse um grande fardo. Na verdade, parando pra pensar, não devemos deixar nossos amigos na mão. 

Quem sabe eu não consiga me aproximar um pouco mais. 







LEI DE MURPHY:

Se alguma coisa pode dar errado, ela dará.

Corolários: 
          1.Nada é tão fácil quanto parece.

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⏰ Última atualização: Jun 20 ⏰

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𝐋𝐄𝐈 𝐃𝐄 𝐌𝐔𝐑𝐏𝐇𝐘 - ᴀ ᴛᴇᴏʀɪᴀ ᴅᴏ ᴄᴀᴏꜱOnde histórias criam vida. Descubra agora