ᴀᴘᴀʀɪᴄᴏᴇꜱ ᴘʀᴇᴏᴄᴜᴘᴀɴᴛᴇꜱ

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"Se você está se sentindo bem, não se preocupe, logo passa"
- Lei de Murphy -

𖢰

Era deveras humilhante a situação em que me encontrava. 

Menos sóbria do que nunca, a visão turva e as luzes neon faziam a minha cabeça girar e o estômago, pouco habituado ao álcool, querer colocar tudo para fora. 

Eu não deveria ser tão imprudente, ou talvez, tão facilmente manipulável. Mas em minha defesa sinto que deveria estar deixando as emoções do momento tomarem as rédeas daquele fim de semana. E olhe que ainda estamos na sexta-feira. 

— Como o ser humano pode ser feliz em apenas dois dias na semana e o restante parecer que alma foi vendida pro capiroto sem permissão? — Pergunto, muito provavelmente falando sozinha.

Naquela altura do campeonato, já devia estar no terceiro ou quarto shot de tequila da noite e antes disso, nem sequer lembrava o que já havia ingerido de alcoólico. Beberico mais um pouco e sinto o sabor intenso misturado com sal e limão, pensando na azia que aquilo me traria logo pela manhã.

A vida de uma jovem adulta, com seus 23 anos recém completados, vivendo em New York City com um cachorro, um emprego/estágio de meio período duvidoso e uma faculdade de medicina nas costas definitivamente não era nada fácil.

Mas bem, eu estava em NY. Que tecnicamente deveria ser a cidade do sucesso. Então estou por aqui apenas confiando no processo. 

– Não sabia que você era esse tipo de bêbado.. – Diz Ullyana, sentando na banqueta livre ao meu lado direito.  – Fica aí falando em línguas estranhas como se precisasse de um exorcismo. Deus me livre!

A Russa exclama, sorvendo um pouco do seu drink cor-de-rosa. Estava falando em português, minha língua materna. A qual poucos estavam acostumados a ouvir e que aparecia aqui e acolá em momentos despretensiosos ou quando estava desorientada.

– Mas quem disse que não estou? – Pergunto com um olhar tedioso, batucando a ponta dos dedos no balcão de mármore – Sinto que a qualquer momento posso descarregar até as tripas na pessoa mais próxima que tiver. – Digo com um leve sorriso, vendo a loira contorcer o rosto numa expressão de nojo. 

O bartender que passava por perto chacoalhando uma bebida qualquer, sorri soprado ao escutar a reclamação. Sinto náuseas.

– Se quer um conselho, é melhor pegar leve no álcool e tomar uma água de côco antes que seja tarde..– Ele diz simpático, mas só consigo reparar no sorriso bonito e nos dentes bem cuidados. – Quer algo pra comer? Tem uns petiscos ótimos ali do outro lado. – Ele ri novamente e por um segundo me sinto envergonhada. 

– Relaxa, esse é o último. – Sinalizo com a cabeça em direção ao copo quase vazio e sorrindo de volta. Ou pelo menos tento, já que minha cara parece meio paralisada. – Foi só o modo de falar. Vou seguir o conselho, obrigada!

A fala sai arrastada enquanto tento ignorar o formigamento que corria pelas pontas dos dedos das mãos, pés e que adormecia minha língua. Denunciando até demais sobre minha condição atual que como falei no início, é realmente humilhante. Mas mantenho a simpatia e contenho a cara contorcida do enjoo.

Apoio os cotovelos no balcão enquanto aperto o lóbulo da minha orelha, brincando distraída com os pequenos brincos pendurados vendo o rapaz se afastar rapidamente para atender outros clientes. 

Balbucio alguma coisa que nem mesmo eu entendo e decido que já está na hora de ir. Mas o que vejo ao virar em direção a multidão consegue ser ainda pior do que o vômito entalado na garganta.

𝐋𝐄𝐈 𝐃𝐄 𝐌𝐔𝐑𝐏𝐇𝐘 - ᴀ ᴛᴇᴏʀɪᴀ ᴅᴏ ᴄᴀᴏꜱOnde histórias criam vida. Descubra agora