Único

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Os finais de semana costumavam ser caóticos na casa que Yeosang dividia com o irmão mais velho. Os ensaios da banda eram barulhentos e impossíveis de serem ignorados. Não que o Kang achasse as músicas ruins ou algo do gênero, apenas não conseguia se concentrar em mais nada com o som alto, especialmente porque seu quarto ficava bem ao lado da garagem. 

Às vezes desistia de estudar e se juntava aos outros garotos na garagem, mas nos últimos tempos, mais especificamente quando Jongho trouxe o irmão mais velho para substituir o guitarrista antigo da banda, ficar ali o deixava muito mais irritado do que de costume. 

Talvez porque Choi San fosse bonitão demais para ignorar, com todos aqueles sorrisinhos charmosos que mantinham a fama dos guitarristas — especialmente os alfas — lá no alto, embora não fosse esse o ponto. 

Todos eram tão encantados por ele e, sinceramente, Yeosang não tinha motivo algum para desgostar do loiro, exceto pelo fato de Wooyoung ter grudado no garoto como chiclete na sola do sapato. Sempre que via os dois juntos, sentia o estômago embrulhar e a urgência absurda de sumir de casa até que tudo estivesse em paz novamente.

Conhecia Wooyoung desde o primário, praticamente. Embora o Jung fosse uma borboleta social, totalmente o oposto do Kang, construíram uma amizade que por muito tempo Yeosang pensou ser inabalável. 

Enquanto Yeosang o ajudava com os estudos, Wooyoung sempre o fazia se sentir mais à vontade com as pessoas, tornando tudo mais animado com sua risada escandalosa e abraços não requisitados. 

Eram uma boa dupla, até que as coisas começaram a ficar um tanto estranhas entre os dois. Mesmo no século XXI, os relacionamentos entre ômegas não eram bem vistos, como se fossem alguma espécie de junção abominável e antinatural, por isso quando percebeu o tipo de sentimento que começava a nutrir pelo melhor amigo, o primeiro pensamento que teve foi fugir. Não queria estragar o que tinham construído, porém também não queria que as pessoas olhassem estranho para os dois caso — na mais remota possibilidade de ser recíproco — Wooyoung o correspondesse. 

E assim o tempo passou, com a amizade dos dois se tornando cada dia mais distante, até o momento em que se formaram e Yeosang começou a frequentar a faculdade. Não era um garoto de exatas e nem mesmo de humanas, embora fosse um ótimo aluno, por isso escolheu ciências biológicas, já que não precisava de tantas habilidades sociais para lidar com plantas ou outros organismos não humanos.

As coisas poderiam seguir o rumo normal da vida e pensou que poderia até superar sua primeira paixão platônica, mas quando Seonghwa — irmão mais velho e filho do primeiro casamento da mãe — resolveu montar uma banda de garagem, tudo desabou como um castelo de cartas.

Nem em seus piores pesadelos imaginou que veria Wooyoung como baixista. Não que ele não se enquadrasse no conceito da banda, apenas não se lembrava de em algum momento da vida tê-lo visto demonstrar o menor interesse em qualquer instrumento musical.

De toda forma, agora era obrigado a conviver com ele por muito mais tempo do que gostaria, o que tornava tudo ainda mais difícil para sua catastrófica vida amorosa. 

Não tinha boas referências quando se tratava de relacionamentos. A mãe já estava no terceiro casamento, vivendo com um empresário nos Estados Unidos, deixando Seonghwa, que era apenas três anos mais velho, como responsável pela casa. Sinceramente, o irmão tinha muito mais talento para administrar uma casa do que a matriarca da família, por isso foi quase um alívio quando ela decidiu se mudar e deixar a casa para os irmãos. 

Não fazia a menor ideia de onde o pai estava e o mais perto de contato que tinha com ele eram algumas ligações esporádicas em datas comemorativas. Até onde sabia, os pais haviam se casado apenas porque a mãe estava grávida na época e, com um filho pequeno de outro casamento, resolveram se juntar e ver o que acontecia. A verdade é que não aconteceu e os dois se separaram quando Yeosang tinha cinco anos. Desde então, a mãe pulava de um relacionamento a outro e, segundo ela, amor era coisa de filme adolescente, fruto do capitalismo para vender presentes no dia dos namorados. 

Por que sempre o guitarrista? [woosang]Onde histórias criam vida. Descubra agora