𝐄𝐒𝐂𝐀𝐏𝐄 𝐓𝐇𝐄 𝐌𝐀𝐙𝐄, the 100⚔︎

[𝟘𝟙𝟙] - Confissões Silenciosas

╰┈➤ "uma vida inteira sendo eu e ainda sou um mistério pra mim"

Caminho atrás do terrestre em silêncio, a noite avançando e envolvendo-nos em sombras espessas. Ele não se volta para mim, mantendo o olhar fixo adiante, enquanto carrega a fera nas costas. A cada passo, meu coração bate mais forte, um misto de medo e curiosidade se mesclando em meu peito.

Depois de um tempo que pareceu uma eternidade, chegamos a uma clareira. Me recordei que aquele lugar é mesmo onde encontramos Octávia presa.

No centro, uma caverna se ergue, sombria e ameaçadora. Caveiras adornam a entrada, seus olhos vazios parecendo me observar, como guardiões macabros. Um arrepio percorre minha espinha, e hesito por um instante, mas o terrestre continua sem se deter.

Ele entra na caverna, e eu, relutante, o sigo. O interior é ainda mais assustador, com sombras dançando nas paredes de pedra e a luz de uma fogueira tremeluzindo ao fundo.

Meu salvador deposita o corpo do animal no chão e começa a acender tochas, iluminando parcialmente o ambiente.

— Este é o seu lar? — pergunto, minha voz ecoando nas paredes da caverna.

— Por enquanto. — responde ele, sem me olhar. — Sente-se. Não vá mexer em nada.

Obedeço, sentando-me em um canto, observando cada movimento seu.

— Por que me salvou? — pergunto, quebrando o silêncio. — Duas vezes.

Ele para por um momento, ergue o olhar e me encara. Seus olhos são penetrantes, cheios de histórias não contadas.

— Você estava em perigo. — responde simples, voltando ao seu trabalho.

— Mas isso não faz sentido. — insisto. — Nós torturamos você. Não tinha motivos para me ajudar, e você me mostrou o frasco com o antídoto.

— Motivo? — ele repete, com uma leve risada sem humor. — Quem disse que precisa haver um motivo? Às vezes, as coisas simplesmente acontecem.

— Eu sei que tem um motivo. Caso contrário, você não teria um desenho meu. — respondo, faminta por respostas.

— Eu salvei você porque achei que era outra pessoa. — ele responde, e eu franzo o cenho.

— Então por que me salvou hoje? Imagino que, quando você me salvou pela segunda vez, já sabia que eu não era quem pensou que fosse da primeira vez. — pergunto, desafiando-o.

— Porque preciso de você. — ele diz, deixando-me surpresa. — Talvez você consiga convencer minha líder a fazer um tratado de paz com seu povo. Ela só aceitará falar com você.

Fico em silêncio, digerindo suas palavras enquanto ele prepara algo para comermos, mas não é a fera que eu havia matado. Ela está no chão em um canto, enquanto ele trabalha com outro animal de pequeno porte.

Não entendo por que ele precisa de mim para um tratado de paz. Quem é sua líder? E por que ela só falaria comigo?

Ele termina de preparar um animal que parece ser um coelho e coloca pedaços na fogueira, o cheiro de carne assada se espalhando pela caverna.

— Aqui. — diz ele, estendendo-me um pedaço. — Coma. Vai precisar de forças.

Pego o alimento, ainda desconfiada, mas faminta demais para recusar. Enquanto como, observo-o atentamente. Há algo nele que me intriga, uma complexidade que não consigo decifrar.

— Como se chama? — pergunto, tentando puxar conversa.

Ele hesita por um momento, como se decidisse se valia a pena responder.