Todo casal briga

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A manhã passou em um borrão de aulas e olhares hostis. Cada olhar maldoso me atingia como uma farpa, mas me mantive firme. Pensava no meu novo emprego e como aquela oportunidade poderia mudar nossa vida. Após a aula, me despedi de Jenna com um beijo rápido.

— Boa sorte no trabalho, amor — ela disse, sorrindo.

— Obrigada. Vai ficar tudo bem, ok? — respondi, tentando esconder minha ansiedade.

No caminho para o trabalho, meu coração acelerava. Seria minha primeira vez no novo emprego, e eu estava nervosa. Entrei no café onde trabalharia e fui recebida pela gerente, uma mulher sorridente chamada Carol.

— Bem-vinda, Sn. Vou te mostrar o lugar e te apresentar ao pessoal — ela disse, me levando para dentro.

As próximas horas foram intensas. Aprendi a operar a máquina de café, a organizar os pedidos e a atender os clientes. Apesar do cansaço, me sentia orgulhosa. Estava contribuindo para nosso futuro, mesmo que fosse um pequeno passo.

POV: Jenna

Chegar em casa sem Sn era estranho. O apartamento parecia mais vazio e silencioso. Sentei-me no sofá e comecei a estudar, mas meus pensamentos voltavam sempre aos meus pais. Eu ainda acreditava que eles viriam atrás de mim. Apesar de tudo, tinha esperança.

O tempo passou lentamente até que ouvi a chave na porta. Sn entrou, exausta, mas com um sorriso no rosto.

— Como foi o trabalho? — ela perguntou, os olhos brilhando de curiosidade.

— Foi bem. Estou morta de cansaço, mas gostei — respondi, jogando minha mochila no chão e me jogando no sofá ao lado dela.

— Que bom, amor. Estou orgulhosa de você — ela disse, dando-me um rápido beijo na bochecha.

— O que está fazendo? — perguntei, tentando parecer casual enquanto olhava para a tela do laptop. Imediatamente, reconheci os rostos familiares. Uma foto dos pais de Jenna.

— Só estava vendo algumas fotos antigas — ela respondeu, sem perceber a mudança no meu humor.

— Fotos antigas? — minha voz saiu mais fria do que eu pretendia. — Jenna, por que você ainda está olhando para essas fotos?

Ela parou, surpresa com meu tom.

— São meus pais, Sn. Eu sinto falta deles.

— Sente falta deles? Eles te abandonaram! — a frustração em minha voz era evidente. — Como pode ficar se apegando a isso?

— Eles são minha família, Sn. Você não entende — a voz dela começou a tremer, e ela fechou o laptop com força, colocando-o de lado.

— Eu sou sua família agora! — retruquei, levantando-me do sofá. — Por que não pode aceitar isso e seguir em frente?

— Porque não é tão simples assim! — ela também se levantou, os olhos brilhando com lágrimas não derramadas. — Eu não posso simplesmente esquecer minha família, minha vida antes de tudo isso!

Eu dei um passo para trás, tentando controlar minha raiva.

— Não estou pedindo para esquecer, mas ficar se apegando a algo que não vai acontecer? Isso está nos impedindo de seguir em frente.

— Você está sendo insensível — ela disse, a voz baixa, quase um sussurro. — Às vezes, parece que você não se importa com o que eu sinto.

— Me importar? Eu me importo tanto que estou tentando proteger você da dor — minha voz estava alta, quase gritando. — Mas parece que você prefere viver na ilusão de que eles vão voltar.

Ela se afastou de mim, lágrimas escorrendo pelo rosto.

— Eu não quero discutir sobre isso agora. Estou cansada — disse, virando-se e caminhando para o quarto.

Fiquei ali, olhando para a porta fechada do quarto, sentindo a frustração e a dor crescendo dentro de mim. Peguei minha mochila e me dirigi para a cozinha, precisando de algum espaço para respirar. 

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