Quarenta e três

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Helena Müller

Eles me deram comida.

Bom, ele. Aquele homem deu comida para mim.
Depois de quase deixar meu rosto em carne viva , ele fez isso.

Era uma espécie de mingau , a textura me deu náuseas .

O mesmo se sentou na cadeira encostada no canto da parede . E pousou a tigela ao lado dos seus pés .

- eu sei que você está morrendo de fome , amanhã será o quarto dia aqui !

Baixei a cabeça , me sentindo fragmentada.

Sentindo meu rosto doido e pesado , me arrastei até a tigela , não tinha nenhum talher . Só a tigela de metal com a comida gosmenta .

- quê? Coma com a mão!

Engoli em seco , minha garganta arranhando . Quando peguei a comida com minha mão a levando para boca , a fim de descobrir o sabor e se talvez morreria envenenada , ouvi o mesmo gargalhar .

- wow! Você parecia ser uma mulher tão elegante andando com o seu filho por aquele condomínio de luxo e olha só ? Comendo comida com as mãos parecendo um animal!

Olhei para cima , quando senti o flash nos meus olhos . Ele estava me filmando .

- para! Para com isso!

Tentei impedir de continuar me filmando . Era humilhante .

A dor da alma , sentia minha essência violada . Minha integridade .

Minha sanidade .

- não precisava ter vergonha Helena Müller , é só um videozinho . Uma lembrança para mim .

- Agora come tudo !

A feição antes tranquila , se transformou puxando meus cachos agora secos e sujos em um punhado .

Era uma espécie de arroz cozido em água somente, senti o sabor do açúcar e isso me acalmou ... eu estava sem ingerir açúcar já a muito tempo .

Estava tão atrapalhada comendo , e sem perceber me sujava que nem uma louca .

Fiquem 4 dias sem comer , e eu direi quem é o louco .

- deve ter mais calma senhora Müller , a comida não vai fugir .

Ele ainda me gravava , agora lágrimas saiam compulsivamente dos meus olhos .


Em algum momento eu tinha apagado no sono , meu corpo foi despertado com o som de tiros . Mais quando tentei me levantar senti como se o chão estivesse balançando .

Olhei a volta , eu já não estava no quarto de hotel espelhado , e sim dentro de um contentor de carga .

Como eles me trouxeram até aqui?
Fechei os olhos , me sentindo idiota .

A comida tinha sonífero!
Tinha um espacinho no contentor tipo uma fresta, que dava para mim enxergar o que acontecia fora .

Estávamos numa espécie de plataforma , vi o mar . Mas não estávamos a deriva e sim no Porto .

" porra! Falta pouco para sairmos , empatem eles"

Era a voz daquele homem.ele falava de um radinho com os outros .

" estamos tentando mas são muitos aqui em baixo"

" morram se for preciso"

Ele disse deitando o radinho no chão , e gritei de susto quando o mesmo olhou pela fresta , denunciando que sabia que eu espreitava tudo .

E os tiroteios continuavam , eu ouvia eles a distância .já que o Porto era gigantesco , era do tamanho de uma cidade poderia dizer .

Ele deu a volta , entrando no contentor .

- parece que o seu marido conseguiu nos achar , não esperava menos dele!

Para alguém que tinha acabado de ser pego , ele estava muito tranquilo .

- sabe... essa missão me daria mais dinheiro e importância dentro do conselho da Bratva, mas eu sinto que ganhei algo a mais .

O mesmo se aproximava de mim , e eu me afastava me espremendo naquele cantinho do contentor grande de cargas.

- eu ganhei a atenção do grande joesefh Müller, ninguém no submundo tinha sequer chegado perto de ver o rosto dele . Mas eu consegui invadir o sistema de segurança que ele tanto se vangloriava ter criado.

As mãos grandes pousaram delicadamente a volta do meu pescoço , e se trincaram como uma tesoura afiada , me enforcando .

Ele vai me matar.

- eu acompanhei toda a rotina da mulher dele e do filho dele , e eu vou fazer questão dele nunca mais esquecer o meu rosto ... eu sei que eu vou morrer , estou sem escapatória .

Tentava me defender a todo custo ,tentando arranha-lo com minhas unhas , tento morder o pulso do mesmo , mas ele não me solta .

O olhar frio directamente no meu , íris com íris . Éramos duas almas lutando .

Uma para matar e outra para viver .

- Mas você vai comigo Helena !

"Muitas felicidades! Muitos anos de vida . Eu e seus irmãos amamos você Helena , feliz 18 anos querida"

"Esse é o tenente Müller, fomos companheiros de guerra"

" o dia está quente, eu podia te dar uma carona até o supermercado Helena"

"ESQUECE QUE SOMOS SEUS IRMÃOS Helena , NÓS OU ELE"

"Essa agora é a nossa casa Helena"

" É um menino ! Helena , é um menino ! Enquanto a vó estiver viva nada vai acontecer com esse pequeno"

O nascimento de charles foi a última memória , até meu corpo começar a ceder á escuridão .

Isso era morrer? Parecia calmo demais.

Silencioso demais ! Essa era a morte?
Pacífico demais.

Eu estou tão cansada.
Eu quero descansar !

Apaixonada pela guerraOnde histórias criam vida. Descubra agora