11.

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5 da tarde

Estava com alguns copos a mais, mas nada que me fizesse perder a consciência. Prometi a Inês que não perdia o controlo até à troca de vestido, que era só para o corte do bolo. Tinha uma noite inteira para perder a cabeça, pelo que aguentava bem a ir petiscando e a beber uns cocktails, sem exagerar.

O ambiente estava incrível. Não tinha ido a muitos casamentos ainda, mas estava a ser o melhor até agora. A música ambiente tinha sido escolhida a dedo, a decoração de todo o espaço e a paisagem verde culminavam no cenário perfeito. Mais importante do que isso, os noivos estavam contentes e a aproveitar cada segundo.

- Tens de tirar uma foto comigo, Beni. - Carolina puxou a minha mão e arrastou-me até ao grupo de pessoas que se juntavam a um muro. - Esta paisagem deixa qualquer selfie melhor.

Gargalhei com o entusiasmo da morena, mas aproveitei para retocar o batom, antes de qualquer foto. Sentia-me verdadeiramente bonita. Queria aproveitar a súbita confiança para fazer todas as recordações possíveis, pelo que aceitei todas as fotos e ainda tirei algumas sozinha.

- Estão a ligar-te.

João entregou-me o telemóvel, interrompendo assim a divertida sessão. Afastei-me deles quando vi que era o meu pai a tentar entrar em contacto. Vindo dali, nunca sabia o que esperar, mas duvidava que fosse para saber como estou ou se está a ser divertido.

- Sim?
- Olá, Benedita. Está tudo bem?
- Comigo sim. E com o pai?
- Também, obrigado.

Esperei que continuasse, sabendo que tinha mais para me dizer. Ou questionar.

- Estou aqui a concluir as coisas para a campanha, queria alinhar consigo os dias em que pode vir cá a casa.
- Ir a casa fazer o quê?
- Gravar o tal vídeo que sugeriram ser com a família e tirar umas fotos, já tínhamos falado disto.

Ouvia a minha mãe no fundo, mas não percebia bem o que dizia. O meu pai tinha o dom de ignorar todas as vezes que discordávamos com ele e tentar levar sempre a dele avante. Comigo não iria resultar, visto que herdei parte da teimosia.

- Eu já tinha dito que não participava.
- Pois, Benedita, mas diga-me como vou justificar que tenho duas filhas e uma delas não quer participar. Por birra? Vão pensar que falhei na educação.
- Ou antes que tem filhas capazes de pensar pela sua cabeça e com liberdade para tomarem as suas próprias decisões, sem um pai castrador...

Ouvi-o rir, embora sem vontade. O nervosismo começava a crescer em mim, pelo que queria terminar a chamada o mais rápido possível.

- Castrador? A Benedita é mesmo privilegiada e é incapaz de reconhecer isso. Pior, de retribuir da forma mais simples tudo o que lhe dei. Não é só o meu futuro que está em causa, mas o da família.
- Pai, podemos falar disto noutra altura? Estou no casamento da Inês e
- Festas, jogadores e amigas mimadas como a Benedita. O seu trabalho rende assim tanto para deixar o estúdio parado?
- O estúdio não está parado e felizmente, sei bem gerir o negócio. Ainda não me deu prejuízo.
- Se lhe dá tanto lucro pode então pagar o aluguer do espaço.
- A sério, pai? Isto é algum tipo de chantagem?
- Entenda como quiser. Se é incapaz de fazer algo pela família que sempre a apoiou, eu vou parar de fazer tudo o que posso por si. A partir de agora, não pago mais o aluguer do seu espaço.

Ainda ouvi o meu pai a reclamar com a minha mãe, após esta ter voltado a interferir, mas logo lhe desliguei na cara. Não acreditava no tipo de chantagem que estava a fazer comigo, nem em todas as insinuações que fez a meu respeito.

cruel summer ✩ rúben diasOnde histórias criam vida. Descubra agora