Nos corredores do colégio municipal de Crystales, Hilana faz mais uma vítima. Desde que entrou no jardim de infância, a menina de cabelos vermelhos e olhos pretos não intimida as pessoas para descontar suas inseguranças nem frustrações. Ela faz por puro prazer. Gosta de se sentir mais forte e faria qualquer coisa para inflar seu ego e sua ambição.
Entre todas as pessoas que ela intimidava, uma menina em específico se destacava. Kureiji Tamura. Aluna de intercâmbio do Japão, não se comunicava com ninguém de forma alguma, não expressava reação alguma, para nada. Não tremeu, gemeu, nem agonizou ao ter a sua pele cortada pela primeira vez por Hilana. A única coisa que sabiam sobre ela, seu nome em japonês significa ‘louca’, o que já é um motivo e tanto para o bullying impossível que sofria na escola por todos.
Para a ruiva, ela era apenas um zero à esquerda. Uma simples boneca de testes que não liga para nada e nunca seria um problema para ela.
Hilana estava terminando de guardar seu material em seu armário, até que sentiu um arrepio em sua espinha quando uma voz aveludada e doce ecoou em suas costas.
-Hilana. Podemos conversar? - Ao se virar, Kureiji estava parada olhando para ela. Seus cabelos escuros destacavam sua pele branca com seus olhos infinitos que encaravam a menina com um leve desdém. Pela primeira vez em sua vida, ela estava intimidada.
-O que você quer comigo? Está louca de vez?! - Sua voz trêmula, mostrava o esforço que ela estava fazendo para não desviar o olhar e não demonstrar fraqueza.
-Gostaria de saber, o porquê do Bullying que prática. Não se importa minimamente com as pessoas que intimida?
As palavras de Kureiji entraram na cabeça de forma que a fizesse ela arrepiar novamente. Não que ela se importasse com as outras pessoas, mas algo no tom da voz deixava ela levemente desconfortável. Como forma de reação, ela empurra a menina, derrubando-a no chão e fazendo ela bater a cabeça no armário do outro lado do corredor.
-Não se mete na minha vida. Você não faz ideia do que eu sou capaz de fazer.
Ao ver Kureiji passando a mão na cabeça e a sujando com sangue, um certo remorso surgiu em sua mente. Mesmo com sangue em mãos, Kureiji manteve a expressão neutra de sempre, e apenas levantou se, encarou Hilana e continuou andando seguindo seu caminho.
Pela noite, já em sua casa, de repente pula uma mensagem no celular de Hilana. Um número desconhecido havia mandado um emoticon.
-:)
-Você já ouviu falar da lenda de Hanahaki?
-Hanahaki é a lenda japonesa de uma doença que faz com que a vítima vomite pétalas de flores.
-Se a pessoa não se curar logo,
- Seus órgãos são cobertos pelas pétalas, levando-a à morte.
No mesmo momento em que a mensagem chegou, a campainha irrompeu pelo silêncio da casa, ecoando de maneira sombria, fazendo com que seu corpo gelasse. Na porta, havia uma caixa preta fechada, como se estivesse esperando por ela há séculos. O que viu dentro a fez dar um salto para trás, perdendo o equilíbrio e caindo desamparada no chão.
No chão de sua casa agora, havia diversas higanbanas que se espalharam como se fossem gotas de sangue pelo carpete. No centro, estava um coração pulsante, que ainda estava fresco e coberto por sangue como se tivesse sido arrancado do corpo a pouco tempo.
Incapaz de desviar o olhar, Hilana apenas encarava o sangue se espalhando em sua sala paralisada sem conseguir se mexer. Seu corpo tremia levemente e suas mãos suavam frio enquanto o odor metálico invadia suas narinas, fazendo seu corpo se arrepiar por inteiro. Quando uma figura se materializou em sua porta quebrando o silêncio.
-Fica tranquila, parece que nunca viu sangue antes. - Kureiji estava parada em sua porta, apenas encarando o pânico de Hilana subir por suas veias. - A mancha sai com bicarbonato e álcool. Cuidado com o cheiro.
Hilana continua encarando Kureiji que a olhava de volta de maneira extremamente desconfortável. Até que ela soltou um bufo de decepção e entrou se abaixando perto dela para recolher as plantas do chão,formando um pequeno buquê e entregando-o para ela.
-Muitos diriam que a culpa da doença se espalhar, é da própria pessoa que não tomou cuidado, e não buscou uma cura. Mas por ser algo do coração, a pessoa não tem tanto controle sobre os próprios sentimentos, o que a torna vulnerável para pessoas ignorantes. Para não acabar com flores na garganta, temos que cuidar do nosso interior. - Ela levanta a cabeça voltando a encarar a menina que ainda estava no chão - Eu espero que você tenha entendido o que eu quis dizer. - Ela se levanta e estende a mão para levantar a menina dando um sorriso. Ela encara a menina e sai pela porta a fechando, deixando Hilana sozinha com as flores e o coração, que ainda pulsava levemente enquanto o sangue continuava se espalhando pelo chão deixando uma mancha que não sairia tão cedo.
Já se passaram 3 horas desde o ocorrido. A menina após um bom tempo olhando a cena horrorizada, limpou a mancha e se livrou de tudo, até mesmo do seu pijama que agora estava empestado de sangue. Ela agora se encontrava em seu quarto deitada na cama apenas com a luz da lua cheia iluminando seu rosto que permanecia encarando o teto tentando se lembrar se foi um surto ou realmente havia acontecido. Ela sabia que não ia dormir tão cedo para a escola amanhã.
Obrigado por ler até aqui :) Tenham um bom dia e sejam gentis!!
Bjos de L.Sesya 🤍
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O carma de Hilana
TerrorCrystales é uma pequena cidade do interior que poucas pessoas conhecem e menos ainda visitam. A cidade já teve seus tempos de glória quando o maior hospital infantil do mundo ainda estava aberto por lá. Mas após um incêndio, tudo foi por água abaixo...