Um

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Ethan

De todos os infortúnios que me pertencem, acho que o pior deles é o fato de que eu sonho demais. Porém, ao mesmo tempo, talvez esse seja o meu único acerto. Eu diria que isso molda 90% da minha personalidade, tudo se resume aos meus sonhos. Bom, talvez seja porque eu estou no auge dos meus 15 anos. Um dos meus sonhos mais recentes é conseguir ter uma boa reputação no Brasil. Eu nasci na França e estou emigrando para um novo país pela primeira vez, tudo por conta da origem latina da minha mãe.

Já era de se esperar que eu fosse me mudar alguma hora, porque os meus pais sempre diziam: "Quando vocês completarem quinze anos nós vamos nos mudar para o Brasil" ou algo tipo isso. Mas se passou tanto tempo que eu tinha até me esquecido.

Eu não me sinto tão preocupado porque eu não sou tão ruim na língua portuguesa. Eu sempre assisto seriados nesse idioma e acompanho youtubers brasileiros, também por influência da minha mãe. Eu gosto bastante! Vai ser demais, eu não preciso me preocupar.

Eu retiro tudo que eu disse.

Ando pelas ruas de São Paulo que não parecem ter fim. Eu só consigo pensar em como é a minha casa nova e se a escola do Brasil tem gente legal. Janeiro já está acabando e daqui a pouco eu irei iniciar ciclos novos. Casa nova, escola nova, pessoas novas. Isso é assustador, muito assustador.

As casas daqui são muito estranhas. Elas têm muros com cacos de vidro em cima e portões giganormes na frente. Ando pela calçada e as vezes tomo sustos com os cachorros que aparecem de repente latindo como loucos atrás dos portões. Eu deveria andar na rua? Minha mãe se diverte com tudo aquilo.

- Chegamos! - exclama minha mãe com entusiasmo, enquanto aponta para a casa pintada de cor de salmão com sua janela e porta de madeira escura na frente, que dão um ar extremamente rústico e brasileiro para a residência.

Ela abre o grande portão e eu sou o primeiro a pisar no chão feito de caquinhos de cerâmica de cor terrosa do quintal. Me parece meio antiquado, mas se eu olhar com carinho para eles até que são fofos.

- Bom, até que é legal. - Murmurou Eloise, a minha irmã gêmea. Acho que ela está no mesmo estado de confusão que estou. Eu não pensei que iria ser tão diferente assim...

Quando eu estou com meus pais, eu não falo muita coisa, a não ser que eu esteja brigando com eles.

Por dentro, a casa é dividida em quatro espaços: um cômodo mediano para a cozinha e a sala de estar, o banheiro e dois quartos, um dos meus pais e um quarto ridiculamente pequeno para eu dividir com a minha irmã. Bom, até que é aconchegante...

- É meio estranho, não? Por que não tem banheira? E nem la salle de bain? - Pergunto, meio aflito.

- Você pensou que ia ser tudo igual antes, garoto? Eu mandei vocês dois estudarem sobre como as coisas são aqui. Eu avisei, eu avisei! - repreende minha mãe.

De repente, me arrependo fortemente de ter jogado Stardew Valley ao invés de saber mais sobre como são as coisas no Brasil. Meu Deus! Eu vou passar tanta vergonha por aqui...

Eloise não diz nada. Ela parece muito ocupada ao observar os espaços.

Fora que mudança é uma chatisse. Meus olhos reviram apenas de pensar que eu vou precisar ajudar na limpeza, no arrasta-arrasta de móveis, na organização...

- Ethan, Eloise! Um dos caminhões de mudança chegaram. Ajudem a gente a pegar as caixas!

- Que saco! - reclamei, mas quando ela me lançou seu olhar de desprezo, amarrei meu cabelo e fui ajudá-la junto com o resto da família.

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