Sagrado amor profano. Impuro amor profundo.

1.5K 182 58
                                    

A estrada estava completamente vazia, altas horas em alta velocidade. Tão veloz quanto a culpa consumindo seu corpo e o arrependimento corroendo sua mente. O cotovelo apoiado na janela aberta e a mão esfregando a testa a cada cinco segundos, enquanto a outra segurava firmemente o volante. Odiando cada milésimo de segundo lembrando de todas as falas cuspidas de sua boca e do sorriso crapuloso que desenhava os lábios daquele que tira sua paz.

Ignorando todos os semáforos vermelhos assim como gostaria tanto de ignorar a existência de Jisung. Não se importando nem um pouco com as multas que chegariam depois, sua mente estava muito longe de se preocupar com penalidades.

Virou a esquina da rua onde Jisung mora, intencionalmente forçando mais o motor do Mustang Dark Horse para deixar todos cientes, principalmente o Han, de que não iria parar de aparecer ali tão cedo.

Estacionou de qualquer jeito em frente a casa, puxou o freio de mão com força e bateu a porta com a mesma rigidez, nem se importando em conferir se tinha travado o carro.

O vento extremamente gélido parecia queimar sua pele, mas enfrentá-lo não era pior do que engolir o próprio orgulho. Tarde demais para se arrepender. Estava ali para exterminar a própria soberba e validar mais uma vez o domínio que Jisung tem sobre todos os lados de sua vida.

Não tocou a campainha, entrou direto. Também não estranhou a porta destrancada.

Jisung sabia que voltaria.

As luzes do andar debaixo apagadas denunciavam que o Han nem ao menos se deu o trabalho de sair de seu quarto, esperando que seu “algum-status-de-relacionamento” voltasse correndo para poderem brigar de novo, proferir palavras carregadas de raiva e terminar tudo gemendo o nome um do outro, envoltos pela luz vermelha neon disfarçando a fumaça que os entorpece.

Subiu as escadas pulando de dois em dois degraus, sem paciência de ser politicamente correto, afinal nunca fez nada sendo correto.

O corredor estava igualmente escuro, exceto pela luz que escapava pela porta do quarto do Han entreaberta. Silêncio por completo, seus passos ecoavam pelas paredes pouco decoradas.

Com certeza Jisung sabia da sua presença.

Fez questão que ele soubesse.

Empurrou a porta, fleumático — bem oposto de quando chegou ali. Se incomodou com a atenção que não recebeu do outro. Diferentemente de como abriu a porta, a fechou com mais brutalidade, implorando sem dizer uma palavra sequer, que as orbes escuras pousassem sobre seu rosto.

O que não aconteceu.

Ficou parado assistindo o Han tirar dos lábios seu cigarro, tragando a fumaça e soprando o que sobrou para o teto.

— Voltou? — Jisung perguntou retórica e — quase — friamente. Os olhos focados na tela do celular, provocando em Minho uma vontade de jogar o aparelho pra longe — Demorou dessa vez.

— Eu não ia voltar — murmurou tentando passar indiferença e confiança.

Jisung riu soprado.

— Está querendo enganar a si mesmo, Minho?

Silêncio.

Não tinha argumento.

— Não tem resposta? — puxou mais uma vez a fumaça do baseado, aproveitando de olhos fechados a sensação — Você tem ideia do por que não consegue se livrar de todos esses sentimentos confusos que fazem você voltar correndo pra mim? — com um sorriso canalha, finalmente encarou Minho — Por acaso você consegue viver sem mim, Minho?

Travou a mandíbula, irritado com a provocação de Jisung. Mais irritado ainda porque não sabia rebater, afinal de alguma forma as constatações tinham fundamento.

sagrado profano • minsungOnde histórias criam vida. Descubra agora