Tomás
O sol começara a se esconder entre às árvores. As cores que foram projetadas pelo poente eram de um tom laranja lindo. Elas coloriram as paredes da biblioteca em uma obra de arte fantástica. Repousaram nos cabelos de Tomás em forma de aréola, pintando seu cabelo preto de âmbar. Mas ele não reparara no que acontecia à sua volta. Encarava o teto como se monstros fossem saltar a qualquer momento.
Sentado numa cadeira, tinha uma postura um tanto quanto estranha. Seus ombros estavam encostados no encosto, enquanto o quadril estava no começo do assento. Sua coluna fazia um arco. Tomás tinha sua nuca apoiada na borda superior do encosto. Preocupação marcavam suas feições.
Tivera a ideia de vir a biblioteca para pensar um pouco. Embora tivesse pessoas, aquele lugar era sempre calmo e silencioso. Pensara bem onde iria ficar. Observara onde tinha mais pessoas e escolhera o lado oposto. A biblioteca não era tão grande, mas também não poderia ser atribuída como pequena. Em frente das estantes de livros ficava as mesas de grupo e na lateral da última estante, que era paralela à saída, ficava as mesas individuais. Só haviam pessoas nas mesas de grupo. Tomás escolhera ficar na mesa individual perto da estante da seção terror. Movera a cadeira para estar de frente para a estante e de lado para a janela.
A briga com seu pai o deixou estressado. Sentia um peso em seus ombros. Não suportava toda aquela responsabilidade que lhe exigiam. Dessa vez ele foi longe demais, pensou, me mandar para um internato? O que ele acha que eu sou? Se ele acha que pode mandar em mim à sua vontade como faz com seus empregados, está completamente enganado. Não serei seu lacaio. Seus sentimentos afloraram. Se ele acha que estou sendo tenaz, ele não viu nada ainda. Posso muito bem ser pior.
Sua concentração foi interrompida por alguém que lhe dirigiu a palavra. Não ouvira o que ela falara e não lhe interessara. Tomás mexeu a cabeça para vê-la melhor. O cabelo dela era como as ondas de um mar revolto, estava parcialmente preso por uma fita laranja claro causando um pequeno contraste com o tom vermelho cobre do seu cabelo. Seus olhos estavam arregalados, não por medo ou susto, mas por está preocupada. Um pequeno sorriso amigável surgiu em seu rosto.
— Sente algo? — Ela puxou uma cadeira para sentar ao seu lado. — Você não parece bem — continuou.
Tomás gemeu baixinho.
— A senhorita me desculpe, mas não tens algo melhor para fazer?Camélia
Camélia estava arrumando os livros na prateleira. Ela adorava organizar os livros. Sua paixão foi herança do irmão. Ele cuidava da biblioteca sempre organizada, limpando e repondo os livros. Agora era Camélia quem administrava tudo isso. Ela caminhou à uma mesa recolhendo os livros que alguém deixara ali. Faltavam poucas mesas para serem arrumadas.
Haviam somente quatro pessoas na biblioteca, nesse horário não havia muito movimento. Organizou os últimos livros na prateleira da seção de economia. Fitou as pessoas que ainda permaneciam. Um jovem que muito provável estava a paquerar escondido, segurava a mão de uma moça sussurrando com entusiasmo algo do livro que lia. Um homem no canto concentrado em seus estudos, anotava tudo que achara importante no seu caderno. Camélia deduzia se estavam prontos para ir embora.Uma das pessoas lhe chamou a atenção. Bem ao fundo da biblioteca perto de uma janela, ele estava sentado olhando o teto. Estava tão imóvel que era difícil dizer até mesmo se estava piscando. Não tinha livros consigo.
Camélia caminhou em direção à seção terror. Mexeu, desinteressada, os livros na prateleira. Olhara de soslaio para o rapaz. Ele não demonstrou notar sua presença. Camélia aproximou-se dele até só restar a mesa entre eles.
— Está tudo bem com você? — ela tentou contato, mas a resposta não veio. Muito menos aparentava que ele ouvira. Seus olhos permaneciam vincados no teto como se visse algo nele.
— Não pretendo atrapalhar você, mas não posso ignorá-lo quando aparenta estar à beira da morte. — Observação um tanto exagerada. Manteve o tom suave e doce, não querendo o assustar — vai acabar assustando as pessoas aqui presentes — brincou. Temeu que suas palavras pudessem ser ofensivas. — Tudo bem. Estou fechando mesmo.
Ele reposicionou a cabeça encostando-a no ombro para olhar a jovem. Pressionou os lábios pálidos até formarem uma linha. Ele possuía fortes olheiras sobre os olhos. Sua aparência apática preocupou a pobre Camélia.
— Sente algo? — Alcançou uma cadeira. Ela colocou a mão na mesa e inclinou o corpo para perto do rapaz. — Você não parece bem.
— Hum. — Ele fechou os olhos por um breve momento.
Camélia temeu que ele estivesse sentindo dor.
— A senhorita me desculpe, mas não tens algo melhor para fazer? — a indiferença era nítida em sua voz. Sua grosseria não incomodou a jovem.
— Percebo que não está em um bom dia — concluiu ela apoiando o rosto na mão. Tomás desviou o olhar dela, não queria conversar.
— Há algo que eu possa fazer?
— Por que não cuidas da sua vida?
Um pequeno sorriso surgiu no rosto de Camélia.
— Ora. Eu zelo muito bem por ela. E também, posso tentar ajudar você. Uma coisa não anula a outra.
— Se você diz — ele deu de ombros. — Então, como podes me ajudar? — Cruzou os braços sobre o peito. — Por algum a caso, também estás passando por problemas familiares?
— Ponto interessante. A quais problemas familiares você se refere?
Tomás revirou os olhos.
— Sabe, os de sempre: a sumir o negócio da família, pai autoritário.
— Desculpe, esqueci que estou a conversar com o filho do barão.
— Como sabes? — será que é confidente do meu pai?, indagou-se, estaria aqui a mando dele?
— Por que tamanha surpresa? Todos sabem de quem és filho.
Ele tentou trazer palavras para sua boca, mas só conseguiu abri-la sem falar nada. O espanto era evidente em seu rosto. Tomás podia ser filho de um Lorde mas era extremamente alheio dos assuntos diversos.
— Dissestes todos? — as palavras quase falharam de sua garganta.
— Sendo absorto nesse nível, não me surpreenderia se eu ficasse do lado do seu pai.
— Se falas isto, então seu pai deve ser um anjo.
— Ele com certeza era um ótimo pai — havia ternura em suas palavras.
— Era? O tempo o deixou ranzinza?
— Ele partiu há alguns anos.
Seu choque foi tão grande que ele pôs-se reto à cadeira. Desvio sua atenção dela e baixou a cabeça. Como fui tão tolo por não perceber?
— Perdoe-me. Foi indelicado da minha parte dizer aquilo. — Olhou em seus olhos para dizer o que lhe parecia certo. — Eu sinto muito pelo seu pai. Eu faço qualquer coisa para reparar meu desrespeito.
— Não se preocupe com isso — ela lhe deu um sorriso acolhedor. — Já faz muito tempo.
— Mas eu ainda quero recompensa-la pelo meu erro.
O badalar do relógio marcara às seis horas.
— Já está tarde. — Ela levantou e pegou um livro na prateleira. — Se quer fazer algo por mim por que não repensa sobre seu pai. Se ele exige de você é porque tem expectativas. E se ele tem expectativas é um sinal de que acredita em você. — Ela encostou a borda do livro na nuca de Tomás. — Não te preocupas, há coisas que só fazem sentido com o tempo.
Ela foi em direção ao balcão.
— Espere! Eu não sei o seu nome.
— É Camélia. Camélia Campobelo.
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Como pétalas que caem
ParanormalAtormentado por alucinações, Tomás encontra Camélia, uma garota que todos a temem como bruxa, para lhe ajudar. Mas quando tudo parecia ser relativamente simples, um terrível acidente acontece forçando Camélia e Tomás descobrirem o que está por trás...