Tomás
O sol transpareceu na janela anunciando o amanhecer do novo dia e iluminou o imenso quarto. Mesmo com a luz em seus olhos ele não se mexeu. As palavras da jovem ainda estavam em sua mente e pretendiam ficar por um bom tempo. "Se ele exige de você é porque tem expectativas e se ele tem expectativas é um sinal de que acredita em você." Poderia ser isso? Meu pai acreditar em mim? Improvável. Ele nunca demonstrou notar meu potencial, isso se eu tiver algum.
Puxou os lençóis de cima dele e obrigou-se a levantar. Seu corpo estava pesado, as noites mal dormidas acabarão lhe matando. Só queria ter uma boa noite de sono, choramingou. O cheiro de café entrou no quarto, Tomás sentiu a barriga roncar. Não comi ontem à noite. Ele saiu do quarto, desceu as escadas e foi em direção à cozinha.
Muitas panelas ferviam no fogão de lenha, Maria olhava cada uma delas sem muita dificuldade. Com seus cabelos sempre preso por um lenço, ela comandava aquele cômodo como um castelo. Ela era a mais velha dentre os empregados, isso era evidente pelas rugas ocasionadas pelo tempo em seu rosto. Estava tão empenhada em seu serviço que nem viu Tomás entrar. Conferiu o tempero da panela que borbulhava, faltava um pouco de sal. Ela virou-se em busca do sal encontrando Tomás encostado na parede.
— Bom dia, Senhor Tomás — disse a cozinheira um pouco assustada com a presença dele ali.
— Bom dia, Maria — lhe deu um sorriso. — O que será o café?
— Estou fazendo geleia para comer com torradas, e também, estou assando bolo de milho. Ficará pronto em alguns minutos.
— Eu amo bolo de milho. — Ele pagou uma maçã da fruteira e mordeu.— Eu sei.
— E o meu pai? Já acordou?
— O Senhor Assunção saiu logo cedo, antes do dia clarear.
Tão cedo assim? Bom, por enquanto terei um pouco de sossego.
— O Senhor vai sair? — perguntou Maria quando viu ele caminhando para a porta.
— Irei lá para fora.
— Certo. Quando o café estiver pronto mandarei lhe chamar.
— Obrigado. Você é um anjo. — Ele beijou a palma e movimentou em direção à Maria.
Inácio
O estábulo era um lugar aconchegante. Cuidar dos cavalos se tornou seu refugio. Não era o trabalho dos sonhos porém atendia as suas necessidades. Quando jovem, ele brincava neste lugar junto ao filho do Assunção.
Inácio estava a cortar lenha quando avistou Tomás passar meio sonolento.
— Já está de pé? — Pegou mais um tronco da pilha de madeira.
— Não consegui dormir direito. — Fez uma expressão de sofrimento. — Tinha formigas na cama.
— Tivestes outro pesadelo? — perguntou desconfiado da verdade.
— Sim, estão sendo mais recorrentes. — Ele bocejou, o que fez ele parecer ainda mais cansado.
— Se me ajudar a cortar lenha, em instantes vai estar dormindo igual criança.
Tomás fez uma careta para a imensa pilha.
— Dispenso.
— Pegar no pesado vai lhe fazer bem. Olhe para mim. — Ele contraiu os músculos do braço.
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Como pétalas que caem
ParanormalAtormentado por alucinações, Tomás encontra Camélia, uma garota que todos a temem como bruxa, para lhe ajudar. Mas quando tudo parecia ser relativamente simples, um terrível acidente acontece forçando Camélia e Tomás descobrirem o que está por trás...