1 - Assovio

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Talia, 

Deixei passar dezesseis dias antes de resolver fazer o que estou prestes a fazer. 

Nesse tempo, apenas trabalhei e fiquei em casa, com minha avó e minha melhor amiga. Também mantive contato com meus pais, meu irmão, as meninas de Macaé e com a Mel, que me procurou para contar do término com o Ninja.

Fabi diz que não quer mais vê-lo nem pintado; ele, mesmo discurso sobre ela; Melissa, no meio, sem saber o que pensar... olha, impossível! 

Prometi a ela que passaria amanhã de manhã na loja em que trabalha, para escolher um look bonito. A ocasião é um restaurante, depois, Vitrinni Lounge. Terá show do Orochi e vamos juntas.

Fabi não topou ir comigo. Cara, ela anda muito distante de uns dias pra cá...  sempre com aquele jeito de quem tem algo revelador para contar, mas não abre a boca. Perguntei o que estava acontecendo, mas ela manteve a discrição. Teima em ser misteriosa... 

Foi a Mel quem topou curtir comigo na pista, já que aqui ela acabou revelando não poder ser vista ao meu lado. Aron a proibiu de se aproximar de mim. Era esse o motivo de seu afastamento há algumas semanas. Ele a detestava, mas não pensei que fosse para tanto. Agora que estou solteira de novo, e ela também, decidimos que não teria problema algum. Prometi não perguntar nada a ele se viessemos a nos falar, pra não gerar mais pano pra manga pra ela, mas não gostei nada dele ter feito isso. Ainda bem que nós duas nos entendemos. 

Fiquei meio assim, perguntando se ela preferia não sair comigo de todo modo, contudo ela disse que fora daqui não daria em nada. Amanhã vamos escolher as roupas juntas, se as coisas não mudarem até lá. A Vitinni é o plano B, se der tudo errado no A.

Como ela trabalhou até tarde, cadastrando mercadorias depois que fecharam a loja, minha intenção de reunir ela e a Fabi lá em casa, para me ajudarem a me produzir, falhou, o que foi bom também, porque Fabi ainda não suporta nossa amizade. Não bastasse o ciúmes do Ninja, tem ciumes de mim. 

Repetindo incansavelmente a pergunta " tem certeza de que não é muito cedo?", Fabiana escovou meus cabelos. A maquiagem meia-boca foi eu mesma que improvisei.

Não sabia se era melhor vir mais natural ou não, mas concluí que precisava ficar bonita. É a primeira vez em dezesseis dias que eu saio de casa. 

Estou sozinha no meu carro. Sim, ele foi transferido para o meu nome dias depois daquela merda de término. Ninja apareceu no mercado para me entregar os documentos e dar a notícia, tentando arrancar de mim um sorriso. Mas não seria um carro que faria esse milagre. Só voltei a sorrir no meio desta semana.

Os primeiros dias foram para me afundar de vez, quase não sobrevivo. Má alimentação, sono desregulado, desânimo... eu virei uma moribunda. Foi vovó e seus conselhos maravilhosos que me trouxeram de volta. Ela disse que eu precisava reagir, nem que fosse para fazer uma besteira, mas que ficar como uma morta-viva daquele jeito, ela não permitiria mais. 

Logico que ficou sabendo do retorno da outra e do resultado disso.

Disse que " sempre haviam outras na vida dele". E é verdade. 

Como última tentativa e como um meio de quem sabe me sentir melhor, resolvi fazer o que ela disse e me levantei, lavei os cabelos e escolhi essa roupa elegante, que é para me destacar dessas outras mulheres do morro, mostrar meu nível. Vou tentar falar com ele e depois disso... não sei o que vai acontecer! 

Eu vou aceitar de vez e tentar viver? 

Vou insistir mais?

Não sei...

Esperei, no maior sofrimento, fui forte e não mandei mensagens, não o incomodei. Mas chega. Minha avó está certa, preciso me empenhar em algo; é melhor que ficar levitando depressiva do caixa para o sofá e do sofá para a cama, sempre olhando nossas fotos, nossas conversas e o nome dele na minha pulseira. 

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