Fiquei sem resposta.
- Você se esqueceu de mim?
- Quem dera se eu pudesse, Talia. Você marcou minha vida.
- Mas então você queria se esquecer? – se perturbou, entendendo errado.
- Seria melhor.
- Não... – mexeu a cabeça de um lado a outro, o olhar desolado – Não seria melhor! Não fala assim! A gente ainda pode resolver as coisas... Eu vim aqui pra isso.
Estava agindo naturalmente ou fazendo de propósito pra me matar aos poucos a cada segundo que eu precisava passar vendo ela sem poder tocar?
Cada expressão era um chamado.
- Tu não combina com esse lugar. – digo, tentando me aprumar.
- Não importa.
Ela revira os dedos, passando os olhos pelo chão, depois lá na rua, até que os atira em cima de mim como balas de canhão.
Sou abatido, envergado.
Passo a mão na cabeça que raspei recentemente e cruzo os braços, tentando me manter sério e displicente.
- No que posso ser útil? - perguntei.
- Eu vim porque quero te dizer que... – tinha dificuldade de falar, toda atrapalhada, o que a tornava cada vez mais gostosa. E uma presa fácil.
Nenhuma mulher conseguiu matar a fome que eu tenho. Nem conseguiria, porque essa fome somente ela pode saciar.
Em metáfora, minha barriga está roncando agora.
- Diga. – olho delicadamente em seus olhos de cristais. – Sou todo ouvidos.
Eles tremeluzem na escuridão, emotivos.
A gente aprecia cada pedaço do rosto do outro por segundos silenciosos.
- Pode falar. – soltei os braços, dizendo aquilo baixinho, portanto nem sei se o barulho vindo la de dentro a deixou ouvir. - tô curioso.
Pus minhas mãos atrás das costas e me encostei no muro de novo, esperando.
Novamente, não resisti e conferi seu corpo numa só olhada.
Ela pareceu sentir aquele olhar na pele, se mexendo no lugar.
Meu gesto de me recostar parece tê-la convidado.
- Eu preciso... É... – pisou hesitante, um pé após o outro, olhos firmes nos meus, até que chegou muito perto.
Eu segurei seu olhar de cima, sentindo o paradoxo da minha mente se refletindo em meu corpo, me mandando repelir, mas também me ordenado a puxar.
- Aron... Eu não acreditei em nada do que você disse.
Quando sua mão veio ao meu rosto, um lado do meu cérebro venceu.
Quase fechei os olhos – os cílios abaixaram.
Era como uma massagem relaxante no espírito sentir aquela mão em mim.
- Vim te dizer que eu já sei de tudo agora.
- Sabe? Sabe o quê?
Ela grudou o corpo no meu, me apertando na parede, se esticando para aproximar a boca também.
Tentei me esquivar, mas com um simples toque sutil ela me fez voltar.
Eu não ia segurar essa barra.
Tava osso...
- Que tem alguém ameaçando minha vida, por isso você quis se afastar.
Essas palavras foram um balde de gelo derramado na minha cabeça.