ignosce me
O grito da mulher era agoniante, beirava a insanidade. Aquilo estava quebrando-a. O médico dizia que faltava pouco, enquanto aquela pintura pós-moderna se pintava em pinceladas repletas de sangue. Alexandre I Moretti ignorava os lamúrios de sua esposa, que estava tendo uma parte sua cortada e recortada repetidas vezes só porque o primogênito não conseguia esperar para nascer.
Monique gritava e gritava. Aquele pesadelo não tinha fim, sabias que teu marido não ligava, outrora já não sentia amor vindo de Moretti. Era opaco, mas vamos lá, Alexandre não prometeu amor, o homem de pele clara, cabelos castanhos escuros e que sua prioridade sempre foi os negócios, nunca sequer prometeu amar Monique:
Na riqueza e na pobreza, até que a morte nos separe.
Eles eram como óleo e água. Deserto e chuva. Frieza e amor. Paz e caos. Monique foi feita para amar e Alexandre foi construído para quebrar. As famílias decidiram que seria bom juntar os negócios Lopes e Moretti. Negócios tão sujos quanto os sobrenomes!
Monique aceitou ser uma boa garota e se casar com um desconhecido. Alexandre aceitou por saber que o inferno que seu pai traria a tua vida não valeria a pena. Sabia ser discreto se quisesse comer qualquer mulher, já que o homem se lambuzava dos pecados das pequenas casas que discretamente estavam nos negócios de seu pai.
O sexo era interressante na visão de Moretti: ela o endeusava como se come-lá fosse um ato do mais puro. Monique gemia e se satisfazia com o prazer de Alexandre, e bem, o rapaz gostava de ter o ego aumentado. Sabia que era o único homem de Lopes, e isso mexia consigo.
Lopes era uma garotinha de recém completados dezoito anos, enquanto Moretti já tinha seus vinte e seis anos. Ele tinha qualquer mulher aos seus pés, já Monique acreditava em esperar pelo seu marido; o homem que iria amar e respeitar.
Mais um grito e as lembranças ficaram mais claras: cada toque bruto; cada palavra fria e cortante, Moretti sequer pensou na possibilidade de amar-lá. Monique era, futilmente, uma ponta solta nos negócios do mais velho. Uma ponta solta que lhe daria um herdeiro digno, pelo sobrenome e sangue.
-Vamos Monique, teu filho está chegando- a voz do médico recuava firmemente pela mente da mulher, que parou de gritar, dando lugar ao choro inocente de seu filho. A força flui pelo corpo dela, sentia algo a chamando para longe, bem longe dali.
Alexandre I Moretti segurava a criança de maneira protetora, ninava seu filho, cantarolando uma canção antiga. Todavia seus olhos não saiam de sua esposa:
A pele clara, estava ressecada, seus longos cachos caiam delicadamente pelo rosto. Os olhos que nunca o julgaram estavam sem cor. Transmitiam morte, da mais pura e sádica. O peito não subia e descia lentamente; a voz doce não o chamou. Sequer pronunciar alguma palavra depois do choro do filho.
Algo quebradiço, frágil, explodiu no peito de Moretti. O cruel e frio Alexandre sentiu medo. Seu segurança não deixou chegar perto da sua mulher, deixando uma risada incrédula sair dos lábios.
" VOCÊS FORAM PAGOS PARA CUIDAR DOS DOIS, SE MINHA ESPOSA MORRER SEUS SANGUES IRÃO JORRAR"
Ninguém em toda era de Alexandre I Moretti viu, irá nos olhos do mesmo. Ele torturava, matava e brincava com seus inimigos, todavia, perder sua esposa não estava nos planos, e isso enfurecia o mais velho. Enfurecia porque não quis acreditar no medo, nos olhos lacrimejando por puro desespero, da criança pedindo pelo colo da mãe.
Mãe do seu filho. Sua esposa. Sua Monique.
O inferno seria um paraíso a quem deixasse a esposa do nosso queridíssimo mafioso morrer. Deus tenha piedade da alma daquele que jurou que Alexandre I Moretti não amasse sua inocente e linda esposa.
O pavor estava amargando o estômago do mais velho, enquanto ouvia os batimentos de Monique diminuírem mais.. Seu filho silenciou, estava quieto, em paz, enquanto Alexandre sentia o coração quebrar.
🌔
Monique acordou sentindo medo. Sua pele arrepiava, parecia que tinha ficado no gelo por horas e finalmente estava aquecida, numa cama confortavelmente grande.
Olhava ao redor, não reconhecendo aquele quarto: era mais escuro, a cama era maior do que a que dormia sozinha naquela mansão. Havia um berço, no canto esquerdo do quarto, perto da grande varanda. A luz da lua quebrava um pouco a escuridão daquele lugar. Monique gostou daquele conforto, mesmo com a escuridão. Lembra ele.
-Monique- a voz doce não condizia com a pessoa que chamava-a.Alexandre segurava delicadamente seu primogênito enquanto seus olhos brilhavam em direção a Lopes.
Sem pensar duas vezes, Monique chamou-o, queria segurar seu filho no colo. Acalmar o coração enfraquecido, que bombeava sem parar.
Quando sentiu a presença de Moretti ao seu lado, seu coração foi covardemente coagido a querer mais perto. Porém seu filho era mais importante que qualquer coisa naquele momento.
" Lindo - sussurrou acariciando o rosto daquele que preenche sua vida de maneira mais perfeita, a partir daquele segundo. Aos vinte anos, era a mulher mais feliz do mundo por ter dado à luz aquele serzinho - ele é sua cara, Alexandre.
-Tem seus olhos, mi amor - Moretti acariciou a nuca de Monique enquanto lágrimas caiam nos olhos dos dois - jamais pensei que sentiria medo. Fui criado sem isso . Medo enfraquece os Moretti.
" Mas quando vi você sem vida naquela maca, desejei até o último homem vivo que o sangue daqueles que te tiraram de mim iriam jorrar"
Os olhos carmim arregalaram de surpresa. Alexandre I Moretti estava dizendo que ia perder- lá. Estava chorando, mesmo a vendo viva a sua frente.
-Pensei que Alexandre I Moretti não amava ninguém- sussurrou enquanto o mesmo colocou seu menino no berço Viu os ombros do mais velho ficarem tensos, enquanto os lábios de Monique diziam:
" Não ame aquilo que vai lhe matar. - a doce Lopes sussurrou sentindo o nó na garganta aumentar- O que fez finalmente ver que me amava?"
-Eu te amei no mesmo minuto que a condenei - gaguejou olhando nos olhos daquela que jurou odiar- te amei quando te fudi pela primeira vez, quando a vi matar para me salvar, e se condenou por tirar a vida de um verme
" Amei seu perfume preso no meu corpo! Monique eu sou covardemente e infinitamente apaixonado por você. Matei e mataria por você, queimaria uma cidade inteira por você. Você é minha destruição!"
-Posso ser sua salvação, Alexandre. E governar teu império junto a ti- o grande dono de toda um império de sujeira sentiu a pele se arrepiar completamente. Cada molécula dos dois se tornou grande e poderosa. Monique e Alexandre estavam finalmente deixando o ódio de lado, e fortalecendo aquilo que os matava. Paixão, amor, desejo.
Ali, Monique Lopes se tornou Monique Moretti. A dona da empresa mais suja do país. E Alexandre I Moretti tornou-se o homem mais feliz daquela cidade. Juntos, ninguém os quebraria.
E Alexandre II Moretti Lopes seria a pessoa mais protegida do mundo graças aquela noite.
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Ignosce me | Perdoe-me
RomanceA jovem sentia tudo queimar, em faíscas do pobre coração que ainda bombeava no seu peito. Era quebradiço, era mágoa misturada com alguma coisa densa demais, era amor. Ah, era um coração tão jovem quebrado. Ela tentou consertar, costurando igual sua...