Eu olhava o chiqueiro dos porcos com a atenção de um cientista olhando para o seu grupo de pesquisa.
一 É ela, moço, tô dizendo!
一 Não é não! Seu besta! Não sabe que a filha dela tá doente, e por isso ela não tá vindo? O pequeno homenzinho ao meu lado cismava que o porco maior era nossa professora. A coitada não podia faltar uma semana sem que uma dessas lhe acontecesse.
Estávamos numa expedição. Nossa turma fora levada para conhecer uma faculdade local; como esta tinha cursos de Agronomia e Medicina Veterinária, havia currais para animais de todos os tipos. Nós, os meninos, ficamos bastante animados com o lar dos porquinhos; mas o diminutivo é um eufemismo; eram animais com cinco vezes nosso tamanho e peso, grandes o bastante para nos engolir se assim o quisessem. Tanto por isso, a professora substituta nos impedia de chegar muito perto das cercas.
一 Já te falei, moço. Quando é assim, o destino é um só! Lembra que ela tava discutindo com a coordenadora?
一 E o que tem isso? Respondi indignado.
一 Lembra o que aconteceu com o menino que foi expulso?
一 Lembro, ué. Todo mundo sabe o que acontece quando alguém é expulso. Ele virou cadeira e tá preso no depósito!
一 Mentira que não é assim!
一 E é como, então?
一 Assim, ó, olha ele ali!
一 Ali onde?
一 Ali, rapaz, o porquinho pequeno, mancando. Tá vendo que ele tá com um machucado na pata? O Luís tinha bem ralado o joelho antes de ser expulso! Tô te dizendo, moço. Tia Geralda ficou brava com ela e transformou tia Zani em porca!
Não havia contra-argumento para aquilo. Imediatamente comecei a chorar. Eu chorava bastante quando criança, mas daquela vez era diferente; eu a razão era forte para. Afinal, minha professora favorita virara uma porca! Inadmissível; algo deveria ser feito!
一 Por que você tá chorando? Ei, bestão, para com isso! É bom que a gente vai ficar sem aula! Neste ponto, peço que perdoem esse meu colega. Como fosse ainda muito pequeno, não raciocinava bem o suficiente para entender que, havendo uma substituta, as aulas continuariam normalmente. Algo devia ser feito para salvar a professora, e eu já sabia o quê.
一 É tudo... culpa... da velha! Minha voz era cortada por soluços.
一 E você vai fazer o quê?
一 A gente tem... que forçar ela a devolver tia Zani!
一 Tá maluco? Eu não! Vai que eu viro porco também...
Neste momento, tia Geralda vinha em nossa direção. Era a minha chance! Eu iria obrigá-la a devolver a professora, nem que para isso tivesse que imprimir toda a força dos meus músculos potentes.
一 Devolve... Devolve ela... Devolve ela, devolve pra mim! Eu chorava e empurrava a coordenadora com tanto desespero, que ela foi obrigada a usar contra mim a sua tática final.
一 Que é isso, Guilherme? Devolver o que? Sua mochila? Já te falei que ela está bem guardadinha, pode ficar tranquilo; A tia vai cuidar bem dela, viu?
一 Não... não é... não é isso, não!
一 É o que, meu filho? Olha, toma aqui um pirulito, toma...
Peguei o pirulito e esqueci minha preocupação. Contra aquela tática eu nada podia fazer. No entanto, a história teria sido bem diferente caso eu soubesse para onde vão os porcos depois de criados... Neste caso, seria preciso ao menos uma bola de sorvete para frear minha arrebatadora investida.
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A molecada
Historia CortaDe um esqueleto pirata ao primeiro amor. Desbrave o caminho entre a infância e a fase adulta!