Paperback Writer

California/New Forest

A noite corria enquanto o peso de ter tomado aquela decisão preenchia minha mente. Ponderava a opinião das pessoas ao meu redor, minha mãe adorava a ideia pois seria uma nova forma de apresentar meu trabalho, talvez a maior de todas e eu honestamente não queria perder essa oportunidade. Mas em contrapartida, me isolar em uma casa com alguém que eu desconhecia me parecia a coisa errada a se fazer naquela circunstância. Quer dizer, era a coisa errada a se fazer em qualquer momento da vida.

E se eu não me desse bem em nenhum aspecto com a outra pessoa? Se fossemos completos extremos? Se nos odiarmos?

Bom, eu sempre tratava de pôr em minha mente o quanto a grana seria boa, ou a visibilidade que ganharia com esse trabalho, mas o medo era maior que qualquer outra vontade.

O silêncio na rua agora era ensurdecedor, ele fazia minha mente gritar mil e uma possibilidades diferentes, de coisas boas e ruins, porém o sono nunca chegava. Olhava o passar das horas pelo relógio em meu pulso, pensando que definitivamente eu deveria dormir, já que o dia que viria seria intrigante. Mas apesar do apoio vindo da minha família, alguns amigos não gostaram muito da ideia.

Karen era completamente avulsa a situação, iria me apoiar no que eu decidisse. Brandon não achou a ideia muito boa, ele temia pela minha segurança.

E tinha o Ian que era completamente contra, assim como qualquer coisa que eu quisesse fazer. Já não estávamos juntos há bastante tempo e a possessão que ele sentia, ou o direito que ele achava que possuía sobre mim não havia ido embora. Nunca fui muito ciumenta, pelo contrário, perdoei várias de suas traições, até chegar ao ponto de não conseguir mais aguentar e finalmente me ver livre de alguém como ele.

Ian era um cara legal, me fazia sentir o amor em formas que eu nunca imaginei. Sua forma de agir, de pensar, eram completamente unificadas com as minhas. Só não imaginava que ele fazia o mesmo com outras trilhões de garotas.

Quando descobri e questionei sobre isso, Ian foi sucinto em dizer que havia um transtorno de personalidade histriônica, onde ele tinha uma necessidade excessiva de atenção. Eu o amava, e por vezes o acalentei, tentamos buscar ajuda, e no fim, num belo dia de uma consulta comum, minha psicóloga me fez perceber que apesar dele possuir um transtorno, aquele não era o motivo de traições e etc, e que ele havia se apropriado de uma condição séria e me feito de trouxa todo o tempo. Tentei acreditar e pensar que Ian agia como se tudo isso fosse realmente inconsciente, mas nada nunca mudava, mesmo com os acompanhamentos e remédios. Por meses achei que o erro era completamente meu em ter aceitado tudo aquilo e só depois de muito trabalhar meu psicológico, entendi que fui manipulada pelo Ian, assim como todas as outras garotas que ele jurou amar.

Conforme refletia mais uma vez sobre aquilo, fui adormecendo e acabei tendo um sonho sem sentido.

Um corpo, indefinido, sem rosto, sem sexo, estava parado a minha frente, gesticulando para que eu chegasse mais perto. Olhei à minha volta e não havia nada naquele lugar além de uma névoa espessa e o ser. Me senti lutando contra uma versão dark de mim, como o Link em "Ocarina Of Time". Cada passo que eu dava tinha a sensação de que o chão iria desaparecer e o corpo me atacaria com alguma coisa. Mas nada aconteceu. Meus olhos encararam a distorção que era sua cabeça, hora cabelos grandes e loiros, hora curtos e brancos, hora sem cabelo. Ele parecia me olhar, mas como saber se a coisa não tinha olhos? A sensação era horrível, não conseguia gritar, ou falar, só minhas pernas pareciam querer reagir e elas queriam ir em direção ao ser mesmo que eu tentasse refrear. Então estávamos muito próximos, a mais ou menos vinte centímetros um do outro. A voz que não era dita queria gritar para que eu corresse, pois aquele seria meu fim, mas eu estava enganada. O corpo esticou seus braços, me convidando para uma trégua. Timidamente, entrei naquele abraço e senti calma, como se nunca a tivesse sentido antes.