O lago

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Organizei as caixas e pedi ajuda ao querido porteiro Carl. Depois de tudo organizado na mala do meu carro, coloquei Camille em sua caixinha de transporte e pegamos a estrada. No caminho fui escutando uma playlist que o Marcus havia feito para mim intitulada - Dia da mudança- e, Jesus Cristo!

Tinha de tudo lá. Rock, reggae, pop, k-pop, country, e eu incrivelmente conhecia todas as músicas. Era uma viagem longa, então eu aproveitei todas as faixas sem pular nenhuma.

Há cinco anos morava no sul da Califórnia, numa cidade próxima a Los Angeles chamada Newport Beach, mas toda a minha família, incluindo a mim, foi nascida e criada na Carolina do Norte, muitíssimo diferente de onde eu me encontrava agora, a começar pelo clima. Estava mudando completamente de área novamente, saindo do calor do sul para uma pequena cidade chamada Priest River, no Condado de Bonner, Idaho. Lá era extremamente pacato e com uma população menor que mil e oitocentas pessoas, segundo minha pesquisa no Google. Porém, a grande jogada era que, como lá é muito calmo, seria perfeito para se concentrar em algo. Mais uma variante de que isso poderia ter um final como o filme do Lars Von Trier.

Marcus havia nos disponibilizado uma de suas casas em frente ao lago que dá nome a cidade. A verdade é que, depois de alguns anos morando na Califórnia, você se acostuma com a agitação. Por isso o medo de não me adaptar e afins. Eu sempre tenho medo de tudo que é novo, então, imaginem.

Vinte horas de viagem não é para qualquer pessoa e eu ainda nem havia passado da metade. Estava cansadíssima ao fim do dia, e resolvi parar em um hotel para dormir um pouco. Além do que, Camille estava super agitada em sua caixinha.

Aluguei um quarto, comprei algo para comer em uma conveniência ao lado do hotel e subi pesadamente. Depois de soltar Camille e colocar sua comida, deitei na cama, sem banho mesmo e apaguei.

Não sonhei, fiquei inquieta, ansiosa. Ao acordar vi Camille dormindo ao invés de ter me acordado, pela primeira vez desde que estávamos juntas. Achei estranho e ao verificar o porquê, para meu alívio, ela só estava tão cansada quanto eu. Arrumei tudo, tomei banho e um café da manhã reforçado e voltamos para a estrada.

Mais dez horas de viagem e estaria em meu destino. Agora tocava em minha playlist "You only live once" do The Strokes. Sabia que o Marcus a colocaria ali propositalmente para minha própria reflexão sobre fumar. O clipe da música faz alusão a um pulmão sendo infectado com nicotina. Dei um sorriso cínico e acendi mais um cigarro. Que o Marcus fosse a merda, fumar me acalmava e colocava meus pés onde eles deveriam estar.

Já havia tentado largar o cigarro, mas foi uma situação horrível. Irritação severa, agressividade e nada funcionava para que passasse. Sempre fui uma pessoa propensa a vícios. Bebi muito por anos e parei após a morte do meu pai, causada pela mistura de álcool e volante. Deixei de dirigir durante algum tempo, até sentir que precisava ter um carro. Só voltei aos vinte e sete e o Ian estava constantemente ao meu lado, caso contrário não conseguia sequer engatar a primeira marcha.

Hoje, não sinto mais como se o cigarro fosse um vício. Ele é um companheiro. Um mau companheiro inclusive, mas que sempre está ali para me acalmar. Não sou de romantizar vícios, pelo contrário, abomino todos, mas para mim, era melhor vê-lo dessa forma do que como apenas um pedaço de papel e nicotina.

Por um momento pensei no novo Alex. Será que ele ficaria incomodado se eu fumasse perto dele? Enfim, ele teria que se acostumar, eu fumava enquanto escrevia. Parando pra pensar, ele teria que se acostumar com muita coisa.

***

A casa era gigantesca! Tinha dois quartos na parte de baixo e mais três quartos no primeiro andar. Era exageradamente grande. O motorista simpático me ajudou mais uma vez com minha mala e ainda bem que ele era gente boa. Ficar rodando procurando o lugar por quase quarenta minutos não deve ter sido muito legal.

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